Hóspedes em minha casa

Já disse aqui que entre minhas horas de folga, que atualmente são muitas, eu tento me virar com afazeres diversos como utilizar sobras para construir alguma coisa como bancos. Como os meus bancos já estão prontos, eu resolvi fazer um móvel de apoio para colocar o meu gaveteiro de plástico em cima ficando a uma altura mais confortável.

E nesta semana, eu iniciei este projeto.  Após concluir, fui lavar as mãos no tanque que fica nos fundos da minha casa, eu tomei um susto. Dentro do tanque tinha um filhote de gambá.

Ele soltava gritinhos que mais parecia com o som de uma máquina de fotografia de um celular quando uma foto é tirada.

Eu o deixei lá, pois achei que estava chamando sua mãe, e fui lavar as mãos em outro lugar.

Mais tarde, eu fui dar uma espiada em meu hóspede e levei outro susto ao dar de cara com o bichinho belo e faceiro na minha churrasqueira. Aí pensei: Como que ele foi parar ali?

Eu sei que os gambás são ótimos alpinistas, mas ele é tão pequeno.

Eu tenho experiência com este mamífero em minha casa. Aqui nesta região ainda tem bastante apesar da urbanização e da ignorância do homem em matar os bichinhos. Já salvei um dos cachorros, já observei outros em cima do telhado e do muro e já tirei de dentro da piscina.

Voltando ao meu hóspede, eu fui dar uma conferida no tanque e para minha surpresa o gambazinho estava lá, ou seja, o da churrasqueira era outro. Então coloquei nomes: Chaça¹, o do tanque e Pinga², o da churrasqueira.

Quando eu olhei para o lado, o Pinga já tinha descido, não vi como, e estava passeando pelo pátio soltando os gritinhos. Passei a achar que o Chaça poderia estar dentro do tanque por acidente e o tirei colocando no chão e deixei que a mãe natureza se encarregasse da situação.

À noite, eu resolvi dar uma conferida para ver se eles ainda andavam por lá e para mais uma surpresa, ambos estavam dentro do tanque. Poderia ter sido a mãe deles que os tivesse colocado ali para buscá-los depois. Eu deveria não interferir, mas os coitadinhos tremiam de frio. Logo, busquei um saco plástico grosso, que é uma embalagem de ração de cães e folhas de jornal. Arrumei uma caminha debaixo do balcão e os tirei do tanque e os coloquei lá.  Não sei qual era o Chaça ou Pinga, só sei que ambos correram para baixo do saco e lá ficaram. Coloquei um potinho de água e um pedaço de banana.

Os dois continuavam a soltar os gritinhos, mas eu escutei um terceiro chamado e foi quando vi em cima do telhado o Aguar³.  Porém, este não desceu, ficou por lá mesmo até sumir.

Para evitar acidentes, eu usei uma sarrafo, um tijolo e uma roda velha para fazer um trapiche na piscina. Assim, se caso um deles caísse, ele poderia sair.

No dia seguinte, tanto o Pinga quanto o Chaça tinham sumido. A mamãe gambá deve ter vindo pegá-los. Entretanto, à tardinha eu escutei o famoso gritinho que vinha do forro da edícula. Nos forros, é onde eles gostam de ficar. E eu sei por experiência própria, pois se na minha casa que é de dois andares eles passeiam pelo forro imagina em uma edícula mais baixa.

Passando mais um dia, eu fui concluir o projeto, e novamente escutei o chamado. Só que desta vez vinha de baixo, mais precisamente do banheiro da edícula. E de fato, lá dentro estava um deles. Não sei se era o Chaça, Pinga, Aguar ou um quarto filhotinho. 

Bom, coloquei-o na caminha, e perto dele um potinho de água e um de leite, um pedaço de banana e um talo de alface.

Para minha tristeza, passou dois dias e ele, que agora passou a se chamar Cana², ainda estava no mesmo lugar. Isto significa que a mãe gambá o abandonou.

Eu fiz uma caminha de espoja, coloquei panos, continuei com a embalagem da ração e os jornais para ele se proteger e ainda coloquei uma madeira na frente para quebrar o vento.

Depois de tudo isto, eu tentei ligar para um veterinário, mas fui atendido pela assistente que me recomendou dar apenas leite. O fato é que o Cana não estava tocando em nada que eu deixei, logo, arrumei uma seringa de injeção a passei a dar leite como se fosse mamadeira. Ele relutava em beber, mas bebia.

            A minha esperança é que a mãe ainda viesse buscá-lo, pois eu sei que os bichos ficam por perto já que aqui já está urbanizado e eles não têm muito para onde ir. Porém, nada.

            Eu tentei ligar para o IBAMA, mas eles não trabalham sábado, meu erro foi esperar a mãe gambá. Então, fui a uma agropecuária e o dono sugeriu que eu falasse com o secretário do meio ambiente do munícipio. Eu falei e ele me disse para colocá-lo em uma caixa que ele passaria mais tarde para pegar o Cana. Eu arrumei a caixa fiz os furinhos para ventilação e preparei uma nova caminha, mas o secretário não veio. Pois é! Em véspera de eleição tudo é complicado.

            O problema é que o Cana estava cada vez mais fraco, nem gritinho soltava, não queria mais mamar de jeito algum e não conseguia ficar em pé. Com isto percebi que nada mais poderia fazer por ele, que morreu poucas horas depois.

            Lamento não ter tido conhecimento suficiente para salvar o bichinho, mas eu fiz tudo que poderia fazer.

Todos devem saber que o apelido de quem bebe muito é gambá e esta é a origem dos nomes.

1 – Chaça – de cachaça

2 – Pinga e Cana, óbvio demais – risos.

3 – Aguar – de aguardente