domingo, 20 de abril de 2014

Zezinho do Cemitério

Em uma, não muito pequena, cidade interiorana, José Mauricio Cardoso era conhecido como Zezinho do Cemitério, porque tinha a maior fissura¹ em pular o muro do local onde os mortos descansam para arrombar jazigos e pichar túmulos. Seus amigos sempre o repreendiam por perturbar os falecidos, mas nada adiantava. O fato é que ninguém conseguia pegá-lo em flagrante, pois ele sempre conseguia um álibi e atacava sem o menor padrão desnorteando² os controles da polícia e da segurança do cemitério. Foram tantas as tentativas fracassadas que desistiram de pegá-lo.
Apesar do mau hábito ele era uma pessoa muito simpática e bonachona. Os que sabiam do seu vício tanto gostavam dele que não o entregavam para as autoridades.
Um dia as 3h00 da madrugada...   
– Ei Zezinho aonde você vai?
– Gildo! Que susto! Quer me matar do coração? O que faz na rua a uma hora dessas?
– Eu venho do trabalho, tive que fazer serão e você? Não vai me responder?
– Eu vou para o meu trabalho. Trabalho na madruga, esqueceu?
– Tô sabendo. Você não toma jeito, né?
– Qual é Gildo? Tá tudo morto! Não vai fazer falta, desencana.
– E o respeito? E o medo? Não tem medo?
– Ha ha ha, medo? Eu tenho medo de vivo e não de morto.
E lá foi o Zezinho do Cemitério atacar as suas vítimas indefesas.
Chegando ao local, deu uma boa conferida para ver se havia segurança, escolheu o lado mais escuro e pulou. Caminhando entre os túmulos para ver qual iria atacar, escolheu o que achou mais bonito e começou o arrombamento, mas de repente aparece um homem bem vestido com terno e gravata e diz:
– Olá!
O Zezinho pula assustado, quase gela, mas responde:
– Olá! O que faz aqui?
– A pergunta é – responde o senhor – O QUE VOCÊ FAZ AQUI?
– Bem, é que este é o túmulo do meu pai e ele foi enterrado com um paletó que no bolso tem um documento muito importante e que eu preciso muito – respondeu gaguejando.
– Ah! E por que não procura os meios legais?
Achando que a mentira estava colando, Zezinho mais tranqüilo segue:
– É que a burocracia é muito grande, e o tempo que tenho é muito pouco, aí resolvi agir.
– Mas isto não é legal.
– Eu sei, por isto vim a esta hora.
– Como você entrou aqui?
– Pulando o muro. Entrar é fácil, sair que é difícil – Zezinho deu gargalhadas.
– E não tem medo dos mortos?
– Medo? – mais gargalhadas – Há pouco respondi esta pergunta. Eu tenho medo de vivo e não de morto.
– Interessante! Então você não se importa se, daqui a pouco, eu receber meus convidados?
– Como assim? – Perturbou-se Zezinho.
– É que, como eu sou um recém chegado, vou dar uma festa para os mais antigos.
– Quer dizer que você? – volta a gaguejar
– Sim, você disse que não tinha medo, logo pensei que poderia ficar para me ajudar a recebê-los. Depois que fiz a minha passagem, nunca tive um ajudante vivo.
E lá se foi o Zezinho correndo desesperado. Escalou o muro como se fosse um gato e desapareceu na noite. O senhor dá uma gargalhada e percebe outra gargalhada que ecoa no cemitério e pergunta:
– Quem está ai?
– Não se assuste! Sou eu! Meu nome é Jonílson e eu estava vendo você aplicar naquele cretino.
– Pois é, eu sou o novo zelador do cemitério. Comecei ontem, e soube da fama deste safado. Eu me preparei para dar uma lição no cachorro. Mas o que você faz aqui? E como entrou?
– Eu rezo. Entrar é fácil sair que é difícil.
– Engraçado – risos – o canalha me disse a mesma coisa, mas você não pulou o muro né?
– Não!  – exclamou Jonilson – eu moro aqui, e a propósito queríamos agradecê-lo por nos livrar daquele peste. E se aquela festinha rolar mesmo, poderemos comemorar.
Soube-se que o Zezinho mudou de cidade, arrumou emprego e pediu para ser cremado quando morresse.
No jornal da cidade, no dia seguinte ao acontecimento, foi publicado nos classificados: 
PRECISA-SE DE ZELADOR DE CEMITÉRIO.

1 – Fissura – Gíria para excitação
2 – Desnorteando – Confundir, desorientar, tirar o norte.

33 comentários:

  1. O que foi isso?
    Claudio eu estava lendo o texto e fiquei impressionado como você consegue fazer um texto de terror rs. Para tudo que eu quero acordar desse pesadelo rs. Para você ter uma ideia fiquei tão impressionado que estou olhando até para janela kkkkk.

    Abraço amigão
    rodrigobandasoficial.blogspot.com.br

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  2. Amiga um domingo de pascoa maravilhoso
    para você e família, coitado do Zezinho eu tenho
    certeza que nunca mais ele vai entra no cemitério.
    Venha participar do sorteio de um ano do blog
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

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  3. amigo,
    adorei esse texto!!!!Muito engraçado , divertido mesmo!!!!
    Quem não temeria uma festa só com os que vivem do outro lado?????
    Zezinho entrou numa furada!!!!!!
    bjus
    http://www.elianedelacerda.com
    Alguém se candidatou a ser zelador?

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  4. Hahahhaha, sabia que teria algum habitante do local mostrando pra eles que nem tudo é ficção ;D As nossas fantasias as vezes podem ser mais reais, do que imaginamos.

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  5. Como sempre, diverti-me muito lendo teu texto Claudio. Você sabe contar estórias de uma forma muito fácil e agradável.

    O texto ficou muito engraçado, bem que o Zezinho precisava mesmo de uma lição pra parar de mexer no que está quieto. haha

    Bjs

    eraoutravezamor.blogspot.com
    semprovas.blogspot.com

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  6. kkkkkkkkkkkkkk
    Não consegui conter risos Claudio, como sempre, você tem as melhores estórias para nos contar!
    Isso tudo me lembrou uma velha piada de um bêbado no cemitério, que se depara com uma alma penada.
    Beijos!

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  7. Adorei o texto, super engraçado! Seu jeito de contar história é muito bom!

    Tem post novo no blog!
    http://sindromedaeradeouro.blogspot.com.br/2014/04/pelo-interfone.html
    Vem cá nos fazer uma visitinha!

    Estou seguindo seu blog, beijos!

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  8. Já era de esperar esse final, adorei o texto.
    Me lembrei de Eva Furnari com uma mistura de Vérissimo.
    Deu pra viajar bastante nesse seu texto, parabéns pela criatividade.

    XOXO :D
    Joven Clube | Clique aqui :)

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  9. Muito divertido...parabéns pelo seu talento!
    Beijo
    Letícia
    www.leticiapsicologa.blogspot.com.br

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  10. rsrsrsrsrs...
    Adorei, Claudio. Muito criativo.
    Remeteu-me às histórias de 'assombração' que meu pai contava na minha infância e que me faziam cobrir a cabeça na hora de ir para a cama-rsrsrs.
    Ótima narrativa.

    Abraço.

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  11. Nem preciso dizer que eu gostei muito, né?!
    Um susto atrás do outro! Esse negócio de entrar em cemitério!!!!
    Lembra piada e o final "daquele desenho do Pica-Pau na cidade fantasma"! Eu racho quando o fantasma faz "Boo" =D

    "3 - Bonachona: pessoa dotada de bondade natural e que é simples, ingênua e paciente".

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  12. KKKKKKK, Você é D ++++++++.

    E não é que a gente acaba ficando com pena do Zezinho?
    Bjssssss amigo e obrigada pelo carinho

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  13. Adorei e ri muito,Claudio!Você se superou nesse conto!

    Amo seu blog.Desculpe a demora na visita,mas meu marido foi operado,está tudo bem,mas somente hoje pude retornar.

    Obrigada pela visita

    Beijos e uma semana de alegrias

    Donetzka

    Face Book:


    https://www.facebook.com/donetzka.cercck


    Blog Magia de Donetzka


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  14. Adorei essa história, pobre Zezinho rsrsrsrs
    Nossa vc é muito criativo hein!
    bjcas
    http://estou-crescendo.blogspot.com.br/

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  15. amei seu post muito legal mesmo parabéns
    http://crisartigosfemininos.blogspot.com.br

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  16. Amigo passando para ti deseja uma boa noite
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

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  17. Gostei do texto, não só por ser de um gênero que gosto. Mas por ser também bem escrito e desenvolvido. Muito bom!
    http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  18. Caramba...
    Gostei muito desse blog, do texto e, sem brincadeira, acabei de escrever uma resenha no meu blog sobre o livro 1984 e... quando entrei aqui e vi o "2+2=5" fiquei impressionada com a coincidência!!

    Estou seguindo!!
    Até mais!
    http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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  19. Eita! Segui um caminho, ri do seu conto, e me surpreendi, pois parece que o zelador já era morador de lá, eis que a cidade ainda está à procura de um (hehehehehehe). Abraço.

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  20. kkkkkkkkk.

    Bela anedota.
    texto muito divertido.
    Quando eu crescer quero ser igual a você


    Eu pensei que seria "Desnorteando"

    brendovieira.blogspot.com

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  21. AHHAHAHAHAH
    adorei
    gosto desse tipo de humor. Esse cemitério tá mais movimentado que tudo :P

    Um beijo
    www.naotenhopressa.com

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  22. Oi Claudio


    Adorei seu blog.

    Beijos
    Ani

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  23. Nossa Claudio ,adorei o texto ,quando comecei a ler ,achava que o moço que apareceu de terno era uma sombração mesmo ,ri muitoooooo,é pressionante como vc tem imaginação para uma historia ,parabéns ...☺

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  24. Rapaz, bom demais esse seu texto!!! Divertido, interessante, meio assustador; amei!!! Parabéns!

    petalasdeliberdade.blogspot.com

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  25. Uma história de arrepiar, mesmo.

    Beijinhos

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  26. Muito bom, Cláudio! E o desfecho inimaginável para mim! Não é bom brincar com os mortos!! (rs*)
    Beijus,

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  27. Oie Claudio =)

    Que texto divertido! Estou rindo aqui sozinha na redação da revista que trabalho rs...
    Parabéns!!

    Beijos e um ótimo final de semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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  28. Amigo tenha um final de semana abençoado.
    Blog: http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br

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  29. kkkkkkkkkkkkkkkk... muito bom mesmo!! adorei!! parabéns! :)
    Até mais!
    http://resenhasdalu.blogspot.com.br/

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  30. Você fez um texto de terror, mas obviamente iria ter que ter um pouco de humor no meio né? Rs gostei.

    Thoughts-little-princess.blogspot.com

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  31. Gelei aqui...eu morro de medo de historias assim de terror, mas a lição que o zezinho deu foi bem aplicada, mas poxa tadinho do zezinho tinha que se ferrar depois? kkkkkkkkkkkkkkkkk

    Vc escreve bem pra caramba! Parabéns.

    detudoumpouco28.blogspot.com

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  32. Sabia que mesmo sendo terror, teria um final humorístico. Um excelente texto como sempre Chamun. Beijo.

    http://utopianongrata.blogspot.com.br/

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