domingo, 27 de abril de 2014

Sensação de amor intenso

João e Maria se conheceram quando eram crianças.
A paixão foi à primeira vista. Eles mantiveram o sentimento inocente até a adolescência quando juntos começaram a descobrir o verdadeiro amor.
A família de Maria era de posses enquanto a de João, humilde.
Os pais dela não queriam o namoro, e João, órfão de pai, tinha em sua mãe uma opositora ao relacionamento por causa do orgulho. Adelaide era funcionária na casa dos pais de Maria.
A única aliada que tinham era Juliet, prima de Maria, que acobertava os encontros escondidos. Eles foram levando este amor clandestino até entrarem para universidade. Maria foi estudar no exterior enquanto João entrou na federal.
Nunca perderam o contato e o sentimento só aumentou.
O tempo passou...
Maria retornou e eles se encontraram.
Já eram adultos e mais experientes, mas a família de Maria ainda não aceitava o relacionamento mesmo com o título de Doutor adquirido por João.
A mãe dele, a Adelaide, ainda mantinha o orgulho, devido a rejeição sofrida por seu filho, mesmo não trabalhando mais para os pais de Maria.
O relacionamento foi se deteriorando e eles se separaram.
Os pais de Maria eram muito tradicionais e arranjaram um casamento com Lauro, que pertencia a uma família da alta sociedade. Eles não a obrigaram, mas induziram-na.
Lauro era um homem digno, bonito e muito atencioso, que encantou Maria embora ela não o amasse. Porém, a carência e a desistência de amar novamente fez com que ela aceitasse o casamento.
Quando João soube do matrimônio, procurou por Maria, mas foi impedido pelos seguranças.
No dia do casamento, Adelaide, o vendo muito triste, entendeu que orgulho não vale a pena. Afinal, Maria sempre foi boa moça e o carinho por seu filho, verdadeiro.
Então ela foi até o seu amado filho e disse:
- Escreva uma carta.
- Como entregar? – questionou ele.
- Procure a prima.
Então, João procurou por Juliet e pediu-lhe o favor. E ela atendeu, mas só conseguiu quando Maria estava, vestida de noiva, na porta da igreja. Foi então quando Juliet entregou a seguinte carta...

Maria,
Não sei ao certo onde nos perdemos ou porque separamos.
Não sei o que sentes, o que sentiu o que sentirás.
Porém, eu tenho a obrigação comigo mesmo de te dizer algo.
Eu quis falar pessoalmente, mas teus seguranças não permitiram.
Então segue estas linhas...
A simples sensação de te ver, desperta meus medos mais íntimos e mexe com minhas convicções. Chego a me perder em pensamentos a cada instante que recordo dos teus abraços.
 A vida passa muito rápido e se não pegarmos o trem da felicidade que está passando, podemos não ter outra oportunidade.
Quando estou longe, não consigo dormir sem pensar no meu desejo ardente de te sentir ao meu lado. Quando estou perto, não consigo dormir porque não quero perder um minuto de estar contigo.
Esta emoção que toma conta de meu ser me torna pleno e me faz saber como é viver uma vida intensa junto a ti.
Ficar longe é frustrante e desesperador.
O amor é esta coisa louca que nos torna desvairados por instantes, insanos por outro e que arrebenta com a razão nos deixando irresponsáveis e sem consciência.
O que é o despertar desta paixão avassaladora que faz de mim uma criança desprotegida e insegura?
Não quero perder um só instante do resto de minha vida longe de ti. Não consigo mais suportar a falta dos teus beijos, do aroma do teu perfume e da suavidade da tua pele.
A vida me ensinou que, mesmo sem ti, mesmo sem poder te ter, eu consigo sobreviver, mas se eu pudesse mudar o curso da história, eu certamente saberia a escolha a fazer.
Não quero lamentar, um dia, por te perder, mas vou me lamentar o resto da minha vida por não saber te manter.
Tu deves te perguntar:
“Será? Será que ele não consegue viver longe de mim?”
Eu te digo em alto e bom tom: “SIM! Eu consigo viver sem ti, mas me pergunte novamente o que eu escolho e eu direi que minha decisão sempre foi, e será estar ao teu lado com esta louca sensação de amor intenso”.

Após ler a carta, Maria chorou compulsivamente sem que seu pai tenha entendido absolutamente nada.
Sua prima a abraçou, lhe deu discretamente dinheiro para um táxi e sussurrou em seu ouvido:
- Lugar de sempre. Eu dei a ele suas roupas.
Então, Maria saiu correndo, embarcou em um táxi e desapareceu na avenida.
Anos passaram...
Ainda há quem diz que os pais de Maria nunca aceitaram o casamento, mas mudam de ideia quando os veem na pracinha babando com os três netos. 

domingo, 20 de abril de 2014

Zezinho do Cemitério

Em uma, não muito pequena, cidade interiorana, José Mauricio Cardoso era conhecido como Zezinho do Cemitério, porque tinha a maior fissura¹ em pular o muro do local onde os mortos descansam para arrombar jazigos e pichar túmulos. Seus amigos sempre o repreendiam por perturbar os falecidos, mas nada adiantava. O fato é que ninguém conseguia pegá-lo em flagrante, pois ele sempre conseguia um álibi e atacava sem o menor padrão desnorteando² os controles da polícia e da segurança do cemitério. Foram tantas as tentativas fracassadas que desistiram de pegá-lo.
Apesar do mau hábito ele era uma pessoa muito simpática e bonachona. Os que sabiam do seu vício tanto gostavam dele que não o entregavam para as autoridades.
Um dia as 3h00 da madrugada...   
– Ei Zezinho aonde você vai?
– Gildo! Que susto! Quer me matar do coração? O que faz na rua a uma hora dessas?
– Eu venho do trabalho, tive que fazer serão e você? Não vai me responder?
– Eu vou para o meu trabalho. Trabalho na madruga, esqueceu?
– Tô sabendo. Você não toma jeito, né?
– Qual é Gildo? Tá tudo morto! Não vai fazer falta, desencana.
– E o respeito? E o medo? Não tem medo?
– Ha ha ha, medo? Eu tenho medo de vivo e não de morto.
E lá foi o Zezinho do Cemitério atacar as suas vítimas indefesas.
Chegando ao local, deu uma boa conferida para ver se havia segurança, escolheu o lado mais escuro e pulou. Caminhando entre os túmulos para ver qual iria atacar, escolheu o que achou mais bonito e começou o arrombamento, mas de repente aparece um homem bem vestido com terno e gravata e diz:
– Olá!
O Zezinho pula assustado, quase gela, mas responde:
– Olá! O que faz aqui?
– A pergunta é – responde o senhor – O QUE VOCÊ FAZ AQUI?
– Bem, é que este é o túmulo do meu pai e ele foi enterrado com um paletó que no bolso tem um documento muito importante e que eu preciso muito – respondeu gaguejando.
– Ah! E por que não procura os meios legais?
Achando que a mentira estava colando, Zezinho mais tranqüilo segue:
– É que a burocracia é muito grande, e o tempo que tenho é muito pouco, aí resolvi agir.
– Mas isto não é legal.
– Eu sei, por isto vim a esta hora.
– Como você entrou aqui?
– Pulando o muro. Entrar é fácil, sair que é difícil – Zezinho deu gargalhadas.
– E não tem medo dos mortos?
– Medo? – mais gargalhadas – Há pouco respondi esta pergunta. Eu tenho medo de vivo e não de morto.
– Interessante! Então você não se importa se, daqui a pouco, eu receber meus convidados?
– Como assim? – Perturbou-se Zezinho.
– É que, como eu sou um recém chegado, vou dar uma festa para os mais antigos.
– Quer dizer que você? – volta a gaguejar
– Sim, você disse que não tinha medo, logo pensei que poderia ficar para me ajudar a recebê-los. Depois que fiz a minha passagem, nunca tive um ajudante vivo.
E lá se foi o Zezinho correndo desesperado. Escalou o muro como se fosse um gato e desapareceu na noite. O senhor dá uma gargalhada e percebe outra gargalhada que ecoa no cemitério e pergunta:
– Quem está ai?
– Não se assuste! Sou eu! Meu nome é Jonílson e eu estava vendo você aplicar naquele cretino.
– Pois é, eu sou o novo zelador do cemitério. Comecei ontem, e soube da fama deste safado. Eu me preparei para dar uma lição no cachorro. Mas o que você faz aqui? E como entrou?
– Eu rezo. Entrar é fácil sair que é difícil.
– Engraçado – risos – o canalha me disse a mesma coisa, mas você não pulou o muro né?
– Não!  – exclamou Jonilson – eu moro aqui, e a propósito queríamos agradecê-lo por nos livrar daquele peste. E se aquela festinha rolar mesmo, poderemos comemorar.
Soube-se que o Zezinho mudou de cidade, arrumou emprego e pediu para ser cremado quando morresse.
No jornal da cidade, no dia seguinte ao acontecimento, foi publicado nos classificados: 
PRECISA-SE DE ZELADOR DE CEMITÉRIO.

1 – Fissura – Gíria para excitação
2 – Desnorteando – Confundir, desorientar, tirar o norte.

domingo, 13 de abril de 2014

Tecnologia x tempo

Eu sou uma pessoa que já passou por várias fases da tecnologia.
Quando eu era criança, os computadores eram gigantescos e as únicas empresas que tinham eram os prestadores de serviços de processamento de dados, sim, este era o nome. Nada de informática ou tecnologia da informação. Tudo isto veio depois.
Alguns que lerão este texto não entenderão como, mas é fato.
Muitas vezes, empresas muito maiores tinham que processar seu faturamento, folha de pagamento, contabilidade e muitas outras coisas em empresas menores especializadas, que se chamavam bureaux (birô).
Internet então, nem pensar. Era todo off-line.
As empresas clientes enviavam os dados em discos ou fitas e recebiam o resultado no dia seguinte.
Algum tempo depois veio o teleprocessamento, cujos modens eram bem arcaicos e precisavam do telefone, o antigo, para funcionar, ou seja, não funcionava direto com o cabo como é hoje.
Naquela época, nem imaginávamos sair de casa sem dinheiro ou sem o talão de cheques. Entretanto, o cartão de crédito já existia, mas não era acessível para todos. Quem é muito jovem não sabe que o cartão não tinha integração, pois não havia a tarja magnética ou chip, muito menos rede nas lojas. Era um cartão com o número e dados do usuário em alto-relevo e tinha que ser passado em uma maquininha manual onde se colocava também um papel carbonado. Uma via a gente assinava, a que ficava com o comerciante, e a outra a gente guardava ou colocava fora porque clone nem sabíamos o que era. Depois, o comerciante juntava tudo, certamente tirava xerox – claro que tinha pô, eu não sou tão jurássico assim – para enviar a administradora que digitava no sistema, ou enviava para bureaux contratado. As vezes o prazo para pagamento chegava a 2 meses.  Tempo bom, né?
Com o passar dos anos a tecnologia foi melhorando e as empresas passaram a ter seus próprios CPDs – Centro de Processamento de Dados.
Durante os anos as coisas foram evoluindo até chegar onde estamos hoje. E agora a evolução é assombrosa.
A tecnologia facilita tanto as coisas que as exigências aumentaram absurdamente.
Antigamente tinha-se mais prazo para fazer as coisas. Hoje é tudo para ontem, e isto nos leva no embalo a correr para todos os lados e o tempo acaba.
Ah se o dia tivesse 25 horas, sempre dizemos. Porém, se ele tivesse também reclamaríamos.
Outrora o tempo era curto para fazermos as coisas porque demorávamos mais por falta de recursos. Hoje temos recursos e acabamos absorvendo mais atividades, o que nos deixa sem tempo.
Vale a pena tudo isto?
Eu vejo toda hora, pessoas nas ruas, em bares, até em campo de futebol vidrados no seu “algumacoisaphone” e se esquecem de aproveitar o evento que estão participando. Tudo bem que a maioria usa para se divertir, mas esquecem de aproveitar o resto.
Estaria o ser humano ficando doente?
A tecnologia é a droga do século XXI?
O “cara” que inventou a tecnologia deveria colocar um rótulo dizendo: “Tecnologia é para aproveitar o tempo e não aumentá-lo”. E o ministério da saúde deveria obrigar a usarem em todos os tipos de divulgação a frase: “Ministério da saúde adverte: O uso contínuo pode causar dependência”.
Eu sei que o progresso tecnológico é muito importante, inclusive é a minha área, e é um barato postar instantaneamente aquela foto engraçada ou importante nas redes sociais. No entanto, quando vejo crianças grudadas nos telefone, PCs, tablets e videogame eu me lembro do meu velho jogo de botão e do jogo de tacos.
Como era bom aquele tempo!

domingo, 6 de abril de 2014

Adeus a um ídolo

Eu já estava com post de hoje pronto e programado.
Então resolvi fazer um banco com madeiras de demolição. E estava fazendo quando minha esposa me deu uma notícia. Aí eu larguei tudo e, com muita tristeza, vim escrever este texto.
Quando eu estava entrando na adolescência, era moda as pessoinhas da minha idade usarem óculos escuros. Nós dizíamos que era para fazer grau.
Nesta época, estava passando uma novela chamada Cavalo de Aço, onde um personagem do mal, usava certo modelo. O nome deste personagem era Atílio.
Eu fui com a minha mãe na loja e não sabia explicar qual eu queria. Então, minha mãe falou:
– Ele quer os óculos do Atílio.
Morri de vergonha, mas graças a supermãe consegui o que eu queira.
O fato importante desta história é que eu me identifiquei com o ator que fazia o papel, mesmo sendo um personagem malvado e dos ruins mesmo.  
Desde então eu peguei fama de torcer para os bandidos, mas não é verdade, pois foi pura identificação com o artista.
E este ator que, a partir daí, sempre foi o meu número 1, é José Wilker.
Quem me acompanha já viu eu mencioná-lo no post EU! e em algumas entrevistas que dei para outros blogues. Sempre que me perguntam qual ator preferido, eu cito dois, o querido Zé e Sean Connery, e olha que o JW sempre vem na frente do poderoso 007.
Inclusive dei, esta semana, uma entrevista que será publicada no Boteco de Blogueiros, no dia 11 deste mês, onde cito novamente os meus preferidos.
A minha maior alegria na questão cinéfila foi o filme Medicine Man, quando os dois contracenaram. Foram apenas duas cenas, mas tive o orgulho e a felicidade de vê-los juntos.
Eu sempre achei que José Wilker é o Sean Connery brasileiro.
Eu não sou tiete.
Já cruzei com muitos atores e jogadores em aeroportos e hotéis e nunca pedi autógrafos ou para tirar fotos.
Porém, há alguns que a gente se identifica. E certamente, se um dia eu tivesse tido a oportunidade de tirar uma foto com ele, eu teria feito.
É, apesar de eu achar que sempre se é jovem demais para morrer, esta é a única certeza da vida. Se bem que, para nosso íntimo, os ídolos nunca morrem.
Eu não preciso aqui falar do seu talento e da sua importância para a TV, cinema, teatro ou outras artes brasileira. A sua contribuição é notória e reconhecida por todos. Não há como contestar que ele fará muita falta.
Eu sou quero expressar o meu carinho a um ídolo que eu acompanho desde adolescente. E o que eu posso dizer para ele é apenas uma frase copiando um de seus personagens...

José Wilker, a tua partida foi injusta, muito injusta, injustíssima, mas tu és, foi e sempre será “felomenal”.