Percival Cândido
acorda em uma sala escura, com apenas um foco de luz sobre si. Apesar de
confortavelmente sentado em uma poltrona está meio zonzo, e ao abrir os olhos e
vê que a situação não é favorável. A frente dele está uma bela mulher e ao
redor quatro homens consideravelmente fortes.
– Posso saber por que
estou aqui? – Pergunta Percival.
– Saberás – reponde a
mulher.
– Uma mulher tão
bonita quanto você não precisava mandar estes gorilas me pegarem no meio da rua
e me trazerem para cá, né? – Percival dá gargalhadas e continua – eu teria
vindo de bom grado.
– Vejo que está
recobrando a consciência. E acho que você não está em condição de fazer gracinhas,
não é mesmo?
– Continuo achando
que sem os gorilões nosso papo fluiria melhor.
– O teu perigo aqui é
eu. E depois, apesar deles estarem sob o meu comando, posso não contê-los se
continuar provocando.
– Ai, que meda.
– É importante manter
o respeito, pois qualquer um deles pode fazer tua dentadura sair pela nuca –
silêncio na sala – podemos prosseguir?
– É não tem jeito, fazer
o quê?
– Como se chamas?
– João da Silva.
A interrogadora olha
para um dos homens, que se aproxima por trás da poltrona. Ela volta a olhar
para Percival e dá um sorriso. Então, Percival sente uma mão pesada sobre o seu
ombro e é perguntado novamente.
– Não entendi,
poderia repetir o seu nome?
– Percival Cândido ao
seu dispor.
– Ah! Realmente eu não
tinha entendido. Ouvi João da Silva. Qual
a sua profissão?
– Representante de
vendas de roupas íntimas.
Percival sente a mão
pesada novamente e antes da interrogadora perguntar mais uma vez ele responde:
– Matador de aluguel.
– Agora começamos a
nos entender – sorri a mulher
– Se já sabia por que
perguntou?
– É para você ver que
precisa dizer a verdade e que pode ser muito ruim mentir para mim. Ganhando a
minha confiança poderemos nos dar bem.
– É para matar quem?
– Mas que pressa. Nem
parece profissional. Ou então está querendo se livrar de mim.
– Não senhora. É que
eu nunca fui contratado desta maneira.
– Eu sei! É discretamente
pela internet.
– É! Está muito bem
informada. Assim estou em
desvantagens. Nem sei o nome da senhora.
– Vamos fazer uns esclarecimentos:
Um, você não está em condições de fazer reivindicações; Dois, eu poderei ser a
contratante, logo mando; Três, sou uma pessoa diferenciada dos teus demais
clientes, gosto de olhar diretamente nos olhos dos meus contratados e mostrar
que não tolero erros. Entendeu?
– Sim patroazinha,
acho que eu não tenho escolha.
– Que bom. Gostei do
patroazinha. Pode me chamar assim que é bem melhor do que senhora. Bom, eu sei
que é contratado pela internet, não sabe quem o contrata, e quem o contrata não
te conhece. Cobra 50% antes e 50% depois do serviço. Coisa bem estudada, leva
algum tempo. Todo o cuidado para o serviço sair perfeito. Trabalho limpo.
Correto?
– É, a patroazinha
está muito bem informada mesmo.
– Por isto sou
diferenciada. Nunca ficou sem receber a segunda parte? Pois se não conhece o
contratante como vai correr atrás?
– O problema chefinha...
– Patroazinha! – Interrompeu
a interrogadora.
– Certo, certo, o
fato é que com este tipo de trabalho ninguém quer brincar. Quem contrata tem
medo de ser descoberto, mesmo que seja tudo no mais alto sigilo. Porém, teve
uma vez que eu não recebi a segunda parte, mas deixei assim mesmo porque o
cachorro era grande.
– Cachorro grande?
– É! Quer dizer, tudo
indica que sim.
– E a polícia nunca
conseguiu te pegar?
– Nunca passaram nem
perto. Tenho alguns segredos para escapar. Na verdade, eles vão primeiro nos
suspeitos. Como não conseguem provar nada, pois estes sempre tem algum álibi
porque estão longe dos locais dos crimes e acompanhados, a polícia acaba
desistindo ou investigando em vão.
– Você sempre
acompanha as investigações?
– Por um tempo, mantendo
certa distância. Quando vejo que não tem mais perigo deixo de lado.
– Mas assim você
acaba descobrindo quem mandou?
– Mais ou menos. Por
que se a polícia não consegue provar como vou ter certeza. Para mim não importa
quem mandou ou o motivo, o que vale é o dinheiro e a minha segurança.
– Quantos serviços já
te encomendaram?
– Vinte e dois.
– Todos executados.
– Todos.
– É uma boa ficha. Há
quanto tempo está nesta profissão.
– Quase seis anos.
– Puxa, é uma média
invejável. Já matou em lote?
– Não. Trabalho em
serviços individuais.
– Tem certeza?
– Absoluta. A
patroazinha bem é desconfiada, hein?
– É para ver se não
está mentindo. Então, foram vinte e duas mortes?
– Não.
– Opa! Vinte e dois
serviços, vinte e duas mortes, ou andou matando por prazer?
– Foram vinte e dois serviços
e vinte e três mortes, e não foi por prazer.
– Conte-me – Ela fala
séria.
– O que eu ganho com
isto?
Mais uma vez a mão
pesada cai sobre o ombro de Percival e ela fala sorrindo:
– Na verdade você não
ganha. Não ganha um passeio com meus amigos aqui.
Percival respira
fundo e diz:
– Acho que não tenho
escolha, né?
– É! E já deu para
perceber que estou sabendo de muita coisa, então, se mentir posso descobrir e
não estou para brincadeira.
– Ta bom. Ta bom. Foi
o último serviço que fiz. Foi há uns sete ou oito meses.
– Estou curiosa.
– Havia um jovem do
sindicato de uma cidade do interior. Ele fazia muito barulho. Fui contratado pela
empresa da cidade para dar um jeito no garoto.
– Como sabe que foi a
empresa?
– Saber eu não sei. É
aquilo que falei. Não dá para ter certeza. É dedução. Quando cheguei não se
falava em outra coisa. O cara era muito popular, inteligente e convincente.
Convenceu todos os funcionários a fazerem greve. Soube que a empresa perdeu
muito dinheiro com as paradas.
– Por isto acha que a
empresa que te contratou?
– Sim. Quem mais
gostaria de vê-lo morto? A cidade amava aquele cara.
– E não sente remorso
de acabar com a vida de alguém assim?
– São negócios
patroazinha. Apenas negócios.
– Continua.
– Bom, eu estudei os
hábitos do garoto por três semanas. Ele era a vítima perfeita.
Cada dia da semana ele tinha um horário para
chegar em casa, pouquíssima variação. Porém, na segunda ele era um relógio, chegava
sempre na mesma hora e sozinho. Então, decidi que seria na segunda próxima. Montei
minha arma em uma casa abandonada onde eu fiz a vigília. Ficava no fim da rua e
muito próxima da casa dele. Esperei pacientemente a hora. A visão era privilegiada,
eu fiquei a direita de onde o carro iria parar. A minha arma é muito boa e
minha mira melhor ainda. O tempo que ele parava para acionar o controle da
garagem era perfeito para mim.
– E aí?
– Estranhei que naquele
dia ele estava atrasado. Pensei em abortar. Então avistei o carro dobrando a
esquina.
– E?
– Não é que
justamente naquela segunda ele veio com a namorada.
– Se a menina não
fazia parte dos planos, por que não abortou?
– E a patroazinha
acha que eu vi. Avistei o carro chegando preparei minha arma. Quando ele parou
na entrada da garagem mirei na cabeça, pois sabia exatamente a hora que ele
acionava o controle. Ele era muito previsível. Quando eu puxei o gatilho aquela
menina surgiu do nada. Foi tarde demais. Aí tive que dar outro tiro para pegar
o cara.
– Doeu na consciência?
– Não. Depois que se
mata o primeiro o resto a gente nem liga. Considerei um acidente de trabalho.
– Então foi desta vez
que não recebeste a outra metade, o cachorro grande, certo?
– Exatamente. A
senhora, quer dizer a patroazinha é muito esperta.
– E por achar que a
Empresa é cachorro grande, nunca mais voltou naquela cidade?
– Sim. Eu não tinha
motivos, pois vacilei, tenho certeza que é por isto que eu não recebi. E
depois, cidade pequena é até perigoso voltar.
– É realmente, apesar
do incidente você é muito cuidadoso. Acho que vai dar para fazer negócio.
– Eu tenho tabela.
– Olha só, o cara é
organizado. Dinheiro não é problema.
– A patroazinha pode
agora me dizer agora quem é o escolhido ou a escolhida?
– Naturalmente. Você
conheceu o pai da moça?
– Sim. Ele apareceu
muito nos jornais da capital é um fazendeiro da cidade.
– Seria capaz de
lembrar dele?
– Eu nunca esqueço um
rosto, mas se tiver uma foto ajuda.
– Eu tenho – ela
mostra para Percival a foto de Altemir, pai de Mariana.
– Lembro
perfeitamente dele.
– Ótimo.
– É ele?
– Sim.
– Posso saber o
motivo?
– Você falou que o
motivo não importa – sorriu a bela dama.
– A patroazinha tem
razão. É que nenhum dos meus serviços teve relação um com o outro.
– É que o pai nunca
se conformou com da morte da filha e está fazendo muito barulho. Está
incomodando muita gente.
– E por que não me
contrataram pelo tradicional?
– Você vacilou,
correto?
– Sim.
– Eu fui contratada
para julgá-lo. Preciso falar mais?
– Não. Tudo bem.
Então, por isto que estes gorilas, quer dizer, simpáticos rapazes me apontaram
uma arma no meio da rua e em trajes de passeio me trouxeram para esta sala
escura.
– Exato. Porém, você
está confortável, não está amarrado, não é?
– É! E o que usaram
para me apagar?
– Clorofórmio.
– Entendi. Como vocês
me acharam?
– Risos – Você pergunta
demais, mas vou responder. Digamos que sempre tem gente mais esperta do que
nós.
– Posso fazer mais
uma pergunta?
– É lógico – exclama
a interrogadora – uma a mais não faz diferença.
– E se meu julgamento
desse culpado? – Sorriu cinicamente.
– Acho que estes
simpáticos rapazes dariam um passeio com você.
– Imaginei.Ei! Aonde vai?
– Que pergunta
indiscreta que está fazendo para uma dama.
– Desculpe.
– Eu já volto.
A interrogadora sai
da sala e encontra-se com outro homem que aguardava ao lado de fora acompanhando
tudo através de uma janela com espelhos de observação e sistema de som.
– Então Sr. Altemir o
que achou? – ela pergunta.
– A especialista é
você, mas parece não haver dúvidas. Só pode ser ele.
– É o próprio! É
muito amador. Deixa muito rastro e se apertar ele grita. Foi mais fácil do que
eu pensava. Ele nem desconfia quem o contratou. Pensa que foi a Mega.
– Eu também pensava.
Por isto chamei você.
– O senhor não é do
ramo. Nem sempre o maior suspeito é o culpado. Não teria lógica a Mega mandar
matar o rapaz se pagou todo o combinado aos funcionários.
– Tem razão. E pelo que este crápula falou a Mariana não
estava mesmo no contrato.
– Sim. Foi puro azar.
A sua filha estava no lugar errado na hora errada, lamento.
– E o outro cretino?
– Caso encerrado.
– Ótimo! Seu dinheiro
será depositado amanhã sem falta.
– Se precisar estarei
a sua disposição.
E ela se vira em
direção a saída quando ele a chama.
– Bela!
– Sim.
– Obrigado.
Ela sorri, sinaliza
com a cabeça e vai embora. Altemir entra na sala. Escuta-se apenas um grito de
Percival – Não pode ser – e um disparo.
Você está escrevendo melhor a cada dia... adorei a história. beijinhos
ResponderExcluirMuito bom texto, Claudio!
ResponderExcluirNão costumo ler esse gênero de literatura, mas gostei bastante!
Bravo !
Uma ótima semana para você,amigo!
http://www.elianedelacerda.com
O texto é ótimo e o final foi muito justo, mas o que me impressionou mesmo, foi a tua carinha de Percival kkkkkk
ResponderExcluirPerfeita!
Bjsssssss p/vcs
Cláudio, é verdade que você está escrevendo a próxima novela das nove para a Globo? Conta, conta rs...
ResponderExcluirBeijos, menino!!!
Passando para desejar uma ótima semana!
ResponderExcluirAdorei o texto!
bjcas
http://estou-crescendo.blogspot.com.br/
Olá, Boa noite, Cláudio
ResponderExcluirsim, parabéns...
O mais comovente do triste episódio final , foi o relato ouvido pelo Altemir , sobre o puro azar da filha, Mariana, morta, pois estava no lugar errado na hora errada e ele só se importando que o "outro" foi morto...e o final, justo, pois, pelo jeito, nesse mundo , dos crimes ou matadores,não se pode acreditar em nada e ninguém..
sim, esclarecido, e estava bem claro , que a Bela SÓ lembra a ex,hehehe...
"– De certa forma você me lembra ela.
– Cabelo, boca, estatura, jeito de falar e o perfume é o mesmo "
Obrigado pelo carinho,bela semana, abraços!
caraca amei o texto, não imaginava q o pai da Mariana pudesse se envolver assim
ResponderExcluirhttp://crisartigosfemininos.blogspot.com.br/
CARAMBA!!!... SE O FINAL DE TODO ASSASSINO FOSSE ESSE, ESTARÍAMOS MAIS SEGUROS!!!...
ResponderExcluirMUITO BOM CLAUDIO!!!...PARABÉNS!!!... BEIJOS NO CORAÇÃO!!!...
Oie Claudio =)
ResponderExcluirLi os post anteriores como você sugeriu para me inteirar da história rs...
Fiquei bastante surpresa com o final! Foi ótimo!!
Parabéns!
Beijos e uma ótima semana;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Olá Claudio!
ResponderExcluirMuito bom seu texto, você está a cada dia escrevendo melhor.
Beijos
http://estantedafer.blogspot.com.br
Gostei do final dessa série de textos, você realmente fez um bom trabalho neles.
ResponderExcluirthoughts-little-princess.blogspot.com
Oi Cláudio!
ResponderExcluirDeixei hj um pratinho de carreteiro p/você lá no blog.
Bjssssssss
Que fluidez de escrita e narração cativante.
ResponderExcluirBeijo
Nossa, estava toda compenetrada e comecei a rir quando ele disse que era vendedor de roupas íntimas! kkkk
ResponderExcluirBjs – Su
www.rosachiclets.com.br
Ótimo texto, mas o melhor mesmo foi a foto! rsss
ResponderExcluirWow!! Que bela surpresa!!
ResponderExcluirUm desfecho inusitado!!
Beijus,
É um grande contador de histórias..Conta de uma maneira envolvente...
ResponderExcluirArrasou!!! Amooo.
Bjss
Boa noite amigo Cláudio!
ResponderExcluirE chegou ao fim uma história triste, porém com vários momentos parecidos com a realidade. ..infelizmente.
Feliz Semana!
Abraços da Bia!
Super D+ seu texto amigão!
ResponderExcluirResumindo: "O mundo gira, e ate as pedras podem se encontrar."
Abração Claudio!
Lyu Somah
http://lyusomah.blogspot.com.br/2014/08/nao-importa-quais-os-obstaculos-que.html#comment-form
Gostei muito! Imaginava, até por como foi a segunda parte, que não seria o que ela fazia parecer para ele, mas aí que foi o legal. Fui vendo como ela o enrolava, enquanto ficava o suspense de para quem ela estaria trabalhando.
ResponderExcluirConcordo com o primeiro coment!
bjs
Ótimo fim!! rs!!!
ResponderExcluirBem merecido para o assassino!!!
:)
É verdade, cheguei de férias, e tenho andado, aos poucos, a agradecer as visitas recebidas na minha ausência.
ResponderExcluirPara não ser injusta com ninguém... faço-o seguindo as datas em que os comentários foram feitos lá na minha «CASA».
E não tem sido tão rápido quanto eu gostaria... mas tanto quanto é possível.
Seguindo o seu convite... vim saber o final de Piquete.
Inesperado, mas muito bom. Apetece dizer: foi feita justiça. Se todos os criminosos tivessem um fim destes... o mundo poderia ser um pouco melhor.
Gostei imenso!
Desejo uma óptima semana.
Beijinhos