sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Fumacentos


Tem coisas que pensamos que nunca vai acontecer conosco ou perto de nós. Duas vezes então, não dá para acreditar.  Há quem diz que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Pode até ser, mas que cai ao lado... Ah! Isto cai.
Certo dia, as 3h15 da manhã, Claudinho e sua esposa acordaram com pequenos estouros que vinham da rua e com o seu quarto totalmente enfumaçado. Ele e sua amada levantaram meio desorientados e ela perguntou assustada:
– O que é isto?
Instintivamente ele respondeu:
– Colocaram fogo na casa da Juju.
Juju era a infeliz proprietária da casa que ficava em frente à dele, isto mesmo, aquela do karaokê¹. Porém, ainda não pertencia aos falecidos, que Deus os tenha, e em silêncio. E de fato, a casa dela ardia em chamas. Como o vento soprava em direção a casa dele, a fumaça passava por dentro do seu quarto. Estava muito sufocante e eles poderiam não ter relatado esta história caso não tivessem acordado a tempo. Ao olhar com dificuldade pela veneziana, enquanto a fumaça adentrava sua casa, ele via as labaredas e mais nada. Ninguém parecia estar ali, mas na verdade, a comparação é com um marido traído, pois todos os moradores já estavam vendo o espetáculo e eles, mesmo morando em frente, foram os últimos a saber. A impressão que dava era que o incêndio era em sua própria casa.
Da casa da Juju nada sobrou, mas felizmente não morava ninguém. Estava abandonada e precisando de uma grande reforma. Alguém resolveu dar uma mãozinha.
Mais tarde o terreno foi comprado por... Ah! Vocês sabem quem.
Oito meses depois, eles escutaram um barulho de arrombamento, mas que não dava para saber de onde era porque o vento forte, que sopra na cidade onde moravam, engana muito. Minutos depois sentiram cheiro de fumaça. Claudinho foi para o quintal tentar ver de onde vinha. Ele viu uma pequena fumaça no seu terreno e sabia que era perto, só não imaginava quanto. Percebeu que o vento desta vez estava contrário e que a fumaça tinha rebojado.  Imediatamente olhou para a casa do vizinho ao lado oposto da fumaça que viu. É um paredão de pedra de uns seis metros de altura. Desconfiou de algo errado. Entrou rapidamente em casa, passou a mão no farolete correu para os fundos. Jogou o facho no telhado do casarão e para sua "não surpresa" ele viu muita fumaça.
Após eles ligarem para os bombeiros e polícia, Claudinho fez sua esposa sair de casa, tirou o carro da garagem, voltou para os fundos e começaram os problemas.
A ponta da mangueira do poço artesiano quebrou ao engatar. Ele foi até a cozinha pegou uma faca de serra cortou a ponta da mangueira e engatou. Então, ligou o motor que travou. Mexeu na hélice que começou a girar, mas não saiu água. Ele abriu o dreno, colocou água e voltou ligar. Ufa! Funcionou! Ai ele começou a jogar água no telhado do vizinho que já estourava e criava uma chuva de pedaços de telha de amianto.
A polícia chegou primeiro e o tirou de lá a pedido de sua esposa que disse para prendê-lo se não obedecesse, pois conhecia bem o marido bombeiro amador.
Desta vez eles não correram risco de vida, pois ao contrário da outra, foram os primeiros a saber e graças a isto os bombeiros chegaram a tempo e evitaram o pior com ajuda de Claudinho que retardou o fogo.
O que isto tem a ver com o relato que quero dar? Nada, ou seja, quase nada. O fato é que com os dois incêndios acontecidos ao redor da casa de Claudinho ele ficou traumatizado. E como cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça...
Vou chegar lá, mas para isto vamos dar uma volta no passado de Claudinho...
Esta mesma casa do nosso protagonista, faz vizinhança nos fundos com um vizinho xarope, o Homero que tem sua moradia no limite do terreno. Por causa disto, o “mala” não tem ventilação nos fundos. Homero malandramente manteve as janelas basculantes que estavam na casa quando a comprou. Estas janelas davam para o terreno de Claudinho. Nosso amigo não se importava até que Homero começou a implicar com as árvores que ele tinha plantado muito antes do Homero comprar a casa. Ele reclamava que os galhos batiam em seu telhado e o medroso achava que era ladrão.
Acho que todo mundo sabe que os galhos da árvore do vizinho que passam para seu lado são seus. Logo, você tem o direto de cortar e colher os frutos se for o caso, mas o “mão de vaca” não queria se coçar e fazer a parte que lhe cabia. Ele é tão chato e murrinha que nem dar a volta na quadra para conversar ele fazia. Quando queria reclamar e encher o saco chamava o Claudinho pelas janelinhas mesmo com a cara espremida entre as lâminas da basculante.
Naquela época, Claudinho era um cara pacato e ia levando. Inclusive, mesmo sendo ecologista, cortou as árvores para não se incomodar. Só poupou o abacateiro que é sua paixão e que não estava atrapalhando ninguém.  Até que um dia Homero, o “mala man” pressionado pela sua esposa, a “pochete woman”, resolveu implicar também como o “Abacateiro Rei” pelo mesmo motivo, o medo de ladrão.
– Vai ser cag... ups... covarde assim no inferno – falou Claudinho.
Entretanto, o caso do abacateiro rendeu tanto que estressou o nosso amigo. Além de não cortar a frutífera árvore, ele alterou o projeto da edícula que estava planejada para não tampar as janelas do vizinho chato e mandou construir de forma que fechasse tudo, assim ficando isolado dos xaropes.  
Não pensem que parou por aí.
Já nos tempos atuais, depois dos incêndios, por isto contei mais acima, Claudinho não podia ver nem fumaça de churrasco quando mais de fogo no capim que muitos moradores adoram fazer depois que cortam a grama. Era só sentir o cheiro que ele ficava apavorado e já ligava o motor do poço com a mangueira nas mãos. E uma vez chato a vida toda chato, Homero adora queimar porcarias na churrasqueira de sua casa que dá divisa com o terreno do Claudinho. É jornal velho, capim, revistas e tudo que se pode imaginar. E parece que o mala sempre escolhe o dia que o vento está contra para fazer sua fogueirinha. É claro que nosso herói, por ser uma pessoa da paz, nada fazia por mais que ficasse nervoso e apavorado. Isto é, nada fazia até o surto do karaokê¹, que despertou nele uma insaciável sede de sangue. Logo depois do episódio mencionado, Claudinho foi acordado por um cheiro de fumaça. Acordou assustado achando que era um novo incêndio. Então, percebeu que o Homero tinha resolvido fazer um foguinho, horas antes do churrasco, para esquentar a churrasqueira, queimando o estoque de um ano de jornal velho. Aquele dia o vento estava muito sacana e jogava toda fumaça dentro da casa do Claudinho que pensava:
– Não vou fazer. Não vou fazer. Não vou fazer.
E o tempo foi passando, a fumaça entrando e ele pensando:
– Não vou fazer. Não vou fazer. Não vou fazer – AHHHHH – Vou fazer!
Porém, ele lembrou que a motosserra ainda estava sem gasolina. Então ele pegou o machado, mas pensou rapidamente que se fosse pela rua e de dia seria visto e não teria a mesma sorte da outra vez. Aí, pegou também a escada e resolveu ir pelo telhado. Subiu no telhado de sua edícula, passou para o da futura vítima, correu sobre ele, e com o machado nas mãos desceu pela árvore encostada na casa do xarope.
– Ah! A árvore dele o filho da prostituta não corta – pensou ele.
Pulou do último galho caindo de pé como se fosse um filme americano e foi para a garagem onde estava a churrasqueira. Quando o mala o viu sem saber de onde ele tinha surgido falou:
– Oi vizinho, que surpresa. Come um churras com a gente?  
Claudinho olhou para Homero com aquela cara de Jason do sexta-feira 13, fitou bem em seus olhos, abriu um sorriso e disse:
– Vocês têm picanha?


1 - Ler Karaokecidio 

Foto: Letícia Spezia
Montagem: Hopróprio
Modelo: Hopróprio Idem.

33 comentários:

  1. hehe boa historia :D
    passando por aqui! acho que voltei a atividade rsrs!
    beijos

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    1. Obrigado Mari.
      Já vi que voltaste, já passei por lá.
      Beijos.

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  2. Um vizinho desse ninguém merece!! Ahhh Homero chatoo. Pior que existem muitos assim...
    Pochete woman, foi incrível kkkkkk

    http://inspiracaoentrelinhas.blogspot.com.br/

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    1. Zane:
      Eu não sei quem é mais chato, se o mala do Homero ou sua esposa Pochete.
      Obrigado.

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  3. kkkkkkkkkkk

    Muito bom Claudio! Histórias com vizinhos malas rendem ótimos contos. Agora, graças a Deus, eu moro numa rua que mais parece uma cidade fantasma. Você não vê vizinho nenhum - mas não se engane: eles sabem mais da sua vida que você!

    Adorei a postagem, com certeza renderia um ótimo livro!

    Aproveitando pra seguir o blog e agradecer os vários comentários que já deixou no meu!

    Bj

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  4. Kkkkk... Demais Claudio!

    Você tem uma disposição inacreditável. Tirar foto para as postagens. Isso é demais!
    Gostaria realmente de conhecê-lo pessoalmente.

    Uma abração!

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    1. Obrigado Vagner.
      Ainda bem que eu arrumo fotógrafas competentes - rss.
      Ainda nos pecharemos no mundo real.
      Abraço.

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  5. Agora, quanto ao post, gostei dele!!!
    Quando li o texto imaginei que seria sobre fumantes, hahaha.
    Enfim, o abacateiro que tenho aqui no lote de casa também é minha paixão, perderia para um pé de jambo, se tivesse.
    Em relação ao "raio" da história, aqui em casa eu descobri que é possível com um raio de verdade. Por duas vezes caiu na mesma antena de TV, digo, não a mesma, tive que trocar da primeira vez e essa agora também.
    Bom texto
    ^^

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    1. Bah cara! Duas vezes na antena. Que antenas poderosas e que prejuízo hein?
      Obrigado pela visita e comentário.

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  6. As coisas acontecem nos lugares que a gente menos imagina. Claudio obrigada pela visita beijos.

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  7. é bem legal histórias assim. HAHA :D
    http://oicarolina.wordpress.com

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  8. olá Claudio e obrigada pela visita...
    sim o tempo e os dias são complicados...

    Vizinhos chatos quem não tem né?
    só eles não podem saber o que pensamos sobre eles rsrsrs

    gostei do texto parecia que eu estava vendo a cena toda, da janela da minha casa rsrs

    estou seguindo o seu blog, se quiser seguir o meu será bem vindo!
    Até

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    1. Obrigado Roberta.
      Vizinho chato é dose.
      Já estou no teu blogue.
      Venha sempre.

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  9. Vizinhos 'sempre' são 'chatos' em proporções diferentes... rsrs Boa!

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  10. Seus texto são incríveis Claudio!
    È muito bom conhecer o seu blog!,muito obrigado pelas vezes que visitou e comentou o meu.

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  11. Chamun, gostei. Textos bons são como este que a gente consegue ver o ambiente em detalhes como se tivesse vendo ao vivo. Parabens. Pires.

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  12. Vizinhos chatos. Quem não tem? Eles sempre dão um jeito de reclamar de alguma coisa (qualquer coisa). Depois acontecem pequenos "atos terroristas" nas casas deles e eles não sabem porque foi.
    Muito bom o texto.

    PS.: Sobrou churrasco?

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  13. Olá, Claudio.
    Acho que existem poucas coisas piores do que vizinho encrenqueiro, e o pior é que com esse tipo de chato não existe acordo, só partindo pra ignorância, mesmo.
    Abraço.

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  14. Podemos ser felizes com pequenas coisas.
    Sempre faça de sua vida uma eterna primavera com flores sempre a nascer.
    Vida é renovação, é esperança e temos que ter força para lutar.
    Não importa que tipo de vida você tenha,
    apenas viva e tente ser feliz, lute até o fim,
    busque seus sonhos e ideias com toda a força que puder,
    pois com certeza alcançará;
    e no fim de sua vida, você poderá olhar para trás e dizer com orgulho:
    Eu lutei, eu vivi,
    eu busquei, eu venci.
    E os pequenos e grandes obstáculos que enfrentou,
    você perceberá que foram como
    espinhos
    que se foram e se perderam com o tempo.
    Deus abençoe sua semana beijos carinhos meus, Evanir..

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  15. KKKKkkkkkkkkkkkkkkkkkk adorei o texto! Depois de tudo ainda pergunta se tem picanha rsrsrsrs.

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  16. Jesus esse Claudinho está virando um serial killer porém cada vez acha um motivo e arma diferente kk
    beijos

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