A
maioria das pessoas fala que viajar a trabalho é ruim. Quando estas viagens se
tornam uma rotina é ruim mesmo.
Em
2008, eu já estava cansando de tanto viajar, mas fui abençoado. Minha viagem a trabalho foi para
Salvador. Os Baianos dizem que Deus mora
lá. É difícil falar algo a respeito porque o Nordeste todo é lindo, mas com
certeza se Deus quiser morar no Brasil, Salvador está no páreo.
Eu
nunca pensei que minha viagem apesar de ser para um lugar fascinante daria uma
postagem no blogue. Entretanto, conversando com um ou outro sobre as façanhas
que fiz na capital baiana, percebi cinco anos depois, que daria um texto.
Então,
vamos lá.
A
semana de trabalho antecedia o feriado de Tiradentes, 21 de abril, naquele ano
caiu na segunda-feira. É claro que eu programei meu retorno para voltar neste
dia. Como as diárias pagas pela empresa eram apenas até sexta, eu me convidei
para ficar na casa do amigo Rogério.
Uma
coisa para aprender sobre baiano é que não precisa de convite, basta dizer: “Tô
indo”.
Para
não ficar na rotina sem graça do trabalho para o hotel, do hotel para o
trabalho, eu resolvi me divertir e uma das noites sai a pé para conhecer
Ondina. Chegando lá vi o coco gelado a
R$ 1,00. O detalhe é que eu tinha me
esquecido de levar dinheiro, aí ferrou. A caminhada era de uns 40 minutos, ida
e volta, e eu não estava com menor disposição de voltar ao hotel para depois voltar
a praia. Além disso, Salvador como toda grande capital brasileira não permite ficar
dando bandeira a noite pelas ruas. No outro dia, eu voltei lá. Tomei um coco e pedi outro dizendo que queria
compensar o dia anterior. Então ouvi:
– Não
faça isto meu rei. Podia ter pego ontem e pago hoje.
Fiquei
lisonjeado com a confiança e aprendi outra coisa. Na Bahia todo mundo tem sangue
nobre porque é rei ou rainha.
Seguindo
com as minhas aventuras, naquela época, solterinho da Silva, perguntei para um
taxista qual o ponto mais legal de paquera. Ele disse:
– Caranguejo
Sergipe.
Adivinhem
para onde fui na noite seguinte?
Lá,
mal sentei, e já percebi uma moça me paquerando, então pensei: “Aqui é bom
mesmo”.
Logo,
ela me chamou para sua mesa onde estava com sua irmã e uma amiga. Começamos a
conversar e vi que a moça era muito simpática, além de ser uma mulata muito
bonita. Porém, lá pelas tantas ela resolveu falar uma coisa:
– Preciso
te dizer uma coisa. Somos garotas de programa.
Confesso
que fiquei surpreso, mas não me abalei, pois não sou preconceituoso e a moça
era legal. É claro que eu já não me sentia mais um Gianecchini, pois a paquera virou
um negócio comercial. Só que ela se insinuou ainda mais e deu o preço:
– São
R$ 350.
– Eu
sou funcionário e não o dono da empresa – falei.
Fiquei
mais uns 15 minutos e avisei que ia embora. A irmã dela queria que eu pagasse a
conta da mesa, mas eu paguei a minha parte.
Cai no golpe da paquera, mas não do da carteira.
No
fim de semana minha aventura foi estritamente familiar. Rogério e sua adorável
esposa Lu, apesar de serem mais novos que eu, me trataram como um filho.
Eles
têm duas filhas cada um. Eram duas adolescentes que já estão moças, e duas
pequenas gracinhas que já estão adolescentes. Eles me levaram para conhecer os
pontos famosos como Pelourinho, Farol da Barra, Mercado Modelo e claro o
Elevador Lacerda. E na entrada do Mercado Modelo eu conheci uma cigana que me
pediu uma moeda para fazer uma simpatia. É claro que eu sabia que a moeda ia
sumir, e de fato sumiu. O que a esperta da cigana não esperava era me atacar novamente
na saída do Mercado.
– Tu
já me deves R$ 1,00 – eu disse.
– Eu
não. Você está me confundindo – disse ela, e se mandou tão rápido quanto a
moeda.
Eu
perdi R$ 1,00, mas me diverti muito. Logo, paguei para dar risadas. No domingo,
a minha querida família soteropolitana tinha um aniversário de criança. É claro
que eu não quis ir. Eu não me sentiria bem mesmo sabendo que em Salvador isto é
bobagem, pois mesmo sendo desconhecido do dono da festa, o amigo do amigo é
grande amigo. No entanto, eu liguei para
outro camarada, o Thiago, porque sabia que ia rolar um clássico. Para quem ama
futebol como eu, estar em Salvador em dia de clássico e não assistir um Ba-Vi é
a mesma coisa que não ir a Salvador. O Thiago me buscou e me levou para almoçar
na sua casa como um típico anfitrião baiano. Chegando lá recebi um abraço
caloroso e apertado de sua mãe como seu eu fosse um amigo de anos. E ela disse:
– Meu
filho! Se tivesse avisado eu teria feito uma moqueca.
Eu
olhei para o Thiago e disse: – Eu te mato – Sim, porque moqueca já é bom, feita
por mãe então é bom demais. Ela fez um preparado com o que tinha, mesmo assim ficou uma delícia.
A
hora de ir para o estádio foi interessante. A família do Thiago é Vitória até
morrer, e depois também. Uma moça, a Eliane, amiga da turma, que foi com a
gente era torcedora do Bahia. Eu fiquei com pena dela. Era uma onda geral em
cima da menina, inclusive eu, que aquelas alturas era Vitória desde pequeninho.
Chegamos ao estádio e a posição do sol me comia uma perna. Eu, bobo do sul, só
tinha passado protetor no rosto, orelhas e braços. Como eu estava de bermudas,
aquele sol ia entrando. A minha sorte foi que no Nordeste o sol se põe cedo.
A
festa pré-jogo foi muito bonita, tanto de uma torcida quanto da outra. Eu
estava no meio da torcida do Vitória é claro, mas dava para ver a Bamor vibrante
com o lindo colorido no outro lado do estádio.
O
jogo começou e não demorou muito para o Bahia fazer um gol, e justamente na
goleira onde estávamos. Alegria de um lado e tristeza do outro, o nosso. Ali,
apenas Eliane com um sorriso escondido estava satisfeita. Ela estava louca para
descontar a gozação que sofreu na ida para o estádio Barradão, mas não podia
porque era minoria, ou melhor, solitária.
O
Bahia fez mais dois gols ainda na mesma goleira, e o Vitória descontou para
renovar a esperança do rubro-negro baiano. No segundo tempo, o Bahia fez mais
um gol o que decretou a vazão do estádio pela torcida dona da casa. Inclusive
nós. No caminho para o carro todos estavam de cabeça baixa pela derrota de 4x1
até que alguém ligou o rádio com a música nas alturas. Neste momento, o jogo
ficou para trás e todos começaram a dançar na rua. Outra coisa que aprendi na
Bahia: Alegria agora, agora e amanhã.
Bom,
para os meus amigos do Vitória não ficarem zangado, no jogo de volta, o Nego,
assim chamado, devolveu a humilhação por 3x0 e na outra semana acabou por ser
campeão por critérios de desempate por ter feito um gol a mais. Outra coisa que
só vi lá.
Na
segunda, depois de curtir a praia com a minha família baiana, peguei o avião de
volta para São Paulo, onde eu estava morando, e com certeza meu coração não
voltou inteiro, pois um pedacinho dele ficou lá.