quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Inocentes silenciados




Caros leitores:

Não há como ficar calado, mas também não sei o que dizer.
Hoje, estou quebrando a principal regra do meu blogue que é postar apenas textos de minha autoria.
Neste caso, muito especial, copio um texto do Facebook muito emocionante onde consta a assinatura que mantenho para preservar a autoria.  
Também não vou divulgar este post, como normalmente faço, em respeito a todos os jovens, que nos deixaram e aqueles que ainda precisam de cuidados.
Apenas deixo aqui o registro para quem acessar.

“Hoje o Patrão Velho resolveu deixar o céu um pouco mais gaudério.
Levou uma gurizada pra matear com ele, e deixou nossa querência tapada de tristeza e de dor.
Patrão velho, esperamos que esta gurizada tão faceira e cheia de sonhos, alegre teu pago e que eles encontrem no aconchego do teu poncho, paz e luz.
Guarde-os contigo, e não te esqueças de amparar aqueles que por aqui ficaram mateando solitos.”
                                                                                                                                        Marta Salles.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Fumacentos


Tem coisas que pensamos que nunca vai acontecer conosco ou perto de nós. Duas vezes então, não dá para acreditar.  Há quem diz que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Pode até ser, mas que cai ao lado... Ah! Isto cai.
Certo dia, as 3h15 da manhã, Claudinho e sua esposa acordaram com pequenos estouros que vinham da rua e com o seu quarto totalmente enfumaçado. Ele e sua amada levantaram meio desorientados e ela perguntou assustada:
– O que é isto?
Instintivamente ele respondeu:
– Colocaram fogo na casa da Juju.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Malas prontas e o travesseiro


É doloroso chegar em casa ver as suas malas prontas.
Logo agora que estamos nos dando tão bem?
O que aconteceu?
– Cansei!
Cansou de que?
Parecíamos felizes.
Sorríamos, bebíamos, curtíamos a vida.
Nada parecia nos separar.
Erámos o exemplo de tanta harmonia.
Não estou entendendo nada.
O que foi que eu fiz?
– Nada! Apenas cansei.
Cansou? Mas do que?
Fazia juras de amor. 
Dizia-me que eu era especial.
Que nunca houve outro homem como eu.
Sempre me disse que se existe o paraíso, é aqui.
Agora fica ai olhando o meu desespero com este olhar distante.
Meu pranto rola e você sem reação, fria como nunca foi. Não me diz nada?
– O que eu posso fazer?
Diga que é mentira. Uma brincadeira, que você não vai embora.
– Mas, eu vou!
Vai para onde?
O que vai fazer?
– Isto não importa. Eu vou! É o que interessa.
Não posso crer.
Não acredito nisto.
Esta não é você.
Não é a mulher que entrou na minha vida para nunca mais sair.
Vá embora!
Não! Fique até me dizer onde ela está.
– Mas, sou eu. Você tem que aceitar. Acabou!
Não! Não pode ter acabado.
Não acredito em você.
– Olhe! Você ainda tem uma vida pela frente. Vai encontrar alguém que te ame.
Mas, eu amo você.
É você quem quero.
Você é minha vida.
– Eu não posso fazer mais nada.
Estávamos no nosso melhor momento.
O que aconteceu?
Você ainda não explicou.
Eu mereço consideração.
– Sim! Merece, por isto estou indo embora.  Não quero mais magoar você.
Você não me magoa, quer dizer, está magoando agora. Por quê?
– Não quero mais ficar aqui.
Mas, eu vou com você.
Para onde quiser.
É só dizer.
– Você não está entendendo. Não te amo mais. Se é que um dia eu te amei.
Não posso estar ouvindo isto.
Ontem você estava feliz.
Fizemos amor como nunca.
– Ontem foi ontem. Hoje já é outro dia.
Diga nos meus olhos que não me ama.
– Eu não te amo.
Não sei se vou suportar isto.
Não vou aguentar.
Poxa! Dá uma chance para nós.
– Não dá! Eu tenho outro.
Outro? Você me traiu. Que bandida.
– A vida é assim. Não escolhi, aconteceu.
A vida não é justa.
– Sinto muito. O táxi deve estar chegando.  Cuide-se.
Ir assim, sem ao menos um beijo de despedida?
– A despedida foi ontem.
Tudo bem. Mas, o meu travesseiro você não leva...
Travesseiro? Ela pegou meu travesseiro – suspiro.
Pode ficar com ele meu amor. Eu deixo.
Parece um anjo.
Pesadelo idiota. 

Foto: Letícia Spezia


sábado, 12 de janeiro de 2013

Noites insanas



Era uma noite horrível, muito diferente de todas as outras. Trovões ecoavam pelo casarão que mais parecia um castelo assombrado. Os raios caiam perto dali e a janela da tranca quebrada, com a ventania, batia o tempo todo.
Jonatan parecia não se preocupar com o clima fantasmagórico que tinha se instalado no local e ficava olhando pela janela do segundo andar em direção ao lago. Apesar da tempestade, ele sabia que ela não demoraria aparecer.
– Ela sempre vem – pensou ele.
A moça surgiu do meio da neblina com seu longo vestido branco semitransparente e os cabelos negros esvoaçantes.
– Está mais linda do que das outras vezes – falou sorrindo. 
Ela se aproximou da casa cuja porta já estava aberta.
Ele a aguardava ansiosamente no quarto onde estava.
– Olá! Hoje você está especial. Muito mais linda do que a primeira vez.
– Impressão sua. É porque será nossa despedida.
– Por quê? Não pode me deixar.
– É você que me deixará.
– Nunca a deixarei.
– Sim! Deixará, mas não será culpa sua. Eu compreenderei e nunca deixarei de te amar.
– Não deixarei não.  Eu a amo demais. Minha vida é você, mas falaremos de outra coisa.
– Sim! Aproveitaremos cada instante.
Eles se beijaram, trocaram carícias, se amaram e dormiram abraçados. Foi um ritual rotineiro que durava há quase um ano.
Quando amanheceu, os raios do sol invadiram a casa pelas frestas das paredes rachadas e acordaram Jonatan, que mais uma vez se deparou com a ausência de Marcele.
– Como sempre, ela me deixa antes mesmo do amanhecer.  Ah meu amor! Minha Marcele. Meus dias nunca mais foram os mesmos depois que a conheci.
Jonatan sonhava acordado com a sua doce amada quando subitamente barulhos de máquinas o trouxeram para a realidade.
Os operários perceberam o movimento no casarão, então pararam as atividades e comunicaram ao engenheiro chefe.
– Deve ser o Jonatan. Meu Deus! Ele ignorou a ordem de despejo.
Um megafone foi providenciado...
– Jonatan! Saia da casa imediatamente.   Ela será demolida.
– Não sairei! Ela vai voltar. Preciso ficar aqui para esperá-la – gritou Jonatan.
– Ela quem? – murmurou o engenheiro.
– Chefe – falou um dos operários – nós vimos um movimento em outro cômodo.
– Só o que me faltava, outro maluco. Vamos ter que entrar.
Depois ter passado quase uma hora...
– Chefe! Não encontramos mais ninguém. Apenas o maluco que não quer sair.
– Não tem jeito. Vou ter que chamar o resgate.
Com a chegada do resgate, Jonatan foi imobilizado e retirando do local. A luta foi grande e ele teve que ser sedado.  Levaram-no abraçado a um porta retrato que continha uma fotografia impressa em uma velha folha de jornal.
Após a demolição, preocupado com Jonatan, o engenheiro Alan foi até o hospital onde ele foi internado. E lá conversou com o médico responsável.
– Vocês são amigos?
– Não propriamente. Nós fomos colegas de escola.
– O quadro dele é psicótico.
– Achei que era excentricidade.
– Qualquer informação pode ajudar.
– Há meses que ele morava naquele casarão caindo aos pedaços. Ele se mudou logo depois que passou uma noite inteira lá por causa de uma aposta. Devido a casa ter fama de assombrada, ele fez esta aposta com os amigos. A partir daquela noite, inexplicavelmente, ele alugou o casarão e se mudou para lá, mas a casa estava condenada. Foi um erro da imobiliária, que não deu baixa no cadastro.  Sou o único herdeiro e como engenheiro eu vi que a casa não tinha condições de moradia. Então a condenei. Ele não quis sair de jeito algum. A justiça deu a ordem de despejo que ele não respeitou. Ele fingiu ter saído da casa e depois retornou.
– Interessante. Ele alguma vez comentou sobre uma companhia feminina?
– Não. Nos poucos contatos que tivemos nunca comentou. Por quê?
– Porque ele insiste em dizer que precisa estar lá para recebê-la porque ela vai voltar.
– Pois é. Isto ele falou na hora da demolição, mas quem será ela?
– Ele falou Marcele, significa algo para ti?
– Coincidência.
– Com o quê?
– É o mesmo nome da minha tia.
– Espere um pouco – o médico vai a até a mesa e pega um retrato – por acaso é esta?
– Sim! Minha tia Marcele é exatamente esta mulher da foto.
– Esta é a moça que ele diz que espera por ele. Ele estava abraçado a este porta retrato quando foi retirado da casa. Ele diz que se encontram todas as noites no casarão.
– Impossível doutor! Eu quase nem me lembro dela, apenas de fotografia.
– Como assim?
– Ela era a dona do casarão. Morreu afogada no lago quando eu ainda era criança. Inclusive esta foto é da notícia do afogamento. Minha mãe que guardava este retrato que ficou perdido lá desde o dia que nos mudamos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Amor sem limites


Everson é um cara tímido, mas muito observador. A empresa em que ele trabalha é repleta de garotas bonitas. Porém, ele se interessou realmente por Gabrielli, que conheceu no elevador. Várias meninas o acham simpático e se interessaram muito mais pelo seu perfil intelectual do que pela beleza, que realmente lhe falta.
Ele não tem coragem para abordar seu amor platônico, então fica olhando a distância. Todos os dias, na hora do almoço, ele procura sentar-se a mesma mesa ou muito próximo para poder ficar perto e escutar a voz de Gabrielli.
Quando ela não aparece, Everson fica desolado e se isola em um canto afastado do pátio da empresa.
Ele foi chamado a atenção várias vezes por seus colegas e seu chefe por deixar a desejar no trabalho, pois ele fica aéreo em pleno expediente quando fica sonhando com a mulher que deseja.
O que mais o atrai em Gabrielli é o seu jeito diferente de ser. Para ele, nenhuma mulher é como ela.
Como o horário da empresa é padrão ele aguarda na fila do elevador, passando a vez, até que ela chegue para que ele possa entrar junto e admirá-la.
Algumas vezes, por ser gentil ao segurar a porta, ele ganha sorrisos.
Em casa, ele se confina no quarto, desliga o telefone e fica admirando o retrato de Gabrielli que furtivamente fotografou, e viaja nas fantasias sexuais como se fosse um adolescente se descobrindo. Não adianta bater na porta porque os fones de ouvidos do seu MP4 reproduzindo músicas francesas isolam qualquer interferência ao seus sonhos.
Todo ritual acima descrito é uma rotina diária.
Everson nem se alimenta direito. Ele, com o prato cheio a frente, fica mexendo na comida com o grafo e olhando em direção daquela mulher que tanto ama. Nas refeições caseiras, ele faz a mesma coisa só que imaginando Gabrielli a sua frente. 
A única coisa que ingere é a Coca-Cola cuja latinha só larga para pegar outra.
A situação de Everson fica tão complicada que seus amigos resolvem agir. Eles apresentam várias meninas para ele, uma mais linda que a outra, mas Everson é fiel aos seus sentimentos. Por isso, nenhum dos relacionamentos arrumados dá certo. Portanto, o amigo mais fiel, mesmo contra vontade, resolveu ajudá-lo a encontrar a felicidade..
Seus ditos amigos não queiram que ele se relacionasse com Gabrielli por causa de seu jeito nada convencional, mas Pierre prefere ver o amigo feliz e sadio do que ficar atolado em um preconceito antigo e fora da razão.
Pierre conversa com Gabrielli e explica a situação. Ela se emociona em ainda existir alguém tão sensível e romântico e fica ansiosa para conhecer Everson mais intimamente.
Em uma combinação secreta, Pierre e Gabrielli armam um falso encontro entre os dois amigos.
No bar, enquanto Everson fica aguardando Pierre, que sabemos que não virá, Gabrielli aparece e diz que levou um bolo e que lembra de Everson, mais propriamente do elevador da empresa, e pergunta se pode sentar.
Gaguejando, mas felicíssimo, Everson permite e consegue então conversar com a sua musa.
Eles tomam alguns drinques, dão risadas e Gabrielli percebendo a timidez dele toma a iniciativa e o beija. Everson fica alucinado e quer mais.
Após este momento, ele se transforma em outra pessoa. Sua timidez vai embora e dá lugar a um homem que passa a tomar todas as iniciativas. Agora é a vez de Gabrielli ficar alucinada.
Ambos nunca tiveram uma experiência como esta. É tudo diferente de tudo que já tinham passado ou realizado.
Eles se sentem amados, desejados e estão muito felizes.
Parece que foram feitos um para outro.
São horas de beijos, abraços e outras carícias.
Quando a coisa está ficando quente eles resolvem ir para um lugar mais aconchegante, pois para seus propósitos, este bar já está pequeno demais e sem privacidade alguma.
Como eles não têm carro, embarcam em um táxi e pedem para irem a região de motéis.
A libido deles está tão forte que o taxista resolve ir para o motel mais próximo e pede para que eles desçam.
O casal apaixonado nem liga para o fato. O que realmente querem é um lugar só deles.
Quando chegam ao quarto, Gabrielli começa a despi-lo e dizer que ele é a melhor coisa que aconteceu em sua vida, então é a vez dele. Só que ao despi-la, Everson repara que Gabrielli não é uma mulher comum. Na verdade, ela é uma mulher em corpo de homem. Ele fica desesperado com vontade de bater nela, quebrar tudo, gritar, fazer escândalo, mas mais forte do que a raiva é a fidelidade ao seu sentimento.
Ao se lembrar dos sorrisos do elevador, das horas de almoço, de quando sonhava acordado aliviando a tensão no refúgio pessoal do seu quarto, ele canaliza toda violência sentida para o seu desejo reprimido de tanto tempo que aumentou exageradamente nas últimas horas. Então, ele a toma em seus braços, a coloca na cama e dá a eles uma noite de amor que jamais sentiram em suas vidas. 

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança fica a critério da sua imaginação.