domingo, 13 de setembro de 2015

O campinho

Em uma cidade pequena chamada Paraíso do Sul há uma escola, uma igreja, uma praça, um clube e claro um terreno que foi moldado em um campinho de futebol.
Ao toque do final da aula, no fim da manhã, a molecada corre para almoçar e volta para o campinho para o bate bola diário. Este ritual se repete durante anos. Os pais de hoje foram os moleques de ontem.
Até torneio infantil foi realizado no campinho.
Como nenhuma cidade está imune ao progresso e com ela as consequências, o campinho foi atacado na calada da noite por um crime ambiental. Restos de obras foram jogados sem a menor consciência.
          Serafim, o pai de um dos meninos, vai à prefeitura para pedir com que limpassem o campo, mas o assessor Agnaldo, ao verificar os registros, viu que o terreno era particular e disse-lhe que nada poderia fazer.
O que Serafim não sabia é que o simples e generoso ato de ajudar os meninos iria desencadear a maior disputa imobiliária de Paraíso. Agnaldo é ambicioso e vende a informação para três construtoras de cidades maiores que ficam na vizinhança.
O dono do terreno é Salazar, um milionário excêntrico, que nunca se importou com a utilização do campinho. Porém, ao ser assediado pelos construtores resolve chamá-los para uma reunião e decidir o que fazer com o terreno que financeiramente nunca lhe foi útil.
Em cidade pequena tudo se sabe, logo, não demorou muito para os pais dos meninos descobrirem a data da reunião. Eles formam um comitê para demover Salazar da ideia de vender o terreno. Porém, não têm êxito, pois o mesmo já tinha acertado que venderia pela proposta mais justa com os, ali presentes, integrantes das construtoras.
Um dos representantes das construtoras ironizou os pais dizendo:
– Façam uma oferta.
E todos os outros caíram na gargalhada menos Salazar, que é um sábio e justo, mas homem de negócios. Entretanto, assim mesmo ele diz:
– Esperem! Ele tem razão. Façam uma proposta. Ensinem as crianças a lutarem pelo que querem.
– Será inútil e frustrante para elas – disse um dos pais.
– Mas sempre se aprende alguma coisa – respondeu Salazar.
Ao saber, os meninos, na inocência, não se abateram e fizeram uma vaquinha. Eles juntaram o máximo de dinheiro que puderam e colocaram em um envelope.
– Filho é inútil – diz Serafim – Vocês não têm a menor chance com aqueles tubarões.
– Eu sei pai, mas nós não vamos desistir.
Chegando o dia da abertura das propostas, na chegada dos meninos representados por cinco, eles são ironizados pelos empresários.
A espera não é muito grande, quando o próprio Salazar anuncia o resultado do leilão...
– Temos aqui a proposta dos meninos, que contei R$ 354,75 – ele é interrompido por inúmeras gargalhadas, respira fundo e continua. – Eu gostaria de avisar que todos os participantes merecem respeito, e estes meninos embora inocentes, estão demonstrando muita coragem. Portanto, eu quero terminar esta reunião sem zombarias e humilhações. Fiz questão que eles viessem para ensinar algo aos garotos desta cidade. Sou um homem de negócios e gosto de investir no meu povo.
A partir daí teve um silêncio total na sala só rompido pelo próprio Salazar.
– Continuando, a Gomes & Souza ofereceu R$ 1,1 milhões, a Alvarenga 1,2 milhões e a Infinity 950 mil. Podemos dizer que estes estão fora não é verdade?
– Como só eles, nós vencemos! – Disse o integrante da Alvarenga.
– Eu não acho que uma proposta de 1,2 milhões para um terreno de R$ 2,5 milhões, uma vez que o faturamento da sua empresa é de R$ 112 bilhões ao ano é muito justa – disse Salazar.
– Então vai fazer outro leilão, pois a Gomes & Gomes ofereceu menos e fatura bem mais – retruca o integrante da Alvarenga.
– Não – responde Salazar – eu disse que venderia pela proposta mais justa, e a mais justa é a de R$ 354,75 dos meninos.
– Isto é uma palhaçada – disseram todos os representantes.
– Não admito falta de educação, mas explico. Todos vocês não ofereceram nem a metade do que vale o terreno mesmo tendo um faturamento infinitamente maior. Já os garotos ofereceram tudo o que tinham, e isto para mim é a proposta mais justa. Agora peço aos senhores que se retirem para que eu possa tratar de negócios com estes jovens empresários.
É claro que um terreno daquele valor tem um imposto muito alto. Porém, a sapiência de Salazar resolveu todos os problemas. Ele cedeu o terreno para a prefeitura com a condição de que o terreno nunca deixaria de ser um campo de futebol para crianças. E lógico, devolveu o dinheiro para os meninos comprarem bolas.

18 comentários:

  1. Que beleza de final! Muito feliz! Adorei! Garantida a alegria da gurizada por lá! abraços,chica

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  2. Olá, muito bom o blog. Também tenho um onde coloco algumas poesias minhas. Poderia dar uma olhada? :D
    http://wordsbyalonelyguy.blogspot.com.br

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  3. Oi Claudio!
    Muito obrigada pela visita lá no blog
    Venho aqui hj pq assisti um documentário muito legal e me lembrei de você o nome dele é Cowspiracy tem no Netflix, mas agora pensando bem talvez você já tenha assistido neh rs!
    Mas msm assim, vim dizer que seria ótimo um post sobre aquele documentário, pois quando li um post aqui que você falava do documentário francês sobre o machismo me encantei e fiz toda a família assistir e acho que esse você também iria gostar( caso não tenha assistido)
    Agora vou por a leitura do blog em dia, tô super curiosa pra ler o post sobre o Zézé rs!
    Bjuss!

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  4. Uauuu!
    A questão da proposta ser a mais justa podemos aplicar pra nossa vida, pra sempre darmos o nosso melhor em tudo oque queremos.
    Bela estória que na vida pode ser história !
    Bjuss!

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  5. Bela estória. Adorei. Bjs
    Nilce
    .

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  6. Bonita historia, Gostei
    O tudo de quem nada tem não se compara ao pouco de quem muito tem, mesmo que seja muito...
    DE LA VÉRITÉ

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  7. Que incrível, sem mais
    Abraçããão
    http://smudancadeares.blogspot.com.br/

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  8. Também vim dar um oi, volto mais tarde para ler e comentar sobre o texto!
    Bjs da Su!
    www.rosachiclets.com.br

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  9. Muito Obrigado pelo texto que sempre trás lições de vida.

    abraços
    http://brendovieira.blogspot.com.br/

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  10. OI CLAUDIO!
    OLHA, MEU SOBRENOME POR PARTE DE PAI É SALAZAR, MAS, NÃO TENHO NADA A VER COM ESTE MILIONÁRIO AÍ,(KKK) EMBORA TENHA FICADO ORGULHOSA DELE PELA SABEDORIA E BOM CORAÇÃO.
    PARABÉNS POR MAIS UM BELO CONTO.
    ABRÇS
    -http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  11. Saudades de você comentando no meu blog... ^_^
    Adorei o conto, ainda bem que o final foi feliz para as crianças do campinho.. haha
    Humm, até me deu vontade de comer doce agora.. haha
    Beijos. ♥

    Diário da Lady

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  12. Muito legal o conto!

    Beijos,
    http://www.gemeasescritoras.com/

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  13. Que belo conto,querido amigo Claudio.

    E a decisão final foi muita sábia. Um texto para se refletir mesmo sobre o valor real das coisase pessoas.Amei!

    Estou com problemas sérios de conexão e entrando nos blogs pelo modo seguro de meu computador.

    No modo normal, levo mais de 10 minutos para abrir cada blog de amigos.

    Por isso,atualmente,somente tento retribuir as visitas.

    Obrigada por seu belo comentário no meu e volte sempre!


    Ótima terça-feira de paz e alegrias

    Beijos sabor carinho

    Donetzka

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  14. que legal ele ter cedido o terreno para a construção do campinho, fiquei imaginando a historia e a alegria das crianças em terem o campinho de volta...bjs
    http://www.rosachiclets.com.br/

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  15. Muito bacana e o bom é que nossa imaginação vai junto da história.. Gosto assim!!!

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  16. Oie Claudio =)

    Adorei a história, em especial o final =D
    Gosto muito de ler textos leves, mas que ao mesmo tempo nos levam a refletir os valores que damos as coisas na vida.

    Beijos e um bom final de semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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  17. Desculpa pelo comentário Ctrl + C e Ctrl + C, apenas passando aqui para agradecer a visita feita ao meu blog e avisar de que a partir de agora ele está em hiatus.

    Aguardandoocamaleao.blogspot.com

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