domingo, 16 de dezembro de 2012

Peregrinação dentária




Eu não sei por que a palavra dentista, em muita gente, causa tremores, suor e arrepios. 
Tenho primos dentistas, todos ótimos, e minha dentista particular, a Fernanda, é espetacular. É tão espetacular que eu consigo dormir enquanto ela me trata. 
Entretanto, a maioria das pessoas tem um medo horripilante que só se tratam em último caso. Elas esquecem que os dentistas são pessoas normais. Eles são muito normais que até medo têm de irem ao dentista.
Eu tenho um amigo muito azarado, o Little Paul, que ao comer uma coxinha de galinha mordeu algo duro e quebrou o dente que ficou pendurado. Ele foi ao consultório de sua dentista que fica na mesma cidade em que mora, mas em virtude da agenda cheia, ela não pode atendê-lo e marcou um encaixe para mais tarde. Como ele estava agoniado, com muita dor e o dente entre meio preso e meio solto, não quis esperar. Assim, foi a um pronto socorro dentário na capital onde foi atendido com uma limpeza e medicamentos.  Os doutores no plantão aconselharam-no a procurar um cirurgião para extrair o dente porque esta cirurgia não poderia ser realizada no local, pois o mesmo não era apropriado para isto. Então, o meu amigo procurou um cirurgião, mas nenhum deles que contatou tinha horário para emergência. Ele não desistiu e continuou exaustivamente procurando até que conseguiu uma consulta com um dentista em sua cidade. O Doutor pediu para que ele fizesse um raio X em outro local porque o seu aparelho estava quebrado.  Little Paul desistiu e foi para o pronto atendimento regional. Quando ele achou que ia ter seu dente extraído e o alívio tão sonhado, sofreu uma decepção maior que a sua dor. Sua pressão estava 14x10 e os plantonistas lhe negaram a extração. Indignado, ele correu para casa, entrou rapidamente, foi até o banheiro – ups desculpe, toalete é mais fino – abriu a portinha do armário violentamente e pegou o fio dental. Calma gente, ele não foi se enforcar, apenas enrolou o fio no dente pendurado e puxou com força fazendo ele próprio a cirurgia tanto sonhada sem gastar um tostão.
No dia seguinte ele contou sua aventura reclamando que era mais fácil contratar um matador de aluguel do que uma hora no dentista. Pensei que ele teria contratado um para “apagar” os dentistas que o fizeram sofrer, mas felizmente era apenas uma metáfora.
A saga de Little Paul não termina aqui.
Para não ficar desdentado, ele passou a procurar uma clínica especializada em prótese. Desta vez foi mais fácil. Ele marcou a consulta com facilidade, mas quando foi atendido sofreu outra decepção. Soube que tinha ficado um pedaço da raiz e que ele não poderia fazer o implante sem que a mesma fosse extraída. 
Começaria toda a peregrinação dentária novamente?
Estaria ele disposto a fazer a via sacra odontológica?
Não! Desta vez ele seria atendido prontamente. Sua heroína, a superdentista estava a sua espera. Epa! Eu disse seria? Xiii! Pois é, devido a uma inflamação no local, ele precisou tomar antibiótico por 10 dias.
É, Little Paul. A brincadeira com o fio dental lhe custou caro.
Somando a gasolina, passagens de ônibus e do Catamarã(*), consultas, remédio, ligações telefônicas do pré-pago e os 20cm de fio dental dá o valor do churrasco do fim de semana com carne nobre.
Depois de todo o sofrimento e custos já contabilizados, Little Paul finalmente foi resolver o problema dos restos dentais uma vez por todas.
Chegando a consultório...
– Olá eu tenho um consulta com a doutora Maria.
– Sabe que é. A doutora precisou sair urgente.
– Ah não! O que houve?
– Ela comeu uma coxinha de frango, quebrou um dente e tá procurando um dentista.

(*) Catamarã – Barco que faz a travessia no Rio Guaíba entre Porto Alegre e a cidade de Guaíba.
(**) Um abraço a todos os dentistas que cuidam da nossa saúde dentária e lembrem-se que eu os elogiei.

15 comentários:

  1. Isso se ela não tiver medo de dentista...

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  2. Uma situação no mínimo cômica, rs. Gostei da maneiro como a retratou, através de um humor irônico.

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  3. Ahsuahsua... divertidas essas situações.

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    1. Pior que boa parte do texto é a real história de um amigo meu. Passou por boas, ou melhor, quer dizer pior, por ruins.

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  4. " [...] abriu a portinha do armário violentamente e pegou o fio dental. Calma gente, ele não foi se enforcar [...]"
    Você não é capaz de imaginar a gargalhada que eu dei quando li isso.

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    1. Pedro: Estas gargalhadas são para mim os maiores elogios.

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  5. Olá Claudio,

    Não vou dizer que ri (mesmo rindo), porque não tive como não me sensibilizar com o seu amigo. A dor não é nada perto dessa peregrinação.

    Muito bom!

    Abraço,

    Wagner Silva
    http://codificandoideias.blogspot.com.br/

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  6. Olá Cláudio, bom dia!
    Obrigada pelo comentário em meu blog!
    É verdade: todos os dias sentimos saudades de alguma coisa ou de alguém...E não tem tradução mesmo para explicar tal sentimento!
    Gostei do seu blog! é bem eclético!
    O texto acima é tragicômico...:-)
    Um grande abraço e um ótimo fim de semana.
    Que Deus o abençoe!
    Adelisa.
    http://adelisa-oquerealmenteimporta.blogspot.com.br

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  7. Kkkkkkkkk... é sempre divertido passar por aqui, um abraço!

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  8. Caro irmão !!!

    O pedaço da história de dormir na cadeira do dentista pode até ser de mim. Sempre tive muito medo de ir ao dentista, a maquininha me fazia sofrer por antecipação. Agora essa história é ótima. Coitado do amigo, sofrendo triplamente. Primeiro quebrando o dente, segundo procurando um dentista e por ultimo tratando a inflamação. Grandes risadas e pena do amigo. Abração

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  9. Só de lembrar de dentista, eu lembro que ontem fiz manutenção e meu dentista tava ouvindo sertanejo, quanta judiação rsrs.

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  10. kkkkkkk báh amigo esse foi mais azarado que eu, e vc consegue colocar um ponto de graça até no temido dentista. abração

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