sábado, 9 de janeiro de 2016

O casamento de Matilde

Sugiro ler  primeiro:


Após a confusão ser desfeita e o lindo casal ter uma bela noite romântica com tudo que tem direito, amanhece o dia.  E, em pleno café da manhã...
– Fofito. Quando vamos nos casar?
– O quê? – engasgo.
– Casar Fofito. Está todo mundo se arrumando e nós não saímos deste namorico já faz quatro anos.
– Mozão! Não tá bom assim?
– Não? Olha que a fila anda, hein?
– Calma Mozão! Posso pensar?
– Não. 
            – Pô Mozão.
– Não tem pô Mozão! Ou tu casas ou cai fora. Já estou cansada.
– Bah! Não rola nem um noivadinho.
– Siiiiim, tu compras as alianças até sábado, eu organizo uma jantinha para a tua irmã, teus dois amigos mais chegados, minhas amigas e respectivos e a gente fica noivo.
– Ai ai ai, foi-se a minha liberdade.
– O quê?
– Nada não Mozão. Apenas pensei alto que isto é a mais pura verdade.
– Ah bom. Outra coisa, Fofito.
– O que mais Mozão?
– Não apronta! Casamento daqui a seis meses sem despedida de solteiro.
– Seis meses? – novo engasgo – e sem despedida? Mozão, despedida é tradição!
– É? Pois sabia que a tradição da mulher tá mudando? E minhas amigas conhecem cada gogo boy...
– Tá bom Mozão. Sem despedida de solteiro. 
– Que lindo! E mais uma coisinha.
– Ai ai ai...
– Quero casar na chácara dos meus pais.
– Mozão. É longe. Casamos aqui mesmo. E os convidados?
– Não Fófis. Casamento é uma coisa única. Lá tem um hotelzinho bem legal e baratinho. A gente faz reservas. Dá todo mundo. Quero uma coisa bem simples, mas lá. Eu sempre sonhei em casar na chácara dos meus pais e chegar de charrete ao altar no campo.
– Simples? De charrete? Qual é Mozão? Tu nunca entraste em um CTG¹!
– Não entrei porque tu nunca quiseste. Tu não gostas. Eu adoro.
– Tá bom, Mozão. Como tu quiseres.
Na pequena festa de noivado tudo ocorreu na mais perfeita paz e harmonia. Para alegria de Matilde e desespero de Alberto, após muitas provas do vestido, os seis meses passam rapidinho. E um dia antes da festa, tudo que Matilde não esperava era uma chuva torrencial.
– Esperei tanto tempo por este dia e agora esta chuva – Matilde chorando.
– Calma minha filha, as costas do teu pai não estão doendo mais. Então, vai parar de chover.
– Ah mãe. Tu achas que vou acreditar nisto com estas nuvens carregadas. Eu sempre sonhei em casar na rua, ser levada na charrete e vou ter que casar no galpão.
– Dorme filha, porque amanhã será outro dia.
O dia seguinte amanhece com o sol brilhante no alto e nenhuma nuvem no céu. E Matilde debruçada na mesa do café da manhã.
– Ô minha filha – falou dona Inês – acordaste cedo para ver este dia lindo?
– Que nada, nem dormi.
– Mas como? Precisa descansar para ficar bonita.
– Como se eu conseguisse.
– Vou te dar um chazinho que vai te derrubar.
– Olha lá mãe! Preciso estar acordada para a maquiagem, as unhas e o cabelo.
– Filha, do jeito que tu estás é que não vai sair casamento.
E Matilde toma o chazinho caseiro e cai em sono profundo.
Mais tarde é acordada por Teka e Roberta, recém-chegadas de Porto Alegre e desesperadas...
– Matilde – as duas gritando juntas – bla bla bla bla bla...   
– Calma gente! – reponde Matilde – uma de cada vez. Não entendi nada.
– O cabelereiro não vem, pegou meningite – disse Roberta.
– Ai meu Deus – Matilde em prantos – e agora?
– E o que é pior amiga, a maquiadora e a manicure que vinham com ele também não, Não sabem o caminho e nem dirigir – falou Teka.
– E o choro aumenta quando a dona Inês se manifesta.
– Minha filha, calma. Vou chamar a Licinha.
– Licinha mãe? Quem é Licinha?
– Filha, na Licinha dá para confiar, pelo que vejo, neste pessoal da cidade não, ô gente fresca. A Licinha é quem faz a maquiagem, as unhas e o cabelo de todas as noivas da região. É melhor que muita estrelinha da cidade. Pode confiar.
E de fato. A Licinha chega na hora e dá conta do recado. Matilde fica linda. Ela já está até sorrindo e feliz fica até ser surpreendida com a entrada intempestiva do empregado Juvêncio.
– Dona Martilda, Dona Martilda a roda (ler com um ere, ups erre) da charete quebrou.
Antes de qualquer coisa dona Inês grita.
– Calma minha filha! Não chore, vai estragar a maquiagem. O teu pai dá um jeito.
– É, acho que nem tenho mais lágrimas para derramar. Só falta o Fofito não aparecer.
– Ah! Este aparece, o teu pai busca com a garrucha² – gargalhadas de todas.
Nisto, seu Diógenes, o pai de Matilde, entra na sala.
– Teremos que adiar o casamento!
– O quê? – coro geral.
– Só meia horinha. É que o ferreiro só vai poder chegar às 16h00. E ele leva 30 minutos para concertar. Já avisei o padre e o juiz.
– Ufa! – coro geral de novo.
– E o Alberto onde está? – perguntou Teka.
– No hotel. Tu achas que o pai o deixou dormir aqui? – risos.
– Ah! Esta é boa. – gargalhadas novamente.
As horas passam e chega o momento tão esperado. Matilde pronta, arrumada e linda aguardando a hora de entrar. O tempo vai passando e nada de chamarem-na para a entrada triunfal de charete, ups, de charrete cuja roda já está consertada. Novamente Juvêncio invade a casa.
– Dona Martilda, Dona Martilda, Oh! – Juvêncio vira-se de costa.
– Que foi Juvêncio?
– Não se pode ver a noiva antes do casamento, dá azar.
– Fala logo Juvêncio, mais azar que eu já tive um a mais um a menos não vai fazer diferença. Desembucha.
– Mandaram a senhora esperar mais um pouco.
– Por quê?
– Porque o seu pai levou seu Arberto para um papo sério no pasto e o seu noivo pisou nas coisa.
– Papo sério? Só o pai mesmo, mas que coisas?
– Ah Dona Martilda, as bosta dus bicho. Sujou todo u carçado, mas já chamaram um engraxate para resorver u pobrema.
– Ih! O Alberto embostado até que deve ser engraçado – falou a Matilde e todos caem em gargalhadas mais uma vez.
Enfim, após todos os contra tempos o casamento começa. Matilde toda de branco e linda em cima da charrete é conduzida até o tapete vermelho de acesso ao altar montado no campo onde Alberto a espera. Seu pai a conduz até entregá-la ao noivo como todo ritual de casamento já conhecido. A cerimônia ocorre tranquilamente até quando o padre diz a frase que pode causar polêmica em um casamento...
– Existe alguém presente que tenha algo que pare este casamento se manifeste agora ou cale-se para sempre.
– Eu tenho seu padre – grita Juvêncio e aquele OH geral dos convidados.
         Matilde ensaia um desmaio. Alberto indignado querendo quebrar tudo e o Pai de Matilde grita:
– Que loucura é esta, homem? Enlouqueceste de vez?
– Patrão, o Padre não disse para falar se tivesse algo que parasse o casamento?
– E o que tu tens a ver com isto ô caborteiro³? O que é que tu sabes?
– Bom. Eu sei que o Tibúrcio o touro mais bravo do senhor fugiu, e com este monte de gente de vermeio ele pode vir para cá. É para parar ou não o casamento?
Seu Diógenes providencia a captura do Touro e o casamento continua até que o padre promulgue a sentença, ups , desculpe, declara-os marido e mulher. A festa, sem o Juvêncio para dar noticias ruins, é um sucesso. Ele se achou com uma camponesa da fazenda vizinha. Como é de praxe os noivos fogem da festa e seguem para a lua de mel. Mesmo com a saída à francesa foram notados por causa do automóvel todo pintado e com as tradicionais latinhas amarradas ao para-choque. E à noite...
– Fofito, e nossa lua de mel?
– Qual é Mozão? É um dia normal, só o teu pai acha que neste tempo todo de namoro nós só jogamos dominó.
– Mas Fofito, nós casamos hoje.
– Pô Mozão! Enfrentei um Sogro, bosta de vaca, touro bravo. Ainda quer que eu cumpra com as obrigações de marido já de cara. To Maus.
– Ah, deixa comigo, vai!
– Tá bom, eu vou tentar, mas promete que vais ser paciente?
– Mais que um monge... ah!! Tu sabes. Vem aqui...
E no dia seguinte...
– Fofito do céu?
– O que foi Mozão?
– Com o stress do casamento e com tudo que aconteceu faz mais de uma semana que tenho esquecido de tomar a pílula.
– Ai meu Deus! E agora?
– Sei lá, espero que não dê em nada. Acho que eu não estava no meu período fértil.
– Até que um bacurizinho¹¹ ia ser legal.
– Pois é né? Já pensaste?
De fato, alguns meses depois no consultório médico.
– Matilde e Alberto, tudo bem com os nenês – falou o médico examinado a eco.
– Os nenês? – Espanto de ambos.
– Sim – continuou o médico – todos os três.
Alberto desmaia na sala.

1 – CTG: Centro de Tradição Gaúcha
2 – Garrucha: Espingarda antiga sem mira. Espalha um monte de objetos usado como munição.
3 – Caborteiro: Indivíduo velhaco, caloteiro, vagabundo, tonto, tratante.
11 – Bacurizinho: Filho, nenê.

19 comentários:

  1. hahaha essa história ta mais pra "desventuras em série". Dois já seria demais, agora três?! Do jeito que viver ta caro, fiquei com pena dos dois haha.

    Ótima história. Você com seu bom humor de sempre.

    coracaoaflordapele.blogspot.com

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  2. MEU AMIGO COMO SEMPRE ADOREI CADA DIA ESTÁS MELHOR PARABÉNS BEIJOS LÊDA

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  3. kkkkkk Realmente esse casamento tem que durar, diante de tanta contrariedade, adorei o desenrolar do enlace e também a obstinação da Matilde para casar.
    Você consegue colocar em palavras toda a alegria da criação.
    abração é ótimo 2016

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  4. Oi amigo, vim lhe desejar uma excelente semana, beijos e fique com Deus!!

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  5. Não li as histórias anteriores (coisa que vou fazer daqui a pouco) mas só com essa ri muito. Você realmente tem talento para o humor!

    E o meu blog voltou à ativa (depois de 3 meses de hiatus) já tem dois posts novos, se quiser conferir: aguardandoocamaleao.blogspot.com

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  6. Matilde não corresponde às mulheres atuais, pelo que percebo , hoje só querem "ficar"....
    Um ano de muita paz e Amor em seu coração,amigo!
    Gosto muito de seus textos,são sempre ótimos!
    http://www.elianedelacerda.com

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  7. Não é só a Matilde que tem desejo de se casar, todas nós queremos, e agora o que o fofito vai fazer com 3? Cláudio abraços.

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  8. Três de uma vez, é só felicidade mesmo p/o "FOFITO" kkkk
    Como sempre, amei o seu conto! kkk
    Amigo, estou me liberando um pouquinho (pouquinho só) da situação que te falei, por isso estou aparecendo mais.
    Quanto as redondinhas na minha receita, eu retiro todas p/vc ok? kkk
    Bjssss

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  9. Acompanhando a história e esperando por mais uma parte. Sinto cheiro de mais treta, kkkkk.
    Abraços!

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  10. Rappazzz, esse Fofito... kkkkkkkk Belo texto, ri a bessa e para fechar com chave de ouro Fofito virou pai de trigêmeos! kkkkkkkkkkkkkkkk


    Porreta.

    O Sibarita

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  11. Um é bom, dois é bom, três é demais!

    Bjs da Su!
    www.rosachiclets.com.br

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  12. Oie Claudio =)

    Ah!! Fiquei imaginando a cena rs... Três bebês de uma vez só é um susto em tanto heim rs...
    Adorei!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  13. Começar o dia com uma história desta é garantia para um dia feliz! :)))))))))))))
    ADOREI! Aliás, adoro sempre seus escritos.

    Bom final de semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  14. Começar o dia com uma história desta é garantia para um dia feliz! :)))))))))))))
    ADOREI! Aliás, adoro sempre seus escritos.

    Bom final de semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  15. Oi amigo, vim lhe desejar um excelente final de semana, abraços e fique com Deus!!!

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  16. Boa tarde Claudio.
    Com tantos imprevisto , se eles aguentaram firme é porque existe amor, onde existe amor cabe três rsrs. Já imagino o susto, na minha família a minha sobrinha teve primeiro um, depois de apenas 10 meses , soubemos que seria mais dois rsrs [ gemeos] foi uma barra, o casamento acabou, mas temos três lindos anjos iluminando a vida de todos nós. Lindos dias meu amigo. Abraços.

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  17. Oi amigo, vim lhe desejar uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!

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  18. Três?!
    Por essa não esperava rs!
    Estô muito feliz pelo casamento da Matilde.

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  19. Adorei a história, Claudio. Super divertida. O casal terá muito trabalho daqui para frente.

    Beijo.

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