O carnaval de Matilde

Sugiro ler  primeiro A Secretária Matilde

– Vamos Mozão o táxi está esperando – Falou Alberto namorado de Matilde.

– Calma Fofito! Não posso pegar o avião deste jeito.

– Que jeito mulher? Tu estás linda.

– Não entendes as mulheres mesmo, só falta o batom. Pronto, podemos ir.

– Aeroporto Salgado Filho, por favor – disse Alberto para o taxista.

Chegando lá, enfrentam quase uma hora na fila no check in.

– Por que colocam cinco voos em apenas dois balcões – resmunga Matilde.

– Mozão, carnaval no Rio não é pouca coisa. Será uma lua de mel. Sem stress!

– Por favor, não use esta expressão. Até nossa volta não quero nada que me lembre daquela empresa.

– Tá bom, relaxa! Dá um beijinho para passar a tensão vai – e rola o beijo.

– Já já chega a nossa vez.

E finalmente chega...

– Oh não!

– O que foi mulher?

– Olha o nome do atendente... Joel!  Não começamos bem.

– Para com isto mulher, chega de perseguição. É só o mesmo nome do teu chefe, pura coincidência e daí? Grande coisa.

– É, preciso de um Lexotan.

– Relaxa mulher, no Rio tomamos umas caipas e tudo se resolve.

– Eu não tenho reserva em nome Matilde e Alberto – comunica o atendente e aí é o Alberto que tem o chilique.

– Como não? A empresa da minha namorada é séria, não ia fazer uma sacanagem destas – falou alterado.

– Calma Fofito. – intercedeu Matilde – Moço, é o seguinte, a reservas foram de última hora e estavam em aberto. Verifica na outra tela de consulta porque é possível que ainda não tenha vindo para o front end do teu sistema.

– Ah! Desculpe-me, a senhora está certa, aqui estão os bilhetes. Embarque no portão cinco previsto para as 23h30. O vôo está levemente atrasado. Boa Viagem.

– Puxa Mozão, deu show hein? Como é que tu sabias de tudo isto?

– Ah Fofito estava óbvio e depois tu podes deixar de ser secretária, mas a secretária nunca sai de dentro de ti.

Depois de quarenta minutos de atraso eles finalmente embarcam. E após as tradicionais apresentações e recomendações das comissárias surge a voz no alto-falante.

– Boa noite senhoras e senhores, bem vindo a bordo da Big Fly vôo 1313 quem vos fala é o comandante Antenor...

– Irrrrk – se assusta a Matilde – agora só falta uma das comissárias se chamar Tereza.

– Calma Mozão, relaxa. Tu estás muito estressada. Uma delas é Joaquina e a outra é Nélia.

– Tu já sabes até o nome. Seu safado!

– Não é isto Mozão. Tu estavas distraída. Elas se apresentaram e o comissário é Gildo. Não tens nenhum colega com este nome, né?

– É! Estou estressada mesmo. Vou tentar dormir. E tu não te fresqueies com as moças, viste?

Matilde nem pega no sono e a voz no auto-falante retorna...

– Senhoras e Senhores aqui é o comandante Antenor novamente. Eu em nome da Big Fly quero desejar felicidades à passageira Matilde Maria Costa pelo seu aniversário.

E todos os passageiros cantam parabéns. Ela meio envergonhada agradece.

– Foste tu né Fofito?

– Eu? Imagina Mozão – Alberto rindo

– De qualquer forma obrigado, gostei da surpresa.

– Ah então eu confesso, como já passou da meia noite eu te entreguei para as comissárias.

A Matilde gruda um beijão em Alberto e os passageiros aplaudem. A viagem é tranqüila e a aeronave pousa no Galeão. Mas a bagagem não aparece na esteira e é mais um estresse para nossa querida Matilde.

– O que mais falta para acontecer? Ai meu Deus, minhas roupinhas.

– Deixa comigo Mozão vou dar uma dura neles. Vou falar com aquele funcionário.

E ele vai já alterado...

– Boa noite senhor, nossa bagagem não pareceu e a esteira já está vazia. O que está acontecendo?

– Senhor, por favor, qual é o seu voo? – pergunta o funcionário.

– BF 1313 – Alberto responde ainda indignado.

– Mas esta esteira é do PA 2469 a do BF 1313 é aquela ali ao lado.

– Obrigado – respondeu Alberto engolindo a voz de tanta vergonha.

Eles pegam a bagagem, embarcam em um táxi e vão para o hotel Chick Palace Plus em Copacabana.

– Boa Noite. Reservas para Matilde Costa, por favor.

– Boa Noite, é a suíte matrimonial, 12º andar. Por favor, peguem estas fichas. Podem preencher no apartamento. A camareira pegará pela manhã. É só seguir o rapaz ali. Boa estadia. Ah! Vocês têm reservas também para a Sapucaí na segunda-feira. Foi um sorteio que a rede Chick fez para os seus hóspedes.

– O senhor está brincando?

– Não senhora. Fizemos o sorteio agora a pouco e seu apartamento foi sorteado.

– Nossa, que sonho. Tudo que eu queria.

– Viu Mozão? E tu aí toda estressada. Quanta sorte num dia só. Que presentão de aniver né?

Depois de desfazerem as malas e um banho merecido eles se deitam para uma boa noite de sono, mas...

– Mozão? Tá dormindo?

– Ainda não, por quê?

– Vamos brincar?

– Ah Fofito, estou cansada o dia foi terrível não estou no clima.

– Deixa comigo Mozão, eu te coloco no clima. Deixa tudo com o teu Fofitão aqui.

– Tu vais ter paciência se eu não conseguir?

– Mais do que um monge Tibetano.

– Então, tá bom.

E rolou, mas vamos preservar a intimidade do casal. No dia seguinte, a praia.

– Que coisa mais linda isto aqui né Fofito? Faz jus ao título de cidade maravilhosa.

– É Mozão, quase tão bonito quanto Tramandaí.

– Não blasfema Fofito, nem de bricadei... Alberto que é isto? – Pergunta Matilde alterada.

– Que foi Mozão?

– Não disfarça, eu te vi olhando para a bunda daquela guria.

– O que é isto Mozão? Foi só uma olhadinha.

– Ah é? Então se eu olhar aquele saradão ali, tudo bem né? É só uma olhadinha.

– Não força Mozão. É da minha natureza olhar, da tua não.

– Até a natureza muda meu amor. O que não se usa, atrofia é a lei da biologia.

– Tá bom Mozão, eu não olho e tu não olhas.

Depois de muitos Mozões para cá Fofitos para lá, o sábado termina com um jantarzinho comemorativo. O Domingo é um dia bem agradável e após muitos passeios e praia, chega segunda à noite no camarote da Sapucaí.

– Que festa né Fofito? Nunca pensei que estaria aqui.

– É Mozão. Teu chefe foi legal contigo, né? Depois o sorteio do Hotel, deu tudo certo.

– Pois é, mas só quero pensar neles na quarta-feira.

– Mozão, vou dar uma descidinha ali no saguão, tá? Quero dar uma olhadinha nos arredores. Já volto.

– Tá Fofito, mas não demora.

E o Fofito, quer dizer Alberto demorou um pouquinho.

– Mas que demora – reclama Matilde – onde será que o Alberto se meteu? Vou atrás dele.

Quando Matilde chega ao saguão encontra Alberto sambando meio desengonçado abraçado com duas mulatas exuberantes usando o tradicional traje carnavalesco.

– Alberto Lisboa, o que significa isto?

– Ah, Mozão não é nada, só brincadeira de carnaval não to fazendo nada de mais.

– Ah é, então eu também não vou fazer nada de mais com aqueles estrangeiros que estão lá no nosso camarote.

– Mozão, o que isto? Vem cá minha Deusa. Dá um abraço aqui e fica tudo bem.

– Tudo bem com a tua avó. Para mim chega. Vou me esbaldar. E não aparece na minha frente.

E lá se foi Matilde fula da vida, mas muito a fim de dar o troco. No camarote puxa papo com uma dupla de franceses. Nada difícil para ela que fala fluentemente Francês, Inglês e Espanhol. Alberto não se conteve e foi atrás de Matilde e a flagra de risadinhas, mãozinha no ombro e tapinhas com os franceses na maior intimidade.

– Matilde Maria Costa! O que estás fazendo? 

– Nada Fofito, brincadeira de carnaval. Vais te divertir porque eu estou me divertindo.

E Alberto sai indignado. O papinho internacional de Matilde continua e o tempo passa... Alberto volta ao hotel, mas Matilde já está dormindo. Ele não querendo incomodar porque não sabia o que esperava por ele, resolveu dormir no sofá da salinha que integra a suíte.

Quando acorda, Matilde já tinha saído e eles só encontram a noite.

– Boa Noite – resmungou Alberto.

– Boaaaa Noiiiiteeee – Debochou Matilde.

– Pelo jeito foi boa a noitada, né? E aí como ficamos?

– A noite foi ótima! E não ficamos. Amanhã vamos embora e cada um para o seu lado.

– Pô Mozão, depois de todos estes anos. Brigar por causa de um deslizezinho. Pô! Foi no clima do carnaval pura bobagem.

– Bah, Fofito! Pura bobagem? Agarrado nas duas mulatas gostosonas e quase peladas? E ainda chegou depois de mim no Hotel.

– É Mozão, depois que te vi de frescura com os estranjas eu não queria nem voltar para o hotel.

– Mas tu não viste nada de mais.

– É! Não vi mesmo. Sai antes para não doer os chifres.

– Chifres? – Matilde dá uma gargalhada – Tadinho do Fofito. Tu não viste que aqueles dois formavam um casalzinho?

– É mesmo? Dois boiolinhas? – os ânimos se acalmam – Conta aí, conta tudo.

– Boiolinhas não Fofito, gays, respeita. Eles são gente, muito educados, finos e cavalheiros.

– Ah tá bom. Gostaste dos gayzinhos, então? – debocha Alberto.

– Claro que sim, me trataram como uma rainha. Batemos um bom papo e nos divertimos muito, mas eles não podem me dar o mesmo que tu, né coração? Porém, eu ainda não esqueci as mulatas seu safado.

– Bah, Mozão. Nem te conto. Quando te vi com aqueles caras pensei mil e uma bobagens. Voltei lá a fim de pegar as mulatas mesmo.

– Cretino! E tu ainda me contas.

– Calma Mozão, me deixa terminar. Quando eu voltei, apareceu um negão de 1,90 de altura por dois de largura, um verdadeiro armário. Ele é noivo de uma e irmão da outra. O cara é gente fina, mas vai que ele se invocasse que eu tava sambando com a noiva e a irmã. Tomei uma cervejinha e caí fora. Aquele desfile já tava cansando mesmo, fiquei andando na praia e depois fiquei bebendo mais umas ali ao lado da pizzaria com uns parceiros que fiz amizade.

– Cansou do desfile? Daquela maravilha? Bah! Eu fiquei até o desfile dos garis.

– E como voltaste para o hotel?

– Ahhh! Meus francesinhos me trouxeram. Eles estavam em um hotel aqui perto e queriam muito te conhecer – risinhos cínicos.

– Eu? Por quê?

– Eu falei que tu és meu irmão e que és gay – gargalhadas.

– Mas que merda.

– Não te preocupes Fofito. Eles já estão voltando para a França. Eu passei a tarde com eles me despedindo – e continuam as risadas.

– Tá bom, mas que sacanagem, hein? Então estou perdoado?

– Vou pensar. Tu te comportaste muito mal.

–Pensar já é um começo vou tomar um banho e pedir uma coisa para comer.

– Eu já jantei, carambola à francesa. – e mais gargalhadas – mas vou pedir uma coisinha.

– Já não sei não se os caras eram mesmo bichonas.

– Gays! Fofito, gays! Estes machistas tão insensíveis.

Após respectivos banhos, lanches e higiene pessoal, Alberto se prepara para deitar.

– Fofito! O que pensas que está fazendo?

– Estou me preparando para dormir, ora. Por quê?

– Podes ir para o sofá da salinha!

– Mas Mozão?

– Nada de Mozão eu ainda não te perdoei, xô xô.

– Que merda mesmo, última noite e tenho que dormir no sofá de novo, ô saco.

Muitos minutos depois...

– Fofito – grita suavemente Matilde.

– O quê? – resmunga Alberto.

– Tá dormindo?

– Ainda não. Por quê? – mais resmungos.

– Vamos brincar?

– Ah Mozão, estou cansado, com dor de cabeça, dia terrível, não estou no clima.

– Deixa comigo Fofito, eu te coloco no clima. Deixa tudo com o teu Mozinho aqui.

– E se eu não conseguir? Tu vais ter paciência?

– Mais do que um monge Tibetano, vem.

– Então, tá bom, estou indo.

E mais uma vez vamos preservar a intimidade do casal.