Agostinho é um cara
legal, simpático, boa praça e muito divertido. Como é jovem adora uma farra, principalmente com mulheres. Não consegue se concentrar em nada quando vê um
rabo de saia. Dizem os amigos que ele nunca sai das baladas solteiro. Ele é do
tipo que “casa” na festa e se “divorcia” no dia seguinte. A sua lábia é boa e
com facilidade transforma as mulheres em presas.
Entretanto, um dia ele
perdeu o instinto caçador. Foi quando ele conheceu Amanda.
Amanda, moça linda,
alta, corpo escultural e dona de uma simpatia que encanta qualquer homem, o
deixou de quatro desde que foi contratada para trabalhar na mesma empresa que
ele. Era conhecida como
lábios de mel, e com ela, nada conseguia, por mais que ele tentasse.
Amanda era a mancha
branca na negra ficha de Agostinho.
Ele passou dias
tentando conquistar a moça, que por sua vez, não caiu na conversa do malandro.
Como ele ficava atento a
qualquer movimento dela, na manhã da véspera do réveillon mais aguardado
do século, dia 31 de dezembro de 1999, Agostinho ouviu sua conversa ao telefone...
− Sim, a festa vai ser
lá em casa, mas tá difícil conseguir o peixe para a ceia. Não há mais peixes
para comprar. Eu sou capaz de dar um beijo no primeiro que aparecer lá em casa
com um peixe.
O malandro, cujo pai
era amante de frutos do mar, percebendo uma grande oportunidade de mudar a sua
sorte, ligou para casa:
− Alô Pai! Tem um peixe
no freezer?
− Tem dois de 5 kg?
− Vai usar?
− Não.
− Beleza! Eu quero um.
Tira do freezer para mim.
Ao meio dia, ele saiu do trabalho, passou na
loja de perfumes importados comprou o mais caro e depois foi a uma loja de
roupas de marca. Adquiriu as tradicionais roupas com as cores do ano para a
virada e depois, com o último suspiro do limite de seu cartão de crédito,
abasteceu o carro. Em casa, deu R$ 50,00 para a empregada temperar o glorioso
peixe e iniciou o preparo para a noite surpresa. Primeiro uma relaxada e depois
a produção. Só que o malandro dormiu demais e ao abrir os olhos teve aquele
estalo de quando a gente se lembra de alguma coisa importante que deveria ter
feito e não fez.
− Festa na Amanda –
gritou ele.
Correu para o chuveiro,
tomou um banho rapidamente, colocou o perfume e as roupas novas, foi para a
garagem e seguiu para a casa da Amanda. Quando ele estava a duas quadras do
destino, se deu conta que faltava alguma coisa.
− Merda! O peixe!
Ele voltou para buscar
aquilo que seria a chave das portas de sua felicidade. Só que o trânsito
para o lado da sua casa já estava complicado e ele perdeu mais de meia hora para
chegar. Finalmente, com o peixe, ele conseguiu tomar rumo da noite que
imaginava ser a melhor de sua vida. Ao chegar, na maior cara de pau, na casa
da linda moça, tocou a campainha e ela abriu a porta. Ele, com os braços estendidos, apresentou o
peixe e disse:
− Surpresa!
− Ai que fofo. Ficou
sabendo do meu desespero, mas a Glorinha trouxe um peixe. Não tem problema. Entre! Vamos assar este
também.
Ao entrar ele deu de
cara com mais dez mulheres, e detalhe só mulheres. Todas olhando para o peixe
em suas mãos e dando sorrisinhos disfarçados.
Totalmente sem graça e
sem saber o que fazer, ele entrou meio desconfiado já pensando que não foi uma
boa ideia furar a festa que nunca imaginou ser feminina. Enquanto ele pensava
no beijo que perdeu porque a Glorinha chegou à sua frente, o seu presente foi para
o forno, mas como já era perto da meia noite a ceia iniciou com o peixe daquela
que ele queria arremessar pela janela.
− Nem tudo está perdido
– pensou ele – afinal estou aqui com um monte de mulheres.
Porém, o
ditado que diz “quem quer muito não ganha nada” funcionou com ele. Ele queria a
Amanda, logo não poderia se engraçar com outra moça para não queimar o filme.
No entanto, Amanda com tantas amigas convidadas para conversar não conseguia
dividir a atenção com o penetra. O nosso amigo ficou ainda mais frustrado porque
o peixe da Glorinha, que também tinha um tamanho respeitável, deixou todas as
meninas saciadas fazendo com o que seu esforço fosse em vão, pois o seu
peixinho de 5 kg já suculentamente assado sobrou inteirinho. Porém, Agostinho
não quis perder a viagem e entre uma taça de champanhe e outra ele dava uma
garfada no suculento.
Resumindo a noite de
Agostinho foi peixe e champanhe, champanhe e peixe.
Ele bebeu tanto que caiu no
sono atrás do sofá da sala da Amanda que também em estado alcoólico sem dar
condições de raciocínio foi para seu quarto dormir. Duas amigas foram para o quarto de hóspedes, pois as
outras já tinham ido embora.
Ao amanhecer, para ele
é claro, porque já era 11 da manhã, meio perdido, tentando lembrar a placa do
caminhão que teria passado por cima, aguardou aquele estalo acontecer novamente
e...
− Amanda! Estou na casa
da Amanda.
Só que não havia
ninguém e ele estava preso na casa. Amanda não tinha telefone fixo. Então, ele
procurou o celular que nem imaginava onde estava. Tudo que sentia era aquele
cheiro do peixe que a partir daquele momento ficou insuportável. Mesmo com
aquela fominha que dá ao acordar, e a geladeira desprovida, Agostinho não podia
pensar em qualquer coisa que nadasse. Ele achou um molho de chaves e
experimentou todas na porta sem êxito. Quando o desespero ia se instalar ele
tropeçou no celular que estava no chão embaixo de uma almofada. Assim, ligou
para a Amanda:
− Oi fiquei preso na
tua casa.
− Como assim?
− Não sei. Só sei que
estou aqui e to preso.
− Sim! Eu fechei a
porta. Achei que tinha ido embora.
− É uma longa história.
− Pior que estou longe, muito longe.
− Achei um molho de chaves.
− Ah! Uma delas abre a
janela.
Ele conseguiu abrir a
janela, pulou e se mandou para casa.
Ao chegar cansado, com dor de cabeça e a fim de comer uma coisinha qualquer, encontrou sua
mãe sorridente.
− Filho! Não achei que
viria para o almoço, mas deu sorte. Olha o que a mamãe fez para você.
E ela mostra um peixe
assado.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é muito próxima da realidade.