domingo, 3 de novembro de 2013

Encontro no aeroporto


No início dos anos 70 uma carta chegou erroneamente à casa de Fernando. Procurou o destinatário, mas em vão, pois nas redondezas em que residia, ninguém conhecia a pessoa que deveria receber a correspondência.
Achando que era obra do destino, abriu o envelope e verificou que havia uma foto de uma linda jovem. O texto continha palavras amáveis que o comoveram.
Após ler a carta várias vezes, ele não hesitou em responder explicando a situação e comentando que tinha achado tais palavras muito bonitas. Então, pediu para se corresponder com a autora, Lívia que, prontamente, achando interessante, passou a comunicar-se com ele.
As cartas eram freqüentes e, por elas, a troca de carinho foi aumentando. Um era o ombro do outro devido aos problemas individuais que enfrentavam.
A vontade de se conhecerem era enorme e aumentava a cada dia. A possibilidade de telefonemas era remota, pois ambos não tinham telefones. Naquela época a telefonia não dispunha de muitos recursos e tecnologia.
Lívia era casada e Fernando noivo, mas eles tinham algo em comum, a infelicidade. O casamento de Lívia estava em decadência já há algum tempo. Não tão menos decadente estava o noivado de Fernando cujos princípios não o permitiam que desse fim ao compromisso devido à relação dos familiares.
Apesar do controle de ligações telefônicas que tinha na empresa, onde Fernando trabalhava, surgiu a primeira ligação. Ele conseguiu ligar para um comércio onde Lívia tinha relações de amizade. Ela havia enviado uma carta com uma semana de antecedência avisando que lá estaria na hora marcada. Com muito carinho eles se trataram, mas não fizeram promessas. O compromisso de cada um parecia um empecilho para sonhar mais alto.
As cartas já não eram mais suficientes. Eles precisavam ouvir um ao outro, então os telefonemas aumentaram.
Um dia chegou a oportunidade de se verem. Em uma das conexões aéreas que Fernando fora obrigado a fazer na cidade em que Lívia morava, marcaram um encontro. Ele aguardava no restaurante do aeroporto, enquanto ela para lá se dirigia. Seus passos eram rápidos em meio a tanta gente naquele lugar. A ansiedade era evidente e as pessoas entrecruzavam seu caminho impedindo-a de chegar mais rápido. Tanto tempo ela esperou por aquele encontro. Enquanto andava, seus pensamentos levavam-lhe a lembrança das cartas trocadas. Eles se conheciam há tanto tempo, foram tantas confidências compartilhadas, tantos beijos sonhados.
Enquanto se aproximava do local de encontro seu coração batia muito depressa e ela pensava em seu íntimo:
– Será que terei coragem?
Fernando olhava o relógio a cada instante se perguntando:
– Por que ela não aparece? Onde andará? Dará tempo?
Ela subia as escadas às pressas. Passou por um corredor que nem era tão grande, mas que parecia interminável até que, ao longe, o viu sentado a uma mesa. Os passos aceleraram ainda mais, até estarem frente a frente. Abraçaram-se como amigos que querem ser amantes e uma tímida conversa iniciou. 
A música era suave e Lívia meio à distância podia sentir o perfume dele. Ele não teve dúvidas de que ela era a mais linda e interessante mulher que já viu na vida.
Em vários momentos ensaiaram um beijo, mas estavam presos às convenções. Compromissos assumidos anteriormente os impediram de liberar tanto desejo.
Olhos curiosos não os deixaram à vontade. Parecia que todos os presentes percebiam que seus sentimentos estavam para explodir e eles só tinham olhos um para o outro.
Deram-se as mãos, conversaram, olharam-se com muito carinho, mas a lembrança do que os esperava em casa, impediu de terem maiores intimidades.
Não se sabe quanto tempo passou. Não deve ter sido muito mais do que uma hora até ouvirem aquela voz feminina no autofalante anunciando o voo de Fernando.
Mal se conheceram pessoalmente e a despedida era inevitável. Porém, bastaram alguns instantes para saber da importância de um na vida do outro.
Caminharam até o local de embarque. Os corações pulsavam fortemente enquanto pensavam nos beijos que gostariam trocar e promessas que gostariam de ter recebido. Entretanto, apenas um abraço muito forte aconteceu. Abraçaram-se como quem não vai mais se ver. Eles não queriam mais sair dali, mas a voz insistia para que se apressassem.
Ela ficou parada, acenando, vendo seu amor partir. Não teve coragem de fugir das regras e convenções ainda que por um único beijo. A distância aumentava e ele levava consigo o gosto de um beijo que nunca foi trocado.  E ela ficou ali com as lágrimas correndo. Seus lábios carentes com o gosto de uma despedida doída. Seu amor partia e ela o via ir embora, como quem olha a vida através de uma janela.
Como já era costume, juntaram seus próprios pedaços porque a vida os esperava. O tempo não para, e eles tendo que continuar sem ao menos parar pra chorar sua dor, voltaram a suas rotinas.

47 comentários:

  1. Fernando teve coragem e audácia de abrir a correspondência que não era dele, violou uma lei, mas não teve a coragem de beijar a Lívia que cabra frouxo. Parabéns prof. o texto bem criativo como sempre.

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  2. Noooooooossa, que linda!!Emocionante e ao mesmo tempo tão triste Pena ambos terem a infelicidade como parceira. Pena que não tiveram coragem pra dar uma mexida nas suas vidas e procurar a felicidade que talvez nem fosso naquilo que pensavam.Talvez aquele primeiro contaro nem fosse o mais importante, mas ... Adorei! Fiquei aqui pensando, imaginando a cena !abração,chica

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  3. Que lindo e triste ..mas que pena que nada aconteceu
    com eles, um amor intenso ,mas não tiveram forças para
    continuar com ele........Obra do destino não era pra ser...
    Lembrei do meu post......O trem partindo e eles se separando
    Achei bem interessante.....

    Bjusss


    . (.") .
    . /█\..└──●► *Rita!!

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  4. A história é comovente e triste ao mesmo tempo, pois eles formavam um casal perfeito, Cláudio passando pra desejar um ótimo domingo beijo.
    http://www.lucimarestreladamanha.blogspot.com.br

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  5. Eita que história complicada! Os dois compromissados já...
    Mas no geral e lembrou muito um filme, que acabo de esquecer o nome, onde eles se comunicavam por cartas, mas nunca se viram. ♥ Tão bonitinho!!


    beijoooos
    http://oicarolina.wordpress.com

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  6. As melhores pessoas que aparecem na nossa vida, surgem repentinamente de forma inesperada e surpreendente.
    Confesso que esse texto me levou a refletir. Talvez se eu tivesse no lugar de um dos dois, também não fizesse nada e me seguraria, mesmo com a vontade incessante. É uma ambiguidade entre razão e emoção muito complicada.

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  7. aeroportos são sempre cheios de emoções né!
    beijos!

    www.fashionfrisson.com

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  8. Quer saber o que eu acho?
    Acho que não terminou no aeroporto e que em mais algumas visitinhas por aqui, vou ter a notícia de que eles se encontraram novamente e foram felizes para sempre...
    Será? kkkk
    Adorei teu comentário no meu blog e já ri muito com ele kkk
    Bjsssss e muito obrigada pelo carinho
    Ah!
    Desejo uma noite muito linda p/vcs

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  9. Poxa, Claudio... eu esperava que eles tivessem a coragem de arriscar e assumir esse amor... mas a vida real é mais parecida com teu texto mesmo. Bem que dizem que só nos arrependemos do que NÃO fazemos...
    Viu, tira uma foto dos teus gibis aí e me manda, hehehe!! Um abraço!!

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  10. que pena não terem ficados juntos
    amei seu espaço
    estou vindo do Prioridade de mãe
    seguindo com carinho
    até mais


    Ser Mamãe Pela Segunda Vez
    Google+Nanda

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  11. Fiquei chocado que no final eles não ficaram junto e se separaram desse amor que eles tinham. Esse amor podia se juntar (mesmo tendo cada um um compromisso) mas se separaram das outras pessoas que eles estavam. Mas é uma história linda mesmo. Fiquei alegre por um momento e trsite por um outro rs.

    Abraço!

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  12. Oi Cláudio,

    Um conto envolvente e muito bem escrito.
    Ambos estavam presos às convenções e compromissos e preferiram continuar sua rotina de vida, ainda que infelizes, a ousar a mudança de suas histórias e, quiçá, encontrar a verdadeira felicidade.

    Abraço.

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  13. Claudio, se tiveram coragem de chegar até o aeroporto, certamente continuarão, desde que reorganizem suas vidas, procurando não magoar muito outras pessoas.

    Temos que ser felizes!!

    Ousem e arrisquem! Apenas lágrimas, não abre caminho para a continuidade...

    Tenha um ótimo dia,

    abraços, Lígia e =ˆ.ˆ=

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  14. Nossa! Amei o texto! E eu na torcida para aquele maravilhoso beijo! Rsrsrs


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  15. oi que texto interessante, também sou do agenda de blogs vim conhecer seu cantinho ´gostei e ja estou te seguindo. venha conhecer meu cantinho também http://pontocruzdapri.blogspot.com

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  16. Nossa amigão, que conto maravilhoso! Vc está a cada dia melhor. Por favor depois nos fale se eles se encontraram novamente e foram felizes. Estou na torcida!!!
    Beijinhos...

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  17. Que triste essa história =/
    Achei que iam ficar juntos, fiquei com esperança até a última linha... podia ter tido uma passagem de tempo, sei lá...
    Muito triste.

    Abraço

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  18. Poxa, que triste historia.. hein? Mas envolve intensidade e isso a torna bonita.

    Beijos.
    Saudades daqui.

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  19. Nossa! achei legal mas triste, pois teve audácia numa coisa e na outra não..
    E deixou a vida se encarregar do resto rsrs
    Gostei, sempre humano e humorado ^^
    Abraços.
    http://rob-umarosaazul.blogspot.com.br/

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  20. Lindo, triste e real.
    Claro que hoje em dias poucas pessoas mantem relacionamentos estando infelizes, mas antigamente sim.
    Esses dois tiveram mais da vida do que muitos casais que ficam anos, mesmo sem nunca se tocarem.

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  21. Ansiosa para ver no que vai dar!!! Rsrsrsrsr bjs

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  22. OI CLAUDIO!
    MUITO BONITO TEU CONTO.
    MAS, PODE-SE TORCER POR UM FUTURO PARA OS DOIS, QUEM SABE...
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  23. Oiee é como muita alegria que venho te convidar para participar do 1º Sorteio do Blog.

    Serão 11 ganhadores, vai lá conferir.

    Participe!!!

    Beijooos*

    http://prioridadedemae.blogspot.com/2013/11/sorteio-meta-100-seguidores.html

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  24. Olá!Boa noite, Cláudio!
    Belo e real...
    ..."eles tinham algo em comum, a infelicidade."
    Confesso que pensei que o "destino" iria aprontar mais uma e os juntar... há uma amálgama de explicações irreais que dificultam a compreensão da realidade.
    Mas , Lívia e Fernando, além de audaciosos, deveriam ser mais egoístas. Ser egoísta quando o assunto for amor e felicidade. Cuidar do que falava mais alto dentro de si, mesmo que fosse só uma tentativa. Às vezes a saída é deixar vir pra ver o que acontece...
    …é horrível o poder que algumas pessoas tem de destruir até coisas que não viram ou não souberam...e conseguiram tirar isso, de Lívia e Fernando , mesmo em falta na vida delas…
    Agradeço pelo carinho ,belos dias, abraços!

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  25. A falta de coragem inibiu o amor...que pena!

    Belo texto!

    Abçs

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  26. É como dizem a vida não para pra remendar os pedaços ou pelas oportunidades perdidas, mas bem que a história poderia ter um final alternativo mais feliz haha. Beijo.

    http://utopianongrata.blogspot.com.br/

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  27. Grata pelas palavras em minha página professor.
    Muito bom o seu texto.
    Tenha uma excelente semana.
    um grande abraço!

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  28. Ola!!! Deus seja contigo boa noite amigo amei o seu texto obrigado
    pela visita amei, sucesso amiga.

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  29. Por que não mudar os caminhos? ter uma oportunidade e voltar para a mesmice, a tristeza, foi uma opção deles. Uma escolha equivocada, pois somos responsáveis por nossos atos e devemos assumir aqueles que nos chamam. Compromissos podem ser rompidos, com lealdade e dignidade. Abraços.

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  30. Cláudio, que maldade foi essa? Você poderia ter deixado acontecer um beijo, né?rs...Um abraço !!!

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  31. Como sempre seus textos mt inspirador, gosto das histórias contadas...
    www.bybeiju.blogspot.com.br

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  32. Cláudio, boa noite!
    Um lindo texto. Amei, especialmente, o último parágrafo. Mto tocante!
    É preciso coragem para não se perder momentos importantes em nossas vidas!
    Eles podem não se repetir!
    Bjs e ótimo final de semana!

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  33. Gostei do conto, professor Claudio, pela época era mesmo assim, paixão mal resolvida, se dizia, mas uma coisa é certa, esse amor é um tipo de amor que dura eternamente, jamais sai das mentes, ilusão que não teve tempo de haver a desilusão, pois é, hoje o amor dura horas e acaba logo depois de consumar um ato completo de entrega por se confundir com amor e na verdade é apenas paixão!
    Abraços e obrigada pelo carinho de sua visita, gostei muito de ler aqui!

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  34. Vou repetir o comentário que você fez no meu blog há alguns dias:

    "Silêncio", "suspiro", "outro suspiro"...

    Fiquei querendo juntar os dois sem me importar se o final soaria clichê ou não.
    Esse meu lado de "última romântica" faz meu coração ficar apertado mesmo que tenho sido apenas uma história. Confesso que sofri um pouco com os dois, pelo
    beijo que não foi dado, por tudo que não pode ser e que ficou em sentimento, em pensamento... Lindo, lindo lindo!

    Quem sabe num dia desses eles não acabam se reencontrando? Deixe-nos ao menos uma promessa, senho escritor, por favor. rsrsrs

    Abraços, Claudio.
    eraoutravezamor.blogspot.com
    semprovas.blogspot.com

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  35. Queridos e queridas,
    Obrigado pelos comentários e envolvimento com o Fernando e a Lívia.
    Surpresas virão no próximo post, que será neste domingo.
    Está prometido.
    Beijos e abraços, cada um pegue os seus.

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  36. Excelente texto, Cláudio. Fico pensando: quão diferente seria a nossa vida se tivéssemos coragem de arriscar o que as convenções nos impedem de fazer! Mais feliz? Talvez. Acho que nunca saberemos.
    O Silêncio não Existe

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  37. Que texto emocionante."Encontro no Aeroporto" me fez ficar emocionada e torcendo pelo casal. Pena que a opção deles foi a separação.Fizeram tanto para chegar ao encontro e o descartaram.Adoro ler, e gostaria de ler mais..... beijo!

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  38. Bom dia meu anjo, me perdoa por ter desaparecido. pode me puxar a orelha ok.

    Sobre o texto é uma historia preciosa, me emocione muito no final. Vc tem um grande talento para escreve. Um forte abraço e que tenha um otimo fim de semana.

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  39. Boa tarde de sábado!!!!

    Agradeço sua visita tão carinhosa
    e desejo sempre o melhor pra vc
    tenha um final de semana cheio de alegria com esse post divino, que
    sempre enche nossos olhos de muita
    alegria bjussss

    Abraços com carinho!

    └──●► *Rita!!

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  40. Olá meu querido,
    As vezes Deus manda a resposta mas as pessoas não conseguem ser livres o suficiente para ver e entender...acomodados é mais simples seguir um risco no chão do que uma nuvem no céu
    Estarei aguardando o post de domingo
    Beijos
    Joelma

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  41. Boa tarde meu amigo, que história linda porém triste, gostaria de saber o final... Grata por sua visita, que seu domingo seja lindo, abraços com carinho
    Roseli

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  42. Passando para deixar um abraço fraternal.
    Nicinha

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  43. Essa carta teria sido o destino tentando dar um empurrãozinho?!

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  44. Como, supostamente, deveria responder a isso? Bem, sabe, eu acredito que as pessoas só devem permanecer juntas se houver amor. Quando não houver, mesmo que uma das partes ainda o sinta, é hora de dizer adeus. Então, ler, ou falar sobre o assunto - quando ele é tratado de forma complicada como no seu conto - é difícil pra mim.
    ●••●Emilie Escreve●••●

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  45. Oi, Claudio!
    Gostei muito! Gosto muito, como já comentei, dos enredos que você cria.
    Cartas e encontros em aeroportos ou rodoviárias também acho que caem muito bem nos romances! xD
    As cartas teem aquele caráter de documento, aquele coisa de ser lida e re-lida várias vezes, a ansiedade pelo correio... ^^
    Acho que “daria filme”... e certamente o público iria querer que eles se beijassem... Mas acho que isso estragaria “a moral da história”... Pessoalmente acho que o que deveriam não seria exatamente se beijarem no aeroporto, acho que deveriam romper, independente do que há entre eles, com seus atuais relacionamentos – que se eles não perceberam estão falidos! Fernando ao invés de escrever cartinhas deveria rever seus princípios (ou resgatar a paixão, se for possível, com a esposa... O mesmo da outra parte... ) Então estariam livres para beijarem quem quisessem no aeroporto ou qualquer outro lugar...

    Mas já vi que tem continuação! Vou ler a continuação.

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  46. Que lindo, li primeiro a continuação pra depois ler esse, as vezes a vida prega peças na gente, porque ele nos coloca em caminhos de pessoas que nunca pensamos em conhecer.
    beijos

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