– Sim meu filho.
– Eu não sou teu
filho.
– O que é então?
– Teu neto!
– Ah. Está bem meu
neto. Ia me perguntar algo?
– Sim. Quem é
aquela menina?
– Hum. É a filha do
capataz.
– O que é capataz?
– É o homem que
cuida da fazenda para mim, meu braço direito.
– Braço direito?
– Sim – risos –
quer dizer meu ajudante número um.
– E o que ela está
fazendo?
– Acho que está
lendo.
– Embaixo daquela
árvore?
– Ela sempre lê
ali. Ela gosta.
– Por quê?
– É um pé de
Jasmim, dá uma flor muito cheirosa nesta época.
– Posso falar com
ela?
– Claro! Ela é uma
menina muito doce.
Alguns passos
depois ...
– Oi.
– Olá. Qual o seu
nome?
– Paulinho e o seu?
– Dora.
– O que está lendo?
– Um livro de
poesia, gosta?
– Não! Isto é coisa
de meninas.
– Quem disse?
– Meu pai.
– Ele está errado, sabia?
– Será?
– Deixa para lá.
Quantos anos você tem?
– Nove.
– Eu também.
– Por que você está
embaixo desta árvore?
– Porque gosto do
perfume das flores.
– É! Você tem razão
é muito perfumada.
– Você é da cidade,
né?
– Sim. Como sabe?
– Nunca vi você
aqui e depois parece saber pouco do campo.
– É a primeira vez
que passo as férias aqui na fazenda do vovô.
– Está gostando?
– Cheguei hoje, mas
até agora gostei e você gosta daqui?
– Sim! É silencioso
de dia e de noite. Tem os animais, as flores e o campo.
– Vai ficar aqui a
vida toda?
– Não. Eu quero
estudar e ser Doutora de animais.
– O vovô está me
chamando. Amanhã você vem aqui?
– Sim. Eu venho todos
os dias.
Os dias passam.
Paulinho e Dora se tornam muito amigos, mas chega o fim das férias.
– Dora! Gostei
muito de te conhecer.
– Eu também. Quando
você volta?
– Nas próximas
férias, acho.
– Vai demorar, né?
– Acho que sim.
– Que pena.
– Pena mesmo. Esta
noite eu sonhei com você.
– Que sonho?
Paulinho.
– Que estávamos
sentados embaixo do pé de Jasmim, com este campo verde cercado de rosas, comendo
chocolate.
– Gostei, vou pedir
para o papai plantar as rosas ao redor do campo.
– Legal! Quando eu
voltar, trago o chocolate da cidade.
As crianças começam
a rir, deixam cair uma lágrima e se abraçam carinhosamente. Enquanto Paulinho
se afasta, caminhando de costas, Dora vai acompanhando com os olhos.
Começa a cair uma
chuva fina e quente. Paulinho abre os braços e levanta a cabeça para o céu
sentindo, no rosto, os pingos caírem.
– Ei – exclama ela
– o que está fazendo? Sai desta chuva.
– Adoro sentir os
pingos – gritou ele.
Nas férias do ano
seguinte, Paulinho não vai a fazenda devido a uma viagem realizada por sua
família. Ambos ficaram com o coração apertado.
Mais um ano se
finda. Porém, o avô de Paulinho falece e a família vende a fazenda. O pai de Dora
arruma outro emprego em uma fazenda muito mais longe.
O tempo passa, Paulinho se formaem Agronomia. Ele tem
alguns relacionamentos que nunca conseguem evoluir. Parece preso ao amor que
sentiu quando criança. Entretanto, mal no amor bem nos negócios. Ele faz muito
sucesso no seu ramo e é indicado para fazer um trabalho em uma fazenda
localizada em outro estado.
O tempo passa, Paulinho se forma
Chegando ao local,
foi recebido pelo dono, mas repara o campo verde cercado por rosas e uma moça
sentada embaixo de um pé de Jasmim e pergunta:
– Quem é a moça?
O dono da fazenda
sorri e responde : – Nossa Veterinária Dra. Lice.
– Ah (decepção) –
Por um momento achei que a conhecia.
– É mesmo?
Confundiu com alguém?
– Acho que sim.
Este cenário é muito familiar.
– Vamos lá, eu
te apresento a ela.
E chegando próximo...
– Doutora! Este é o
nosso novo Engenheiro Agrônomo, Dr. Paulo. Deixarei vocês conversando.
– Você me lembra alguém
– disse ela.
– Engraçado. Por um
momento achei te conhecia.
– Por quê?
– Reparei o campo,
as rosas, você sentada embaixo deste pé de Jasmim. Lembrei de um sonho que tive
há muito tempo e de uma pessoa muito especial.
– Mesmo – exclamou
a Doutora – e se começasse a chover agora o que você faria?
– Eu abriria os
braços, olharia para o céu e deixaria a chuva cair no meu rosto para sentir os
pingos.
– Paulinho?
– Dora? Mas como? Dra.
Lice?
– É de Doralice – risos
– eu odiava este nome. Lice é da faculdade.
Os dois se abraçam
e um longo beijo de amor é assistido pelos pássaros.
– Pensei que nunca
mais iria te encontrar – disse ele.
– Pois é, quando
seu avô faleceu nos mudamos para cá. Eu me formei em veterinária e acabei
trabalhando nesta fazenda onde meu pai se aposentou. Pedi a ele para plantar as
rosas e eu mesmo plantei o pé de Jasmim.
– Parece meu sonho.
– Eu lembro, mas
está faltando o chocolate.
Deram risadas e
saíram caminhando pelo campo em direção ao pôr do Sol revezando as mãos dadas
pelos abraços. Lembraram do tempo que se conheceram e conversaram sobre as suas
vidas desde o dia que se despediram embaixo do pé de Jasmim.