sábado, 14 de novembro de 2015

Mate quente e um bagual

Quem me conhece sabe que há anos atrás eu fui transferido para a maior cidade brasileira, São Paulo. Sabe também, que não sou mais gaúcho por falta de espaço. Nada contra os paulistas, tão pouco contra os nascidos em outros estados. Apenas que muitas pessoas têm suas raízes e eu tenho as minhas. Apesar de não gostar de chimarrão e de não usar bombachas, tenho orgulho de ser gaúcho, mas que barbaridade tchê.
Bueno! Acontece que eu comecei a sentir o peso da transferência quando sai do hotel pago pela empresa e aluguei um AP tri legal¹¹. Até aí nada de mais, né? Porém, foi nesta data que eu transferi o meu carro para Sampa. Assim, peguei minha primeira tranqueira. Ah! Engarrafamento é como chamam aqui. Bom, faz parte, precisava me adaptar. Apesar de ser Porto Alegrense dos bons eu fui me acostumando.
Então¹², então não, logo, certo dia ensolarado eu fui almoçar no shopping. Na volta fui surpreendido por uma chuvarada repentina, coisa muito normal em Sampa. Então, putz de novo não – respira fundo – aí eu tive que comprar meu primeiro guarda-chuva paulistano. O tempo foi passando e por política da empresa trocaram o número do meu telefone para um da área 011. Confesso que perdi momentaneamente minha identidade, mas me recuperei logo. Afinal é só um número.
Até casar com uma paulista eu casei, e continuo casado com minha prenda.¹³ 
O tempo foi passando e eu voltei para minha terrinha. Que saudade! Frio de renguear cusco²¹ e chuva no inverno para poder acender a lareira e beber um vinhozinho gostoso, as praias retas sem a geografia dos morros nem baías e com o vento Nordestão²². Não há lugar melhor.
Porém, quem disse que a vida é justa?
Cá estou em São Paulo novamente e revivendo toda a adaptação.
Bah! Que loucura! Continua tudo igualzinho. E pior, justamente no ano em que chego o Corinthians vai ser campeão brasileiro, quer dizer já é. E aqui 60% da cidade são Corintianos. Logo, quando tem jogo, ligam a todo volume o hino do clube e deixam tocar insistentemente como se fosse uma fita em loop²³. Aí, a música fica na cabeça e me pego assoviando.
Porra meu! Porra meu? A la pucha³¹, porra meu um escambal.
E que falta acontecer agora? Torcer "pru Curintia"?
Porra meu! Arghhhh, quer dizer puxa vida, é Corinthians, mas isto não! Sou Colorado Internacional e vou morrer tri colorado.
Entretanto, o ponto fundamental foi quando eu já estava me acostumando com tudo, até mesmo com o trânsito esgualepado³², a temperatura baixou dos 12ºC e eu senti um friozinho. Aí me olhei no espelho e disse: Mas bah tchê! Larga de frescura. Quero um mate quente e um bagual³³ que vou para Porto Alegre e tchau.

11 – AP: apartamento. Tri: três vezes mais, gíria para muito. Legal: gíria para bacana, bonito porque o original é respectivo a Lei. Ou seja, AP tri legal é apartamento muito bacana ou muito bom.  

12 – Então: em São Paulo a maioria das pessoas começa a responder uma pergunta com então.

13 – Prenda: a mulher do gaúcho. Mulher bonita, com bons dotes, prendada e também prêmio.

21 – Renguear: deixar manco. Cusco: cão pequeno, vira-latas. Frio de renguear cusco: frio de deixar o vira-latas manco, ou seja, muito frio.

22 – Nordestão: Vento que vem do nordeste. É um vento muito forte que tem quase todos os dias do verão nas praias gaúchas.  

23 – Loop: uma gíria de Informática para dizer que o programa entrou em um ciclo interminável. Vêm do inglês, significa laço.

31 – A la pucha: exprime admiração, espanto.

32 – Esgualepado: vivente meio desarrumado, desengonçado, liquidado por causa da pinga ou da peleia. Porém, é usado para dizer que algo está muito ruim.

33 – Bagual: Cavalo manso que se tornou selvagem. Potro recém-domado, arisco. Reprodutor, animal não castrado. Também usando para dizer que alguém é o cara. Ex: Aquele cara é bagual.

14 comentários:

  1. Muito bom voltar pra nossa terra Natal!
    Um chimarrão, bah!!!!!!!!
    Gosto muito do sul e dos gaúchos tbm,
    realmente há uma linguística regional muito legal!!!!!
    Bjos
    http://www.elianedelacerda.com

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  2. Você continua o mesmo. Seja em em Porto Alegre ou em Sampa, teu humor é sensacional! kkkk
    E aí amigo, vc deu tchau e está em Porto Alegre, ou fingiu e continua em Sampa?
    Eu não sou de Sampa, sou CARIOCA/RJ, mas o bolinho fica te esperando ok?
    Amigo estou te devendo umas visitinhas e um papinho mais longo (vc sabe que continua no meu coração né?), mas é que de uns tempos p/cá eu me enrolei e estou custando a me desenrolar, acho que ROUBARAM umas horas dos meus dias e as que sobraram não estão mais dando p/nada kkk
    Bjsssss e uma semana de sucesso e abençoada p/vcs

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  3. Tenho uma casinha no campo e um cavalo!
    Bjs da Su!
    www.rosachiclets.com.br

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  4. Adorei o conto.. hehhe
    Morri de rir... nada melhor do que o aconchego da nossa Terra né?
    Beijos. ♥

    Diário da Lady

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  6. Amo o TU dos gaúchos e acho que se a adaptação fosse oposta, seria mais tranquila, pois não imagino Porto Alegre tão caótica como Sampa rs!
    Ainda faço essa adaptação inversa, nem que seja por uma temporada.
    Bjuss!

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  7. Não tem anda melhor do que estar em nossa terra, Cláudio beijos.
    Lucimar Estrela da Manhã

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  8. Oie Claudio =)

    Sou paulista do interior, mas cresci em Santa Catarina e voltei para São Paulo aos 23 anos. Confesso que sinto saudades em especial da organização do sul, aqui o povo não tem muita ordem e horário para nada rs... Mas acho que esse negócio de minha terra tem um fundo de verdade, pois hoje não troco a minha bagunça sorocabana nem pelos doces do sul rs...
    Ótimo conto!

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  9. Bah! que show está em São Paulo é show (Nunca fui para Sampa amigo, fui até Campos do Jordãp) e depois voltar para terra natal é muito bom e depois voltar de novo para Sampa é uma coisa chata por causa da temperatura rs.

    Sucesso para você
    Abraço

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  10. Eu nunca fui em São Paulo, mas por informações como essas é que eu não tenho vontade de conhecer mesmo. Parece um outro mundo, e um mundo pior do que o que eu vivo (rsrs).
    Mas brincadeiras à parte, também é interessante notar os regionalismos, que no fim das contas, são nossa marca de identidade.
    Grande abraço,
    Almir Albuquerque
    Panorâmica Social

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  11. OI CLAUDIO!
    ENTÃO DEVES ESTAR FELIZ, ONTEM O "GRENAL" FOI UMA GUERRA, SÓ DENTRO DO CAMPO, DIGA-SE DE PASSAGEM E SAÍMOS VENCEDORES E SABES O QUE SIGNIFICA ISSO PARA NÓS COLORADOS DE CORAÇÃO.
    ESTÁ TUDO "TRI LEGAL" MENOS TERES VOLTADO PARA SAMPA E DEIXADO O PAGO GAÚCHO.
    GOSTEI DO DICIONÁRIO GAUCHÊS.
    ABRÇS
    -
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  12. kkkkkkkkk adorei esse texto! kkkkkkkkkkk Assim como todos os seus textos!!!
    beijos
    www.rosachiclets.com.br

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  13. Obrigada pelas boas risadas já cedo, querido. Amo a capital do meu estado, mas um dia vou visitar o sul e se eu gostar, quem sabe não fique por aí. O calor aqui do interior anda me incomodando muito... será que eles recebem bem os paulistas?

    Como sempre adorei, Claudio.

    Beijinho.

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  14. Ô meu, porra! Tu é paulista ou paulistano agora? kkkkkkkkkkkk Ou ainda Gaulistando e ou Gaulista? kkkkkkkkkkk Uma mistura de Gaucho com paulistano e paulista! kkkkkkkkkk

    O certo é que vc foi se adaptando, gostando, perdendo a identidade de gaúcho tchê! Bam! kkkkkkkkkk

    Porreta seu texto!

    O Sibarita

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