sábado, 25 de janeiro de 2014

Sampa


São Paulo me acolheu por três anos.
Hora eu me sentia um invasor, hora um raptado. Este sentimento é devido a duas coisas; Uma é que fui um tanto forçado a ir para não perder o emprego em uma época, situação e idade que não me permitiam loucuras e a outra é porque não me sentia parte da terra.
Aos poucos fui percebendo que havia muitos como eu. Aliás, era o que mais tinha. Paulistano da gema era praticamente a minoria naquela cidade que é deles, mas habitada por gente do próprio estado, Brasil e do mundo.
O fato é que minha vida mudou consideravelmente.
Eu conheci muita gente boa. Tanto os paulistanos, como paulistas, outros brasileiros e as vezes até estrangeiros fizeram minha convivência em Sampa muito mais agradável.  É claro que também tem muita “mala”, assim como em todo lugar e de todos os lugares. Evidentemente que eu prefiro me lembrar dos legais.
Com o tempo, vi que São Paulo era uma cidade normal apesar do tamanho. “Pera aí”! Normal um tomate!  Em Sampa a gente vai do céu ao inferno em instantes. Conheci muito paulistano querendo ir embora e outros muitos que já foram, mas querem saber?  Tem muita gente de outros lugares querendo entrar. É um fenômeno curioso.
Eu vivi uma espécie de amor e ódio. Entretanto, aprendi a usufruir dos benefícios que a cidade proporciona. 
Para quem não conhece, Sampa é indescritível. Não há cidade no Brasil que dê para comparar.
É necessário ver presencialmente, viver lá.
São Paulo me deu um presente, a minha amada Fabrícia que é paulista, mas não é paulistana. Parece que tive que ir morar lá para conhecer a mulher que mudou minha vida.
Perguntaram-me algumas vezes se eu voltaria. Sempre respondo que não está nos meus planos, mas não nego.
Eu amo o meu Rio Grande do Sul e gosto de morar aqui, mas posso dizer que a saudade existe.
Para Sampa com todos os seus defeitos e qualidades... FELIZ ANIVERSÁRIO!

domingo, 19 de janeiro de 2014

O sonho de uma paixão

Valquíria é uma pessoa especial, além da sua pureza de espírito, que é um dom, ela também é muito bonita e inteligente. Na linguagem machista isto não é possível, mas a atualidade mostra que a mulher pode ser linda e estudar física quântica.
Sua beleza é unanimidade entre os homens, mas Valquíria é uma mulher, e pertencendo a esta maravilhosa classe, mesmo sendo forte, é sensível e romântica como a maioria.
Narciso, colega de empresa que também faz sucesso com o sexo oposto, chama sua atenção.
Valquíria acha Narciso o mais bonito da empresa e encanta-se com seu jeito, e muito atraída por ele, ela se apaixona.
Porém, no que se refere às conquistas amorosas, Valquíria não é de tomar iniciativas e fica muito na sua. Entretanto, ela não precisa esperar muito. Logo, Narciso descobre seu perfil no Facebook e a adiciona.
Como a maioria dos homens que só pensam em fazer escore, Narciso inicia o assédio. Em conversas no chat ele lança todo seu charme. Valquíria que está carente se encanta com a beleza e o charme do rapaz. Narciso a elogia sem parar. É tudo que Valquíria precisa ouvir.  Ele não deixa um dia passar sem um elogio. Insistentemente ele a chama para conversar pela rede social, ela hesita devido ao trabalho, mas acaba sempre respondendo. Este flerte dura um mês, até que ambos, separadamente, são convidados para uma mesma festa.  Trata-se do aniversário de um amigo em comum.
Valquíria, ao chegar à festa, tem uma surpresa desagradável. Ela avista Narciso acompanhado por uma bela garota.
Valquíria finge ignorar e percebe que ele passa o tempo todo olhando para ela. O mais incrível é que a bela acompanhante também observa Valquíria como se soubesse da cumplicidade deles. Esta moça é a namorada de Narciso. Ele, em momento algum, falou desta situação para Valquíria.
Na segunda-feira, Valquíria é quem surpreende Narciso e o chama na rede social. Sem se mostrar muito decepcionada e quebrando protocolos, ela toma a iniciativa e solicita saírem para conversar. Meio surpreso, Narciso achando que ela nunca mais conversaria com ele, aceita.
Depois do expediente, não tendo lugar apropriado, eles vão para um Drive-in de um fast food. Valquíria, carente e já muito envolvida por ele conta a sua vida. Em um golpe rápido e certeiro, Narciso rouba um beijo. Valquíria fica sem fôlego e impressionada mais ainda, acaba correspondendo.
Nesta noite, cada um vai para a sua casa.
Uma semana depois, mais exatamente em uma quinta-feira, ele a convida para ir à sua residência. Ao chegar, Valquíria fica admirada com o cenário. A piscina, petiscos, um bom vinho e como não poderia faltar, músicas românticas. Narciso cuidou pessoalmente de todos os detalhes. Eles ficam boa parte da noite conversando e namorando como dois adolescentes. Ele revela estar totalmente apaixonado por ela.
Para Valquíria, aquele é um dos momentos mais românticos que ela já viveu. Então, vão dormir. Ela ainda não se sente preparada para uma noite mais quente. Narciso, respeitando este momento, não insiste e eles adormecem um ao lado do outro. Passado mais uma semana, eles se encontram novamente, desta vez na casa dela. Com os encontros anteriores e a cumplicidade no in box do Facebook, Valquíria está cada vez mais apaixonada e se sente muito íntima de Narciso. Nesta noite ela não resiste ao romantismo e às investidas dele e se entrega em uma das melhores noites de amor de sua vida. Sua paixão por ele é tão imensa que parece não se importar de estar participando de um triângulo amoroso. Ele revela que Valquíria está sendo avassaladora em sua vida. Porém, ao contrário dos príncipes e princesas que vivem felizes para sempre, o conto de fadas parece chegar ao fim.
Valquíria, além de ter que dividir Narciso com a outra, passou a se rivalizar também com o trabalho dele. Narciso começa a trabalhar de madrugada e fica totalmente absorvido pelo emprego. Sem tempo para se dedicar a Valquíria, porque os fins de semana, ele reserva para a namorada, ela se sente isolada e carente. Valquíria envia mensagens românticas pelo celular, mas ele não responde. Então, mesmo muito envolvida, decide dar um fim no pesadelo que outrora foi um sonho.    
Narciso viaja a trabalho, e quando retorna procura por ela. A viagem o fez entender que Valquíria poderia ser a mulher dos seus sonhos. Entretanto, ela já havia acordado para a vida. Depois de sofrer e se sentir rejeitada, Valquíria se acostumou a viver sem ele. Narciso fica indignado, não aceita, não quer perder, mas ela permanece irredutível na sua decisão. Embora não totalmente livre da paixão, Valquíria o dispensou sumariamente. Ela não é mulher de ficar em segundo plano, não pode ficar guardada em um armário à espera de um homem sem decisão.
Ela segue sua vida enquanto Narciso fica se lamentando pela mulher que perdeu.
Certamente, romântica como ela é, passará por outras aventuras de amor, mas isto é outra história.

Este conto foi escrito em parceria com minha querida amiga Cledi Lima.

Eu fui entrevistado pela blogueira Magda Moreira no Agenda dos blogs. Quem quiser dar uma conferida, clique ==> AQUI

domingo, 12 de janeiro de 2014

Moradores de rua

Esta semana eu vi um episódio de Law & Order.
Comentar sobre filmes não é o meu forte, mas este caso em especial me chamou muito atenção.  Eu sei separar muito bem realidade de ficção, pois eu mesmo sou um criador de estórias. Entretanto, sabemos que a vida cotidiana é base para muita coisa das telas, e não sendo coisas extras super megas sobrenaturais e um mocinho matar 50 bandidos com um revólver e duas balas, é plenamente possível, que casos retratados no cinema ou televisão, tenham realmente acontecido.
O caso foi que uma mulher atropelou um morador de rua, omitiu socorro e a vítima acabou morrendo. Porém, o pobre já estava com uma hemorragia, causada por uma briga, por causa de uma laranja, com outro morador de rua, horas antes do atropelamento. E esta foi a causa da morte.
O fato é que o morto poderia ter sobrevivido se a mulher tivesse feito o socorro, ou se os guardas que apartaram a briga tivessem o levado para o hospital. Estes guardas deixaram os brigões de lado para atender outro chamado, pois “pessoas normais” têm prioridade sobre morador de rua.
A mulher, por ser primária, foi condenada a serviços comunitários pelo crime de omissão de socorro sendo inocentada da morte. Já o morador de rua foi condenado a 8 anos reclusão.
O argumento do Advogado foi que os moradores de rua são excluídos da sociedade, que vivem em perigo e não conhecem as leis e que ainda, têm as próprias leis de sobrevivência.
Já o promotor falou que tiramos tudo deles, mas se tirarmos também a lei, eles estarão perdidos.
Ou seja, os pobres estão ferrados mesmo.
Bom, voltando para o planeta terra, eu penso...
Realmente morador de rua é um problema. São pessoas sem sentido algum na vida, ou melhor, eles têm um sentido, o deles.
São várias coisas que fazem eles morarem na rua como drogas, perda da casa, parentes sem coração, teimosia e mais um monte de outras razões que desconhecemos.
O que podemos fazer? O que já fizemos?
Confesso que eu apenas dei comida algumas vezes, digo poucas vezes.
Eu sei que é duro chegar perto e sentir aquele odor forte. É realmente complicado, mas também acredito que são ignorados por todos nós.
Há pessoas que na época do Natal saem na rua distribuindo comida. E o resto do ano? Bem, pelo menos elas fazem alguma coisa.
Este é um problema da sociedade brasileira que está muito longe de acabar.
Existem abrigos que dão comida, banho e um lugar para dormir, mas muitos dos indigentes não querem e ficam na rua, e ainda, são poucos abrigos.
Então eu pergunto: Se tivesse um local para aonde eles fossem removidos? Poderiam ser tratados no caso de drogas, ensinados a ter um ofício, ou aprimorar o ofício que um dia já tiveram. Isto é tentar dar uma perspectiva de vida a eles.
Tem gente que vai dizer que é anticonstitucional, que eles precisam querer ir para lá, que mesmo eles têm o direito de ir e vir, que não cometeram nenhum crime etc...
É fato! Porém, mesmo não sendo advogado eu argumento: Isto é vida? Ficar na rua sem higiene, comendo sobras no lixo, ou não comendo e correndo risco de vida é melhor do que ficar em um lugar que terão todo o tratamento?
Mas eles são livres, dirão.
Será? Não estariam eles em uma prisão sem paredes cercados pela violência da natureza como o frio e a chuva, intolerantes da sociedade e gangues de outros moradores de rua?
Não cabe o ser responsável definir o que é melhor para o não responsável?
Eles são responsáveis por si próprios?
Até onde vai a responsabilidade da sociedade?
E a nossa?
Eu sei que as respostas para estas perguntas serão respondidas das formas mais discordantes possível, mas uma coisa é certa: Algo é preciso ser feito, pois se deixar rolar a tendência é só piorar. 

domingo, 5 de janeiro de 2014

Aventuras no exército

Início de ano! É nesta época que os jovens se apresentam para o serviço militar. A partir daí começarão muitas aventuras.
No meu caso a experiência e aventura não foram tantas. O que eu tenho é pouco para contar.
Eu sempre achei que servir ao exército deveria ser vocação e não obrigação. Porém, neste país algumas obrigações são tão esdrúxulas que nem vale a pena comentar. Eu não sei como é hoje, pois nunca mais me informei sobre o assunto e a questão exército para mim ficou para trás há anos. Veja bem, eu não sou contra a carreira militar, muito pelo contrário. Só acho que, como qualquer outra, é uma carreira que é preciso ter vontade de seguir e não ser obrigado.
Bom, voltando ao meu caso, quando eu me alistei na junta militar, mediram a minha altura e peso e preenchi uma ficha. A partir daí marcaram minha apresentação em um quartel de Porto Alegre, o 18º regimento, conhecido como dezoitão, as 7h00 de um dia específico. Naquela época era muito difícil escapar do exército, ainda mais que vivíamos sob o regime militar. E para mim, que não queria, era a mesma coisa que perder um ano. Perto da data da apresentação, eu consegui marcar uma consulta com um médico amigo da família, o Dr. Ricardo, que era major do exército.
No dia da consulta...
– Pois bem guri. Não queres servir, então. O que tu tens?
– Nada.
 Bah! Os caras querem escapar, mas não tem nada. Eu sou médico e não mágico. Tira a camisa para eu te examinar – ele falou rindo junto com o assistente.
Mal tirei a camisa ele exclamou:
 Tem sim! Olha só – e fez anotações em dois papéis de receita e continuou – no dia da apresentação entregarás este para sargento Breno, ele tem um bigodão, é só perguntar por ele, e este tu entregas para o médico que te examinar lá.
Eu olhei o papel que era para entregar para o médico e estava atestado que eu tinha escoliose torácica lombar. Como eu era muito jovem e não tinha acesso a informação que existe hoje eu achei que era grave e nem quis olhar o segundo papel. Vai saber se o sargento Breno não era um agente funerário nas horas de folga.
Chegando o dia, conforme eu ia me aproximando, os soldados que faziam a guarda iam rindo tipo “lá vem mais uma vítima”.
 Eu quero falar com o sargento Breno.
 Pois não. Segue reto até aquela rua e vira a direita. No pavilhão 1, pede por ele.
Foi só falar no sargento que os risinhos pararam e a seriedade tomou conta dos pracinhas. No caminho eu via outros soldados tirando o capim entre os paralelepípedos* sob o sol escaldante.  Eu nunca entendi tamanha sacanagem, e mais do que nunca, não queria fazer parte daquilo.
Mesmo sofrendo, os caras olhavam para mim e riam. Como já tinha descoberto as palavras mágicas eu disse:
 Estou procurando o sargento Breno.
 Segue reto e ...
Eu já sabia o caminho, mas queria parar com as risadinhas.
Quando cheguei ao pavilhão, bati na porta e um cabo me atendeu. Pedi pelo sargento. Esperei alguns minutos e me apareceu um homem de mais ou menos 30 anos.
 Pois não!
 O Sr. é o sargento Breno? – Cadê o bigode? Pensei. Achei que era o Breno errado e que tinha me lascado.
 Sim. Sou eu. O que deseja?
Como eu não tinha nada mais a perder...
 O Dr. Ricardo mandou lhe entregar isto.
 Ah sim! Por que não disseste antes.
Ele leu o bilhete e chamou o cabo que me atendeu. O soldado me conduziu até um ginásio, que tinha uma fila quilométrica para entrar. Entramos direto e ele me levou até uma mesa onde tinha outros sargentos e cabos. 
 Este é do sargento Breno. Ele disse que é para levar para o Dr. Campa  disse ele.
 Ok. Deixe-o ali que já vamos chamá-lo.
Aí o jeito era esperar.
No ginásio havia umas dez mesas iguais aquela e o contorno estava cheio de recrutas como eu, que aguardavam a vez de serem chamado. Eles iam chamando, o recruta se apresentava e voltava para o lugar.

Então, um recruta metido a esperto puxou um cigarro e começou a fumar. Não demorou muito...
 É proibido fumar aqui – disse um sargento de uma das mesas.
E o recruta nada.
 Eu já disse que é proibido fumar aqui – repetiu o sargento – apaga esta porcaria.
 Porcaria nada! É Minister custa 10 pilas.
Os sargentos se olharam e reprovaram, mas até acharam graça e depois o ignoraram.
Logo depois, entrou no ginásio um outro sargento fumando e nosso amigo engraçadinho o chamou...
 Pois não!
 É proibido fumar aqui, apaga o cigarro.
Todos os sargentos começaram a rir e o chamaram de engraçadinho.
 Pega a ficha dele. Qual o teu nome?
 Paulo César Spindola, seu criado – respondeu com arrogância.
O que aconteceu com ele eu não sei, mas separaram a ficha dele para algum castigo. Certamente iria servir e já começaria detido por causas das gracinhas.
Quando eu estava ficando agoniado porque não me chamavam, um cabo chamou uma lista com meu nome incluso. Fomos para o pavilhão onde encontrei o sargento Breno e chagando lá ouvi o Dr. Campa dizer:
 Bah! Já tem três. E um é do Ricardo.
 O do Ricardo é meu – disse o sargento Breno.
 Tu hein? Não vales nada – e todos eles riram.
 Tirem a roupa disse o doutor.
Neste instante passou um colega de colégio. Como ele era um ano mais velho, já estava servindo. Logo, começou a zoar comigo. As autoridades presentes nem ligavam. Eles próprios curtiam com a cara da gente.
 Alguém tem alguma coisa que o impeça de servir? – perguntou o doutor.
 Eu – respondi mostrando a ele a outra cartinha.
 Ah sim. Passa para cá, pode se vestir e vocês dois aí também – apontou para os outros dois que certamente tinham um Dr. Ricardo na vida deles.
Enquanto eu me vestia, o meu colega passou de novo e disse com ar de decepção.
 Ele sobrou!
Desta vez foi eu quem riu, mas discretamente.

Fomos levados para uma área sem sombra a espera do documento final. Isto já era perto do meio dia e a fome e a sede apertavam. Então trouxeram o lanchinho. Era um balaio de pão com manteiga e um panelão de Ki-sucoaguado. A fome e a sede passaram na hora.
Quando eu achava que minha aventura estava acabando vi outra cena inusitada. Um cara, que como eu tinha escapado, estava chorando encostado no muro.
Aquele sargento fumante estava por ali, o viu e o reconheceu.
 Ô cara! Como vai tua família? Está triste. Tu escapaste.
 Pois é! Eu queria servir!
 Tu queres servir? Espera aí.
O sargento demorou alguns minutos e quando retornou falou para que ele entrasse. O carinha, cujo nome eu não sei, abriu um sorriso e entrou.
Aí eu penso: Eu não queria servir e tive que cavar uma situação para escapar. O outro queria, não foi escolhido e cavou um situação para entrar. Vai entender!
Esta é a única aventura sobre exército que posso contar. Posso garantir para vocês que é plenamente o suficiente e não tenho e nunca tive vontade de passar por outra.

* Pedras que formavam o calçamento das ruas.
Apelido na época do Cruzeiro. O salário mínimo era Cr$ 1.106,40.
Suco em pó solúvel em água, um Tang piorado.