A
querida Duda que comemorou seu primeiro aninho no dia 10 de junho,
carinhosamente nos convidou para a festinha com três meses de antecedência.
Duda é prima da minha esposa Fabrícia. No entanto, existe uma lei moral que
primos com mais de 30 anos de diferença tem relação de tio e sobrinho, logo
Duda é minha sobrinha.
O
detalhe é que este anjinho mora em Cafelândia-SP que fica um pouco menos de 90 km
de Bauru e nós próximos a Porto Alegre. Porém, com o tempo que tínhamos, foi
possível programar a viagem com tranquilidade. Na época, todas as vantagens
apontavam para a Gol. Como Cafelândia
não tem aeroporto, a melhor alternativa foi ir para Bauru onde os primos, pais
da princesa, nos buscariam.
O
itinerário era um voo de Porto Alegre a São Paulo e uma conexão para Bauru. A
diferença entre a chegada de um e o embarque de outro é de 23 minutos. Muito
apertada, mas a passagem é combinação da própria companhia área, logo eu estava
tranquilo em relação ao atraso da nossa partida que foi de 30 minutos. Assim mesmo, falei com a comissária sobre a
conexão.
– Pode
ficar tranquilo. Em São Paulo está tudo trancado, a sua conexão deve atrasar
também – disse ela.
Tranquilo
por estar tudo trancado? Bom, chegando ao aeroporto de Congonhas em Sampa,
vimos que a aeronave da conexão ainda não tinha chegado, mas a previsão era de
poucos minutos. O fato é que todos que viajam de avião sabem que minuto de
relógio é um e minuto de companhia aérea é outro muito mais espaçado do tipo
cada minuto tem 1800 segundos. Até que
daria para suportar porque a decolagem que estava prevista para as 22h23 teve
um pequeno adiamento para as 23h20, ou seja, nem uma hora de atraso. Olha que
beleza. Até que tudo ia bem, se não fosse pela voz estridente da funcionária da
Gol:
– O
voo 1010 para Bauru está cancelado. Permaneçam no saguão para comunicarmos as
providências que serão tomadas.
Aí,
foi como se tivessem dado um chute em um formigueiro. Depois do “ah não” geral,
a massa foi para cima da moça que não tinha culpa de nada. As pessoas
frustradas queriam saber o que seria feito, pois muitos vieram de outras
cidades do estado de São Paulo ou outros estados por o 1010 ser um voo de
conexão.
Então
esta formiga que vos comunica ficou sabendo que haveria no dia seguinte um voo
para Marília-SP que também era compatível com nossos planos. Deixei a Fabrícia
acompanhado as decisões e conforme orientado corri para o balcão de “Check in”
para tentar contornar o problema. Não havia mais vagas no voo para Marília.
Portanto, solicitei para São José do Rio Preto que era um pouco mais longe de
Cafelândia, mas também servia. Para esta
cidade, a Gol me ofereceu um voo da TAM que partiria do aeroporto de Guarulhos
no dia seguinte de manhã bem cedo. Para quem não sabe Guarulhos é outra cidade
e fica longe de Congonhas.
Avisei
que a Fabrícia tinha ficado no portão de embarque e que precisava de ajuda com
as bagagens. Eu não podia subir novamente porque já não havia mais voos, logo
não poderia entrar mesmo com o cartão de embarque do 1010. Foi então que uma
funcionária da Gol disse que iria auxiliá-la ou solicitar que fosse alguém ao
seu encontro.
Enquanto
eu esperava a Gol e a TAM se acertarem pois este procedimento era devido ao
acordo entre empresas, a Fabrícia me liga avisado que foram providenciados
ônibus para Bauru e que todos os passageiros já tinham saído do local e que ela
estava sozinha no saguão.
Quando
tudo parecia se resolver, o funcionário da Gol
retornou dizendo:
– Senhor!
Por se tratar de duas companhias e de dois aeroportos diferentes nós podemos
lhe dar condução para Guarulhos, hotel e refeição, mas não podemos garantir que
terá vagas neste voo.
Resumido:
Se fossemos até lá e não tivesse como embarcar eu teria que voltar por minha
conta e não ter mais o que fazer. Resolvi então topar o ônibus que era melhor
do que nada. A frustração era tão grande porque um planejamento de meses deu
errado por incompetência e descaso de outros.
No
desembarque eu encontro minha amada e poderosa esposa que se virou sozinha com
as bagagens porque não recebeu ajuda alguma, pois ninguém apareceu.
Fomos
para a fila do ônibus.
Quando
chegamos, a fila estava enorme e já havia um ônibus que naturalmente estava
lotado. Eu não entendo porque este ônibus demorou uma hora para sair. Afinal,
não tinha porque sacrificar quem já estava dentro por causa dos outros que
estavam na fila. Uma tremenda sacanagem.
Não
tinha água nem comida.
Eu
fui até os funcionários no início da fila e pedi para liberarem pelo menos
água.
– Não
temos água senhor. Apenas Coca-Cola. Só podemos liberar dentro do ônibus se não
perderemos o controle.
Vamos
ler nas entrelinhas: É um só para cada e azar de quem não gostar. Havia pessoas
de idade e crianças e não tinha água. Algumas pessoas na fila falaram que não
bebiam “refri”. Voltei a conversar com funcionários que já estavam saindo do
local.
– Estamos
indo lá cima e veremos isto – falaram.
Sei
lá onde é “lá em cima”. O fato é que estes mentirosos não voltaram nem mandaram
água. Por que será que eu não fiquei surpreso?
Ficamos
na fila por volta de uma hora sem água e alimentação até que chegaram os demais
ônibus e as pessoas foram sendo alocadas.
O
motorista do nosso simplesmente saiu do veículo deixando o volume altíssimo.
Quando entramos, ouvimos a música que era de um repertório desconhecido e de
muito mau gosto. Até o pior cantor de banheiro era suportável perto daquilo. Eu
imaginei que era um CD caseiro gravado por um parente ou amigo e que ele queria
promover.
A
Fabrícia foi até o “motora” solicitar que ele baixasse o volume.
– Quando
eu voltar no ônibus eu baixo – disse ele de forma grosseira.
Meu
sangue subiu e eu mesmo decidi desligar aquela porcaria, mas a moça da Gol
intercedeu e o cara baixou o volume resmungando:
– Vou
ter que viajar a noite toda e não posso escutar música.
Ele
chama aquilo de música e acha que é dono do ônibus.
Moça
– falei – todos estão chateados e cansados com o voo cancelado. Se este cara no
meio do caminho fizer gracinha vou jogá-lo fora do ônibus e eu mesmo vou
dirigir porque conheço o caminho. Ela sorriu, a galera riu.
Depois
que todos entraram, liberaram a comida. Água? Não! Coca-Cola tradicional, nada
de zero. Eu sou viciado, mas as pessoas queriam água. E o banquete? Era um
“sanduíche-iche” de pão de forma “refugo de padaria” queijo e presunto sem
direito a repetição. Mais um problema:
Tem gente que não come carne e presunto é carne.
Podia
ser pior: Um sanduíche de “mortandela”. E quem é diabético ficou com sede.
Enfim
o ônibus, as 00h30 mais ou menos, partiu e o motorista se comportou.
Entretanto,
uma viagem que era para ser de quarenta minutos durou entre a confusão do
cancelamento do voo e a chegada em Bauru sete horas.
Eu
pensei em reclamar, mas creio que tudo terminaria em pizza, ou melhor, em
“sanduba”.