O último guardanapo II

Sugiro ler O último guardanapo.

Morgana, ao passar pela portaria, recebe sua correspondência e um envelope em particular chama mais atenção do que os outros. É branco sem remetente, conteúdo macio.  Chegando ao seu apartamento, coloca tudo em cima da mesa e abre o envelope especial que continha apenas um guardanapo com os dizeres:

“Oi

Se eu tivesse um pedido, desejaria iniciar tudo de novo para corrigir os erros, perdoar e ser perdoado.

Parabéns!

Bjs.

Clóvis”

– Nossa – exclama Morgana – como que ele conseguiu fazer chegar no dia do meu aniversário? Sempre me surpreendendo.

Vem a noite e os convidados da festinha com pessoas mais próximas começam a chegar. Todos estão animados, mas Morgana parece meio inquieta. Então, sua prima, a Emile se aproxima.

– O que foi prima? Parece estar esperando por alguém.

– Vem aqui no quarto.

Alguns passos depois...

– Veja isto – falou Morgana.

– É! Ele é realmente romântico. Sempre te disse isto, mas por que te afetou tanto? Deveria estar acostumada.

– Não afetou. É que eu pensei que ele pudesse aparecer.

– Você avisou da festinha?

– Não, mas da última vez que falamos, eu disse que ficaria em casa.

– Prima! Já se colocou no lado dele. Ele cansou!

– Precisava se cansar justamente agora? No meu aniversário.

– Você não tem jeito mesmo. Para que ele viria? Para ficar neste chove não molha de vocês? Olha! Até eu que sou neutra cansei, mas liga para ele, faz a tua parte.

– É melhor deixar assim. Ele pode se encher de esperanças. Já deu o que tinha que dar.

– Morgana! Espero que esteja certa disto o “não relacionamento” de vocês está muito desgastado. Ele cansou mesmo.  Arrependimentos poderão ser tarde demais.

– Emile, vocês têm se falado?

– Faz tempo. A tua indecisão, ou melhor, indiferença cansa qualquer pessoa normal.

– O Clóvis não é normal.

– É. Realmente não é, mas até ele cansa.

O tempo passa e Morgana estranha o sumiço de Clóvis. Ele sempre ligava, mandava e-mails ou a chamava nas redes sociais. Porém, mesmo com a falta de contato, o orgulho dela não permite que o procure.

Mais tempo se passa...

Certo dia, Morgana vai fazer compras em um shopping e encontra Clóvis na fila do cinema acompanhado por uma bela mulher. Ela vai até ele...

– Clóvis!

– Morgana! Que surpresa. Há quanto tempo? Esta é...

– Lúcia – a própria interrompe Clóvis e se apresenta – sou amiga dele.

– Prazer Morgana. Eu vim fazer compras e te vi aqui na fila. Você anda sumido.

– Ah! Estou correndo por aí.

– Quer assistir o filme com a gente? – Pergunta Lúcia.

– Não obrigada. Não quero atrapalhar – responde Morgana.

– Que isto? Atrapalha nada – retruca Lúcia.

– Obrigada, mas preciso ir.

Aquela cena mexeu com Morgana. Ali, ela teve um dos piores sentimentos de um relacionamento, o sentimento de perda. Ela fica totalmente sem vontade de permanecer no shopping e volta para casa.

Ao chegar à sua casa, ela serve um copo de whisky, coloca músicas com melodias melancólicas, se senta no sofá e deixa o telefone sobre si como se esperasse uma ligação...

O toque do celular a tira do cochilo trazendo-a para a realidade.

– Alô!

– Prima, sou eu, Emile.

– Ah! É você!

– Nossa. Que fúnebre. Esperava outra pessoa?

– É que...

Ela explica o que aconteceu.

– Poxa prima, você deve estar malzinha, hein?

– Pois é, achei que isto nunca fosse acontecer. Pior que eu não sei se ele está com aquela mulher ou é amiga mesmo. Mas ir com amiga ao cinema? Pode isto?

– Ué! Você não dizia que eram amigos e iam ao cinema?

– Ah não amola. Você sabe que com a gente era diferente.

– E é deste diferente que você tem medo que seja igual, né?

– Sim.

– Para de perder tempo! Liga para ele!

– Tá louca? Acabei de vê-lo com outra, vai ficar muito na cara.

– Morgana querida, você está dando bobeira. Está mais do que na cara que gosta dele, mas não está valorizando. Olha que tem outra que está. Você vai perder esta parada minha prima.

– Quebra esta para mim. Liga para ele. Sente o clima.

– E você acha que ele não vai suspeitar?

– Até pode, mas sempre fica uma dúvida.

– Você não tem jeito mesmo. Ok, mas terá que esperar até a manhã. Vai ter um encontro da turma, um happy hour. Eu não ia, mas quebro o teu galho. Assim dá menos na vista.

O happy hour acontece, Emile recebe todas as informações que Morgana precisa, e já que está lá, decide curtir. Ao fim do encontro, resolve conversar com a prima pessoalmente.

– E daí? Conta logo.

– Prima! Eu não sou de dourar a pílula, então senta aí.

– Ai meu Deus, o que foi.

– Bobeou demais Morgana. Perdeu. Ele está envolvido com esta tal de Lúcia.

– Que bobo. Tão volúvel. Ele parecia estar apaixonado por mim.

– Paixão é paixão. Amor é amor. A paixão vira amor, mas se for correspondida. Você não fez nada para alimentar. Só curtiu.  Ele cansou. Conheceu esta mulher e resolveu se dar uma oportunidade.

– Quer dizer que eu não tenho mais chance?

– Eu não me iludiria. Ela apareceu no fim do Happy para buscá-lo. E olha: O pouco que falei com ela, me pareceu muito interessante e envolvente. E do jeito que ele é legal e romântico, tem tudo para dar certo. Lamento prima, mas o tempo de vocês... É, acho que passou.

Então, Emile se despede e Morgana serve um copo de whisky, coloca músicas com melodias melancólicas, se senta no sofá e desta vez desliga o celular.