domingo, 15 de setembro de 2013

Quinze segundos

Na minha pós-adolescência, minha turma tinha uns 16 integrantes e todos faziam umas brincadeiras um tanto infantis.
Quando jogávamos tênis na SOGIPA, a Sociedade de Ginástica Porto Alegre, nossas roupas ficavam penduradas em cabides expostos. Naquela época, em um clube como este não ocorriam problemas com furtos, logo não havia necessidade de ter armários com chave. Era seguro, no entanto, entre nós, a sacanagem corria solta. Era costume esconder as roupas uns dos outros e se divertir com as vítimas procurando, enquanto os “criminosos” faziam a maior a cara de santo.
Certa vez, eu escondi muito bem as calças do argentino Roberto, mas naquele dia, o meu jogo terminou muito antes do dele. Fui para o vestiário, me arrumei e voltei para a casa esquecendo-me da molecagem. Após o término do seu jogo, ele procurou, procurou e evidentemente não encontrou. Eu não era o mais praticante de sacanagem, mas quando fazia, eu caprichava. Ele me ligou perguntando se eu sabia de alguma coisa. É claro que neguei, caso contrário, não haveria a menor graça. Como eu percebi que ele teria que ir para a casa com o uniforme do jogo de tênis e o que é pior sua roupa poderia ser encontrada por outra pessoa e, mesmo com a segurança do clube, sei lá o que poderia acontecer, resolvi explicar onde estava. O fato é que ele não entendeu, e olha que falava muito bem o Português. Assim com a consciência de que toda brincadeira tem limites, tive que voltar à SOGIPA para devolver seus pertences. Ainda bem que eu morava perto.
Toda a história acima é apenas para a introdução do que quero contar.
Na turma, nem todos jogavam tênis, o alemão de origem chamado Half praticava arremesso de martelo. Para quem não sabe, o martelo é uma pesada bola de ferro presa por uma corrente e o objetivo do atleta é arremessá-lo o mais longe possível. Dá para imaginar, então, que o cara não era nenhum fracote. Como em qualquer época o perigo faz parte da emoção, fica óbvio saber quem era nossa principal vítima nas traquinagens.
Para aumentarmos sua ira, nós o chamávamos de “Aralf” tentando imitar um sotaque alemão.  Não é preciso dizer que ele detestava.
O clube tinha uma sala de cinema onde passou muitos filmes bons. Porém, teve um Domingo que o filme era horrível. Aos poucos, todos foram saindo do cinema. Quando chegou ao meu limite de paciência, levantei e me dirigi à saída. Porém, uma cena inesperada. Half estava sentado em uma poltrona junto ao corredor e sua mochila estava no chão. Naturalmente que a tentação foi muito grande e eu não resisti. Não satisfeito com a sacanagem que estava prestes a fazer também “zoei”.
– Vou pegar “o mochila da Aralf” – eu disse.
– Vai levar porrada – disse ele.
Abaixei-me suavemente, peguei a dita e sai caminhando calmamente até a saída do cinema. Half parecia estar gostando do filme, pois não veio atrás de mim. Quando encontrei a turma no local de sempre olharam para aquilo na minha mão e se espantaram.
– O que é isto? – perguntaram mesmo sabendo a resposta – Ficou maluco?
Entretanto, o espanto terminou muito rápido, arrancaram a mochila da minha mão e antes que eu fizesse qualquer coisa iniciou a sacanagem. Um dos mais sacanas, apelidado de Elefante Branco, sem dó nem piedade, virou uma garrafa de 300 ml de refrigerante dentro da mochila. Este não era o meu estilo, eu não praticava vandalismo, mas a caca já estava feita, pois alguns não tinham limites. Ainda por cima, o que eu não sabia é que dias antes, os mais sacanas já tinham pego as roupas do Half e dado nós terríveis de desatar. Como seu senso de humor era inversamente proporcional a seu tamanho já dá para imaginar como ele estava.
Quando terminou o filme, ele veio até nós, ou melhor, até mim, lógico que imaginando onde iria me jogar, pois naquele momento, que eu era um martelo ele já tinha certeza. A fúria era tão grande que a pessoa que estava com a mochila não se apresentou e obedecendo ao código de honra eu não dedurei mesmo que isto custasse minha vida. Foi formado um círculo e para minha sorte o Aloísio, conhecido como Gordo, ficou entre eu e o Half.
– Onde está? – perguntou ele.
– Não sei – respondi.
Então veio o primeiro soco. Só que naquela época eu era muito ágil e como o torpedo veio em curva contornando o Gordo, eu consegui saltar para trás diminuindo o impacto.
– Onde está? – perguntou novamente.
– Não sei – repeti a resposta.
E veio o segundo soco. Novamente foi um míssil curvilíneo, mas foi tão forte, que mesmo de raspão quase derrubou o Gordo e a minha agilidade de pular outra vez não foi o suficiente para não sentir o golpe. Meu sangue ferveu, e sabemos que com a cabeça quente fazemos atos de verdadeira burrice. Esqueci o tamanho dele e parti para cima. Minha reação foi tão surpreendente que Half não soube o que fazer, apenas tentou se defender, pois nunca apareceu um louco capaz de enfrentá-lo. Foram quinze segundos de golpes repetitivos para cima dele. Ele usava óculos, os mesmos que voaram para longe. Sua camiseta também rasgou. Não se bate em homem de óculos, mas aquilo não era homem e sim um animal, uma fera ferida. Quando ele se deu por conta do que estava acontecendo e viu seus óculos quebrados no chão, ele acordou e pareceu o incrível Hulk. Foi ai que os demais também saíram do estado de choque e entraram na parada para apartar. Sete dos meus amigos se agarraram nele e ele os arrastava pela ruazinha do clube enquanto o Pacheco, infelizmente já falecido, me puxava pelo braço gritando:
– Vem seu louco, vem.
Eu não sei até hoje porque eu queria mais briga, mas acredito, que se não fosse pelo Pacheco e outros sete amigos, eu não estaria aqui contando esta história. Não me orgulho do que fiz, mas foi questão de honra e sobrevivência e claro, burrice, pois naquela época, eu corria mais do que qualquer um da turma em estado natural, imagina apavorado.
Dias depois, Half que já tinha me jurado de morte, voltou a ser meu amigo. Afinal, minhas porradas não mexeram com a estrutura dele, e é melhor óculos quebrados do que ossos, os meus é claro.
Quanto as roupas, ficou tudo explicado pelos outros integrantes e o Elefante Branco, por motivos óbvios, sumiu do clube.
Por causa dos meus quinze segundos de glória fui lembrando por um bom tempo como o cara, ou o maluco, que enfrentou o “Aralf”.

Caro Half, se tu leres isto e um dia nos encontrarmos, lembre-se que ficamos amigos, OK?

42 comentários:

  1. Bom dia querido Claudio Chamun, que bela recordação!

    Poxa, você escapou de ser triturado pelo Half,
    foi muito corajoso mesmo. Quinze segundo, quase lhe custa a vida, mais hoje se transformou numa bela história!
    Tenha uma seguna-feliz! Juízo viu?

    bjs1

    Maria Machado

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  2. Ich erinnere mich an Sie, aber ich glaube, ich hatte gebeten, nicht diese Geschichte niemandem erzählen ... Waffenstillstand beendet!

    Ihr Freund, Half

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    1. kkkkk
      Fico imaginando qual o sem vergonha que se presta para criar um fake para me assustar.
      Por via das dúvidas, contratei 2 seguranças formados em UFC.

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    2. kkkkkkkkkk q fake mais tosco, nem se deu ao trabalho de escrever Half kkkkkkkk

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  3. Ufa, que bom que escapou do Aralf!
    Cabeça quente faz a gente fazer coisas que nem imaginava mesmo (e também faz a gente ter muita história pra contar!).
    bjs

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  4. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    "perde o amigo mas nao perde a piada" né? Adorei a história.. e bem criativo quem fez esse perfil ai de cima. kkk


    http://nakitaaraujo.blogspot.com.br/
    beijo

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  5. Caro Half, se tu leres isto e um dia nos encontrarmos, lembre-se que ficamos amigos, OK?

    tudo isso é medo, Claudio? rsrsrsrs

    Adorei ler mais essa crônica... acabei me lembrando de certas brigas de escola em que me envolvi. E olha que sou menina rsrsrs

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  6. Hahaha, muito divertida a história. Cuidado com o Half.

    Lápis,Papel e História
    Sorteio

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  7. haha se fosse eu nem passava perto desse Half, vai que eu aprontava uma com ele também rs
    beijos

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  8. Tu era valente, hein? Marmoço! Hahahahahaha!

    Beijão!

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  9. Hay que tener cuidado, a veces no siempre las bromas acaban bien, pues todos no las encajan de la misma manera. Un ABRAZO

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  10. Olá, tudo joia?!
    Está lindo seu blog, já estou te seguindo...
    Segue o meu tbm, eu iria adorar!!!
    http://manyelly.blogspot.com.br/
    http://www.pinterest.com/manyelly/
    Sucesso para você!!!
    Bjo

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  11. Oi meu amigo que saudade estava de visitar o seu blog, me perdoa por ter sumido mas a minha adora tia colocou um virus no meu pc, pode creer, eu ainda nao rsrsr. Mas como sempre vc arrazou no texto, eu fico boba como vc consegue fazer uma historia tao boa assim. Cuidado com os halfs da vida hen. um abraço nos leemos

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  12. Não acho legal esse tipo de brincadeira mas numa turma de amigos isso acontece. Ficou engraçada e bem escrita a história, como sempre. Parabéns e cuidado com o Half.

    Últimos dias para concorrer ao livro "A Culpa é das Estrelas" no blog: petalasdeliberdade.blogspot.com .

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  13. Adorei, muito valente kkkk

    http://inspiracaoentrelinhas.blogspot.com.br

    :*

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  14. Nossa será que naquele tempo tinha a história do
    menino maluquinho...rsrsrsr acho que era vc, e que
    valentia heim queria ter visto essa briga, mas ainda bem que
    tudo terminou sem muita quebradura né , mas que vc era
    bem travesso ah isso era rsrsrsr
    Coisas de juventude que passa e não volta mais
    abraços e até a próxima travessura rsrsrssr

    Bjuss

    └──●► ¸.·*´¨) ¸.·*Rita!!

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  15. Claudio,
    Como você fazia desordem na vida dos outros e seus colegas faziam a mesma coisa (Risos). Mas um lição você levou né? Não mexa com pessoas que são maiores e forte que você quando es pequeno (Risos). Mas ainda bem que ele foi legal com você e confiou e virou seu amigo de novo rs.

    Abraço!

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  16. KKKKKKKKK, cade os seres humanos gente!? kkkkkkkk. Tá vendo kkkk. Boa historia, e o final então kkkkk! Depois eu defendo a ciência na comprovação de que seres humanos são predadores e vêm jornalista predador me predar dizendo que ser humano é preza. kkkkkkk, olha só pra tua história, hilária, kkkkk. Boas risadas aqui.

    Grande abraço professor!



    Professor Claudio´, grata pelas palavras.

    É um assunto sem dúvida de indignar, pois é inadimissível.

    adorei seu comentário, me acabei de rir aqui com o desfecho que você daria para a história!

    Bom se já que queria um final mais tragico vou da-lo a você. Esse cidadão morreu, mas não foi caido do telhado não, ele teve um cancer! E dias para refletir.

    A vida é tão simples.
    Professor uma semana iluminada a ti.
    Um grande abraço!

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  17. Interessante.
    Gostei do teu estilo.

    um grande abraço.

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  18. adorei o texto! ri muito!
    que bom que conseguiu se safar do Aralf né?!
    Beijos!

    www.fashionfrisson.com

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  19. Jesus que loucura hahaha. Mas enfrentar o 'grandão' faz parte. Nunca fiz isso, mas já levei surra de uma 'amiga' na escola... quer dizer uns 3 anos depois eu revidei. Não me orgulho disso, mas um sorriso maroto sempre aparece kkkkkkkkkk. Beijos

    http://utopianongrata.blogspot.com.br/

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  20. kkkk mas tu tbm aprontou hem???? Muito bom ler estes relatos..bons tempos sem duvida.

    ps: ainda bem que ficou amigo do Half rs.

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  21. Para participar da entrevista basta enviar um e-mail confirmando a intenção para:
    cafeentreamigos1@gmail.com

    será um prazer te-lo no meu espaço.

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  22. Valentão hein kkkkkkkkkkkkkkk
    Ótimas recordações meu amigo!
    Beijinhos...

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  23. Oi Claudio!!!

    Lendo seu texto eu dei boas gargalhadas!!! rss Você era terrível, hein? rsrssssss


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  24. Pós adolescência? Na época da facul? Não entendi!
    Bjs - Suzana Rosa - www.rosachiclets.com.br

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  25. Passando para agradecer sua presença consta em nosso espaço, seu blog é ótimo e os textos são perfeitos. Desejo muito sucesso.

    Beijos!!!

    http://www.lucyemascarenhas.com/

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  26. Olá amigo!
    Saudade de suas crônicas.
    Nada como as boas lembranças da juventude... sem preocupações, mas também sem uma gotinha de juízo, né?! rsrsrs...
    Gostei também do retorno (ainda que fake) do Aralf.
    Um grande abraço,
    Abigail (Cantinho da Biga)

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  27. kkk quanta história bacana, bom relembrar...ótima quinta feira
    www.bybeiju.blogspot.com.br

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  28. suas história são demais
    Gosteiii
    http://contosagarotameroko.blogspot.com

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  29. kkk Juventude é isso, é diversão e experiências que levaremos para toda vida.

    Abraços

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  30. Oi Claudio
    Muito boa a história! Eu também aprontava muito na Escola kkkkkk, mas eu não era da turma que batia nem apanhava, eu era da turma que corria kkkkkkk.
    Bjos.

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  31. Oi Claudio ...

    Só vc mesmo !!!
    E obrigada pela preocupação em me convidar a ler histórias alegres e divertidas ...
    Bjokas e um excelente fim de semana
    Silvana
    http://srxlembrancinhas.blogspot.com.br

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  32. Nossa Claudio, voces não eram fácil mesmo hein! rachei de rir ao ler a história, conheci poucas pessoas "sem limites"rsrsrs

    Bom fim de semana

    http://ezequiel-domingues.blogspot.com.br/
    https://pt-br.facebook.com/ezequiel.dominguesdossantos.7

    Ezequiel Domingues

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  33. Bom final de semana
    Abraços

    └──●► ¸.·*Rita!!

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  34. Boa tarde Menino Maluquinho ! rsrs
    Homem corajoso você hein! Gosto de entrar aqui em seu espaço e sentir essa alegria, salve! Já fui assim, e as vezes, ainda sou, rs.

    Mega ultra abraço,
    Do amigo gago e careca,
    Daniel

    http://gagopoetico.blogspot.com.br/

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  35. Oh, você tem um passado que te condena então, Chamun. Se não fosse você contando, acho que eu não acreditaria, hahahhaha. Uns podem ter dito burrice, mas eu vejo como coragem enfrentar alguém maior que você. Como eu sempre fui mais alto que outros, não tive oportunidade de ganhar esse status.

    Abraço

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  36. Ri tanto desse trecho: "[...] eu corria mais do que qualquer um da turma em estado natural, imagina apavorado". Hahahahahaha!
    Ótima história Chamun! E, por mais que vc ache que tenha sido burrice enfrentar o grandão, diz se não é sempre bom relembrar dessas loucuras que a gente faz? ;D

    Grande abraço!
    La Vie d'Lee

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