Rogério é um cara tímido, na verdade, terrivelmente
tímido. Foi convidado para participar de uma festa de aniversário e sentou-se
sozinho. O salão está lotado. A única mesa que tem lugares vagos é a dele. Para
sua sorte, ou seu azar, não chega mais ninguém. Parece que todos que
confirmaram presença já chegaram. Sua única companhia é o garçom que serve sua
mesa. Assim mesmo, quando aparece, pois Rogério tem vergonha de chamar.
Próximo da meia-noite, uma bela moça, ao
contrário da Cinderela, veio ao encontro das doze badaladas. Todos pararam para
admirar tal beleza exuberante que floriu o ambiente, inclusive Rogério, que
embora introvertido, não é cego. Discretamente, ele estica o pescoço para uma melhor
visão.
Ela olha para um lado, para outro, dá alguns
passos, esquiva-se de alguns approaches, sorri para algumas gracinhas e é
gentilmente abordada pela promotora da festa. Esta explica que a única mesa com
lugares disponíveis é justamente a do Rogério. Ambas se aproximam, e a
promotora explicando que não há mais lugares pergunta se ele se importa. Mesmo
com a batida de seus joelhos sincronizada com a dos dentes, ele consegue sorrir
e permite a companhia.
– Está com frio? – ela pergunta.
– Um pouco.
– Meu nome é Luana e o seu?
– Rogério.
– O que faz?
– Sou analista de finanças de uma
transportadora.
– Legal. Trabalho com comércio exterior.
A noite vai passando e Rogério consegue se
soltar um pouco mais, sorri, dá gargalhadas e até dança. Para quem queria ir
embora mesmo antes de chegar, a noite está rendendo. Porém, como tudo na vida
passa, principalmente uma noite maravilhosa, Luana levanta-se para ir embora. Rogério
oferece uma carona, mas a linda princesa veio com a sua carruagem, quer dizer,
seu carro. Ela olha para ele com ternura, beija-o no rosto e escreve no único
objeto sobre a mesa, um guardanapo. Dá três passos para trás, mais um sorriso,
vira-se e sai devagarinho transformando o trajeto da mesa até a saída numa passarela.
Somente quando ela sai do seu campo de visão é que Rogério consegue ler o que
estava escrito:
– Rogério: Adorei te conhecer.
Ela também escreveu o número do telefone.
Imediatamente ele passa o número para a
agenda de seu celular, mas mesmo assim, guarda o papel como relíquia e só pensa
em dormir feliz.
O que ele não percebeu foi que seu amigo, ou
melhor, amigo da onça, Júlio André, ficou observando a noite toda. Rogério mal se
levanta para ir embora e Júlio André o aborda.
– Ai moleque, que sorte a sua. Um mulherão
daqueles na tua mesa.
– É, você viu?
– E como não? Quem não conhece a Luana? Tremenda
gostosa ai.
– Ela me deu o telefone.
– É mesmo?
– Sim. Escreveu no guardanapo.
– Mas, você não vai pega ela.
– Pegar? Sair com ela, você quer dizer?
– Tanto faz, ela não vai querer.
– Isto é ela quem decide, não acha?
– Você vai ver. Eu sei onde ela almoça e
amanhã eu vou roubá-la de você. Quer apostar?
– Não. Mesmo sabendo que vai perder, este
tipo de coisa não se aposta.
– Então vai ver.
No outro dia, Júlio André faz tocaia no
restaurante de costume da Luana, se apossa de uma mesa e espanta todos os
candidatos que lhe fariam companhia. Para quem se aproxima, ele diz:
– Ocupada. Ta ocupada. Estou esperando
alguém.
Quando Luana entra no recinto, ele a chama.
– Luana! Luana! Aqui tem lugar.
De tanta insistência ela senta.
– E ai? Tudo bem? – perguntou ele.
– Tudo bem e você?
– Pois é. Eu vi você na festa ontem. Estava muito
gata.
– Obrigada.
– E o Rogério te chateou muito, aquele mala?
– Claro que não – risos – ele é uma gracinha.
– Uma gracinha? – gargalhadas – ele é um mala
sem alça. É meu amigão, mas um coitado, muito sem graça.
– Não pareceu.
– É porque você ainda não conhece ele.
– Mas a noite foi muito agradável.
– Então espera para conhecer melhor – muitos
risos.
Após o almoço e tantas detonações no Rogério,
o atendente vem até a mesa e retira tudo menos o guardanapo embaixo da mão de Júlio
André que o segura, e propositalmente bate com os dedos como se estivesse tocando
piano com apenas uma mão querendo chamar a atenção de Luana para o pedaço de
papel.
Ela pede licença, levanta-se, puxa o
guardanapo tirando-o de Júlio André, escreve algo, vira-o para baixo, curva-se
em uma pose bem sensual, solta um sorriso, faz biquinho, leva a mão até a boca
e atira um beijo para ele. Dá três passos para trás, mais um sorriso, vira-se e
sai rapidamente. Ao vê-la partir, Júlio
André feliz da vida, vira o guardanapo onde está escrito: Babaca.
Eu adoro as suas narrativas, é possível sentir o texto, entrar na cena e acompanhar a história quase como se ela fosse uma memória nossa, cheia de detalhes. Os desfechos também são ótimos, você escreve muito bem.
ResponderExcluirTodas as coisas que o Júlio André disse a respeito do Rogério se aplicavam mais adequadamente a ele mesmo. Gente que acha que pode se dar bem detonando outras pessoas realmente merecem o adjetivo Babaca.
Ótimo texto.
Beijos
semprovas.blogspot.com
Oi Mayra, obrigado. Pior que existem muitos Julios Andrés por ai.
ExcluirSilvio Amaral: Hahahaha... Chupa, Julio André!!!
ResponderExcluirHe he he ... ele se ferrou.
ExcluirCoitado dele ele não merecia isso. Claudio tenha uma linda semana, beijos.
ResponderExcluirLinks:
Estrela da Manhã
Lucimar Virtual
Divulgue seu blog no face
Ele merecia sim Lucimar, este personagem é muito mala.
ExcluirObrigado.
Um babaca mesmo, as mulheres gostam de homens naturais...que não forçam situações.
ResponderExcluirBeijos, Cláudio!
Isto ai Lu. É importante deixar as coisas rolarem sem forçar a barra e sem detonar os outros.
ExcluirMUITO bom, teu conto! Esperava uma atitude como essa de Luana. Mulheres sabem com que homens estão lidando. Como sempre um ótimo humor, cheio de desconcentração.
ResponderExcluirDescontração* haha
ResponderExcluirFoi se o tempo que a mulher era boba, ou melhor, se fazia de boba, agora estão mostrando a força.
ExcluirObrigado B.
Adorei! :)
ResponderExcluirCom um "amigo" desse, ninguém precisa de inimigo...
Que bom que gostaste.
ExcluirEste Júlio André relamente não é amigo de ninguém.
adoorei o texto!
ResponderExcluirBeijos!
Obrigado.
ExcluirBjs.
Kkkkkkkkkk...mereceu! Um abraço!
ResponderExcluirÉ, mereceu mesmo - rsss.
ExcluirAbraço.
Amigo da onça mesmo, bem feito. Júlio André, um babaca sem dúvida kkkkkkkk
ResponderExcluirOi Claudio, já postei o final da história, não perca hein rsrsrsrs
http://inspiracaoentrelinhas.blogspot.com.br
Beijos!!!
Não perdi Zane, já li e comentei.
ExcluirExistem mais amigos da onça por ai, ainda bem que também temos muitas Luanas.
Beijos
Hahaha! Eu ri! E não esperaria comportamento diferente de uma dama!Ótimo texto!
ResponderExcluirObrigado Andressa.
Excluirhaha, AMEEI!!
ResponderExcluirIncrível como seus textos me prendem a atenção. Deverias escrever um livro de crônicas.
bjs
http://oicarolina.wordpress.com
Prentendo escrever Carolina, mas precisa de grana, as editoras não dão moleza.
ExcluirObrigado.
Beijos
Bem feito pro Júlio André, haha. Ótimo texto.
ResponderExcluirJá pensou em ter um conto publicado em um livro, lá no blog, no post de hoje, falei sobre um livro que a editora Andross vai lançar com contos de diversos autores com o tema "animais de estimação". Quem sabe você se interessa. petalasdeliberdade.blogspot.com
Opa, já respondi acima. Penso em escrever sim e já copiei o link da Editora. Tenho uma história para contar.
ExcluirObrigado.
Suas narrativas são ótimas e bem elaboradas e bem criativas. Adoro vir aqui ler ler ler ler e ler mais so para admirar suas narrativas. Claudio tem que escrever um livro de narrativa e vou ser o primeiro a comprar.
ResponderExcluirPuxa Rodrigo, que elogio. Como disse acima quero sim escrever um livro. Preciso juntar capital;
ExcluirObrigadão.
Abraço.
Muito bacana! É sempre bom ver (mesmo em uma história) um babaca que se acha levando um toco de uma mulher bonita.
ResponderExcluirComo sempre, seu conto ficou muito bom e cheio de humor.
Abraço!
Ricky, a estória é fictícia, mas o pior é que o personagem é baseado em um babaca real. Claro que o nome não será revelado para ele não ser apedrejado. He he he
ExcluirOi Claudio! Estou passando para te desejar um lindo fim de semana e me deparo com esse texto...sou só risos...mereceu o nome de " Babaca" você faz isso muito bem, adoro ler tudo o que você escreve...
ResponderExcluirBeijos
Marilene
Blog/marilene folhasFloreseSutilezas
Obrigado Marilene.
Excluireita...
ResponderExcluirrsss
ExcluirSuper legal...
ResponderExcluirSuzana Rosa - www.rosachiclets.com.br
Obrigado Rosa.
ExcluirOlá Claudio tudo bem?
ResponderExcluirGostei do texto, porque é exatamente isso que uma MULHER de verdade diz a um bobo da corte que se acha muito, parabéns belo final, gostei.
Tenha uma ótima semana!
Abraços
R e M
Obrigado.
ExcluirConcordo contigo, Pior que só existem caras assim porque há mulher que gosta, mas a Luana não - rsss.
Oi Claúdio, tudo bem?
ResponderExcluirViajando pelo mundo dos meus amigos blogueiros, encontrei o seu cantinho.
Gostei do que encontrei. Vou ser seu seguidor.
Lindo e engraçado texto.
Babaca: por aqui chamamos de estilo pegador. mas que não pega nada, nem dengue.
Acho encantador mulher que se valoriza.
Um abraço.
Ótima e abençoada semana.
Espero a sua vista.
Já estou lá professor.
ExcluirObrigado.
Serve de exemplo pra quem se acha o melhor...
ResponderExcluirEstou lhe seguindo!
Obrigado Vanessa.
Excluirtoma! kkkk
ResponderExcluiradorei o texto, final surpreendente!
he he he Que bom.
ExcluirObrigado Le.
Olá, Claudio.
ResponderExcluirExcelente narrativa; pena que, na vida real, muitas vezes pessoas cheias de más intenções como estas acabam se dando bem.
Abraço.
Boa noite amigo Cláudio.
ResponderExcluirVocê tem uma habilidade especial com as palavras, um dom especial. Gosto muito de suas produções com sua forma envolvente e bem humorada de descrever situações cotidianas.
Passei para agradecer sua gentileza e atenção.
Um grande abraço,
Abigail (Cantinho da Biga)
Gostei muito do texto!
ResponderExcluirFoi muito legal ir imaginando como acabaria e me diverti muito com o final!
O Júlio André mereceu!
...beijinhos***
Existe tantos Júlios Andrés nesse mundo que se acham o garanhão e na verdade são os babacas, por isso prefiro ser um Rogério, cara tímido.
ResponderExcluirhttp://www.arthur-claro.blogspot.com