Wanda
era alta, esbelta, seu corpo uma escultura e sua boca carnuda estava sempre
pintada de vermelho. Embora fosse muito
jovem, ela continha segredos de uma mulher madura. Divertida, alegre e
incrivelmente fogosa exalava sexo pelos poros e contagiava os ambientes por
onde passava. Ela era inteligentíssima, de raciocínio rápido e de grande
personalidade. De família rica, mas ignorando os valores familiares, ela trabalhava
de dançarina na boate Lua Doce.
Carlos,
igualmente jovem, forte, inteligente, frequentador assíduo da boate onde Wanda
trabalhava, era totalmente apaixonado por ela. Também de família nobre, sua paixão
por Wanda fazia com que abdicasse das rodas da alta sociedade para vê-la dançar
todas as noites.
Wanda
dançava como ninguém. Ela era única. A plateia ignorava todas as outras
dançarinas esperando ansiosamente pelo seu show. Não menos ansioso, Carlos olhava
o relógio muitas vezes na esperança de que o tempo passasse mais depressa para
ver sua musa.
Ela
tinha apenas duas paixões: a dança e o sexo. Alimentava estas paixões exibindo
seu corpo exuberante e entregando-se ao homem que escolhia nas noites de espetáculo.
Foram muitos, mas ao contrário das prostitutas, Wanda não fazia por dinheiro, e
sim, por prazer. Ela os encantava, os
dominava, os trazia debaixo de seu salto. Eles pareciam gostar daquele domínio
irresistível, que lhes dava sexo, mas nunca amor.
Ela
tinha um padrão. Escolhia os homens pelo olhar. Aquele que tivesse o olhar mais
faminto, o que fazia com que ela se sentisse mais desejada, era o requisitado,
mas nunca repetia os escolhidos.
Wanda
não queria dinheiro, e sim ser a melhor entre as melhores.
Carlos
ficava na esperança de ser o escolhido, mas algo nele a desagradava. Ele não
tinha aquele olhar faminto dos outros homens e sim um brilho diferente que a
repelia ao mesmo tempo em que a atraía.
Como
a atração foi mais forte, um dia ela o escolheu, e para ele se entregou naquela
noite. O receio que ela tinha se concretizou. Viu que aquela vez foi diferente,
pois mesmo sempre sendo ela a dominadora, se sentiu dominada, mas não por ele,
que estava totalmente entregue à paixão, e sim por ela mesma. Foi um sentimento
jamais percebido e entendeu que este poderia ser um problema. Wanda não queria
se apaixonar, não queria compromisso, e sim continuar vivendo ardentemente cada
dia. Entretanto, o desejo de ver Carlos novamente era constante.
Wanda
não dançava mais como antes, a plateia já não lhe era mais fiel, mas Carlos
estava sempre ali a cercando. Ele enviava-lhe flores, doces, convites para
sair. Apesar de rejeitar, ela não parava
de pensar nele e não conseguia mais se entregar ao prazer com outros homens,
embora tentasse. Foi então que a “Lenda Wanda” da Lua Doce perdeu o encanto e
com isto acabou o seu feitiço sobre os homens .
O
público já não queria saber dela e o proprietário a mandou embora. Ela caiu em
depressão. Não precisava de dinheiro, e sim de continuar sendo a melhor no que
amava fazer.
Com
o sumiço de Wanda, não tão menos desesperado ficou Carlos que procurou sua
amada em todas as boates.
O
tempo passou, Carlos se conformou, mas não a esqueceu. Wanda continuava viva em
sua memória.
Algum
tempo depois, Carlos em um show do cruzeiro que estava fazendo, se surpreendeu.
Uma banda tocando salsa tinha uma dançarina que lhe chamou a atenção. Suas
pernas, a boca, o cabelo, a pele e o corpo muito lembravam sua amada. Não
poderia ter duas mulheres assim no mundo, não para ele. Só podia ser ela. Então
ele se aproximou para ver de perto e constatou. Era ela! Não dançava mais como
na Lua Doce. Evidentemente que a música, a dança e o ambiente não eram os
mesmos, mas ela não tinha o mesmo brilho embora a plateia adorasse. Ali,
somente Carlos sabia como era antes. Porém, ela continuava bela. Carlos com a
palpitação mais forte se aproximou do palco e ela o viu.
Trocaram sorrisos. O brilho dela
voltou e ela deu um show ainda maior.
Naquela
noite entregou-se a Carlos novamente, mas desta vez sabia que não seria a
última. Após o reencontro, Wanda só dançou para Carlos e hoje somente ele
lembra daquela mulher admirável e cheia de encantos, que fascinava a todos com
sua exuberância, autonomia e liberdade.
Wanda
perdeu-se no tempo, deixou-se levar pelo cotidiano de uma mulher comum descendo
do seu pedestal de Deusa suprema, mas viveu feliz ao lado de seu único amor.