sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Campeão de Tênis


Eu joguei tênis dos 12 aos 18 anos. Joguei? Não! Para falar a verdade eu comprei uma raquete e comecei a me meter. Nunca tive técnica, tão pouco fiz aulas. Qualquer garoto de escolinha me batia. Porém, a força de vontade e certa habilidade para o esporte que eu tinha faziam com que me destacasse entre os que estavam na mesma situação que eu, na categoria “amadores dos metidos a jogadores de tênis”.
Eu praticava na SOGIPA, clube que eu era sócio, e na época, muito próximo de minha casa. Na ausência de parceiros eu usava o paredão. O nome diz tudo. É uma enorme parede verde com o desenho da rede em branco. O negócio é rebater a própria bola que retorna do paredão.
Eu parei de jogar quando eu entrei para a faculdade. Não é desculpa, foi preguiça mesmo.
Em 1979 aconteceu um evento esportivo na PUC-RS, as olimpíadas da PUC. Não lembro como fui parar no Tênis, pois os jogos foram em Outubro e eu parei de jogar em Março. Deve ter sido indicação de um amigo traíra, quer dizer, um grande amigo que acreditava no meu potencial.
Nesta universidade onde eu cursava Análise de Sistemas, tinha ou tem os Diretórios Acadêmicos. O meu curso pertencia ao CAVM – Centro Acadêmico Visconde de Mauá, e era por este diretório que eu estava convocado para participar dos jogos PUC olímpicos como tenista. Eu não queria, mas o presidente do CAVM pediu encarecidamente, pois desejava ter no mínimo um representante em cada modalidade, e neste esporte não havia ninguém. Não lembro a sua graça, mas para simplificar vou chamá-lo de Luís Inácio, porque é um nome de presidente. 
Na época eu não sabia dizer não. Hoje eu sei. Portanto não adianta me pedir dinheiro emprestado nem me convidar para jogar. Porém, eu estava receoso devido ao tempo parado. Mas, com aquela carinha triste, de onde eu acredito que o autor do Shrek anos depois tirou a expressão do Gato de Botas, Luís Inácio me convenceu a aceitar o desafio. Afinal, devia ter no torneio um bando de perebas piores do que eu. Logo, se eu tivesse sorte poderia ir longe. Ainda mais que o evento seria na SOGIPA, minha área. Assim mesmo não falei pra ninguém. Embora confiante no triunfo eu temia pelo fiasco e não estava a fim de aguentar corneteiros curtindo a minha desgraça.
Chegando o grande dia e muito grande mesmo porque era 7 de outubro, meu aniversário, acordei cedo e me “toquei” para SOGIPA obedecendo rigorosamente o horário estabelecido. Lá estava o meu glorioso presidente todo feliz pelo meu comparecimento e em mãos os confrontos já sorteados.
- Deixe-me dar uma olhada para ver meu adversário e se eu conheço alguém.
De cara um choque. Meu primeiro jogo era contra o Martins, um dos dois melhores tenistas do estado. Bom, agora era questão de honra. Eu precisaria entrar na quadra para não mostrar covardia. Afinal, eu era um homem ou um rato? Por acaso alguém ai viu o meu queijo?
A humilhação já começaria na entrada. Eu com minha raquetinha de marca “El diablo” sem capa, com a pintura arranhada e as cordas recondicionadas e ele com aquela coleção de raquetes de grife. Além disso, eu sabia que apenas faria ponto se ele jogasse a bola para fora. Isto seria uma coisa muito difícil de acontecer porque das jogadas dele só sentiria o vento e as minhas, se ele não morresse de rir, devolveria com facilidade e longe do meu alcance.  Como neste torneiro as partidas seriam disputadas em melhor de três sets eu levaria dois pneus. Na gíria do tênis um jogador dá pneu quando vence o set a zero. No meu caso seria uma derrota “bi pneumática”.
Susto recuperado, e o importante não é vencer e sim competir, eu voltei a olhar os confrontos. Vai que o Martins tivesse câimbras e eu o vencesse. Se bem que ele me venceria com um pé amarrado nas costas. Mas, ele poderia ter uma dor de barriga. Ah! Isto é fatal. Ai eu ia com moral para cima dos outros. Porém, ao chegar ao fim da lista vi que, caso por um milagre jamais presenciado por todas as igrejas do mundo, se eu fosse para a final fatalmente seria contra o Jardim.
Santo protetor dos metidos a tenista! Se voltarem um pouco acima, lembrarão que eu falei que o Martins era um dos dois melhores jogadores do estado. Pois é, adivinhem quem era o outro. É! Já sei que sacaram. Agora tinha ficado complicado. Se só com ajuda divina poderia vencer um campeão, vencer outro seria impossível.  Então pensei: Para que me preocupar? Não vou passar da primeira fase mesmo.  Entro lá, levo os pneus e volto mais cedo para casa.
Passar um vexame no dia do aniversário é muito ruim. Mas, fazer o que? O amigo do Shrek ainda nem tinha nascido e eu já havia caído no golpe da carinha pidonha do Luís Inácio.
Enquanto eu aguardava a hora do massacre, torcendo para que o Jardim e o Martins tivessem se refestelado da mesma feijoada, Luís Inácio tinha ido verificar os horários dos jogos. Já sabíamos que pelo grid a minha execução seria a primeira.
Para minha surpresa, ele retornou com uma notícia horrível para os organizadores do evento, mas excelente para mim.
- Claudio! Só tu e outro participante compareceram. Decidimos fazer uma final entre vocês. Tu podes vir as 14h00?
- Bah! Não sei – pensava eu em uma desculpa para escapar, mas me ocorreu a importante pergunta – E o cara que está ai, qual o nome dele?
Ele me disse, eu não lembro. Mas, não era nenhum dos dois candidatos ao cargo de meu carrasco. Então respondi feliz: - Ah! Claro que sim. Eu moro aqui perto. Chegarei no horário.
Fui para casa aliviado e felicíssimo. Que presentão de aniversário. E daí se eu perdesse. Eu já havia garantido a medalha de prata. Tirar segundo de dois é muito melhor que último de trinta. E depois, como meu adversário era um desconhecido poderia ser um mão de pau menos qualificado do que eu. Almocei o suficiente para não passar fome e não ter a dor de barriga desejada para os outros e fui de novo para o local do torneio. Chegando lá, o Luís Inácio já me esperado me disse meio desenxabido: - O cara foi embora.
A primeira coisa que me passou na cabeça foi:
“Prostituta que deu a luz! Acordo cedo em um Domingo, meu aniversário, venho aqui duas vezes, para uma palhaçada destas. Que Bosta (bosta pode) é esta?”.
Mas, depois pensei: “Sou campeão! Não perdi para ninguém. Sou campeão de um torneio onde disputaram o Jardim e o Martins. Que glória!”
Eu não sei porque nunca me deram a medalha de ouro, ou melhor, as medalhas porque devido a minha bela atuação eu deveria também receber a de prata e a de bronze.
“Te cuida” Roger Federer!



9 comentários:

  1. hahaha. muito bom. Chamum... eu pediria a medalha...
    mas o melhor foi a foto"shop" com o Relógio do Federer...

    abraço
    Farah

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Farah:

      A criatividade da foto é toda minha. Mas, a arte é da minha amiga querida e nossa ex-colega Simone Disegna.

      Eu estava até pensando em organizar um torneio aqui no Pinhal e chamar o Roger, Nadal e Djokovic. Como eles não viriam eu seria campeão Internacional por W.O. - rsss.

      Abraços;

      Excluir
  2. Vc me disse que nunca teve sorte. Mentiroooooso!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo(a) Anônimo(a)

      Pelo visto me conheces muito bem.
      Mas, fiquei em desvantagem. QUEM ÉS TU? - rsssss.

      Eu nunca tive sorte para rifas, par ou impar, baralho e sorteios em geral. Mas, em jogos onde tem esforço e no amor, não posso me queixar.

      Beijo ou abraço, pegue o que quiser.

      Excluir
  3. hehehe, fiquei imaginando a situação! Abraço!

    ResponderExcluir
  4. Não sabia desse dom de jogar tênis. Mas muito interessante.

    http://www.arthur-claro.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. KKKKKKKKKKKKKKKK que cara de pau viu! ganhou sem jogar!!!

    ResponderExcluir