domingo, 30 de novembro de 2014

O último guardanapo

            – Olá tudo bem?
– Oi! Pois não.
– É que o restaurante está lotado e você está aqui sozinho. Você permitiria que eu sentasse?
– Ah sim. Fique à vontade.
– Obrigada. Meu nome é Lúcia.
– Prazer, Clóvis.
– Este restaurante é tudo de bom, né? Você gosta daqui?
– É a primeira vez que venho.
– Primeira? Está perdido? – Risos
– Na verdade eu vim resolver uns problemas aqui em frente e o restaurante me chamou a atenção. Eu achei legal sim. Conheço alguém que iria adorar.
– Hum! Quem seria?
– Uma amiga.
– Hummm! Amiga, sei.
– Risos.
– Clóvis. O que está fazendo olhando para este guardanapo?
– Estou pensando. – Risos
– Pensando?
– No que escrever?
– Para alguém especial de certo.
– Sim, muito.
– A amiga?
– Risos – sim.
– Desculpa. Estou sendo enxerida.
– Tudo bem.
– Então, você é bom de escrita ou é daqueles que copia?  – Risos.
– As vezes sou bom, as vezes copio, outras escrevo e não fica bom.
– Que legal. Pelo menos escreve. Vou me servir. Você me acompanha?
– Sim. Ainda não sei o que escrever.
Minutos depois...
– Nossa este restaurante é demais – disse ela.
– É bom mesmo. 
– E a inspiração voltou?
– Ainda não.
– Achei que tinha facilidade para escrever.
– Sim. Mas este está difícil?
– Por quê? Xiiii! Lá estou eu sendo enxerida novamente.
Ele ri.
– Você só ri.
– É que a situação é complicada. Eu não conheço você.
– E to querendo saber de mais né? Desculpa. É que você mexeu com a minha curiosidade.
– Curiosidade feminina?
– É – risadas.
– Normal.
– Eu sinto tristeza nos seus olhos.
– Deve ser porque este é o último guardanapo.
– Como assim? Tem um monte ai.
– Não é isto? – risada – Este será o último que escrevo.
– Precisa ser o último?
– Acho que precisa.
– Você não está bem certo.
– É porque eu não queria que fosse o último.
– Então? Por quê?
– Olha. Não quero ser indelicado, mas não gostaria de falar sobre isto.
– Desculpa. É que quero ajudar.
– Muita gente quis. Todo mundo torceu pela gente, mas ela não quis e isto, neste momento, é o que está importando.
– Mesmo assim vai escrever o último guardanapo. Por quê?
– Porque daqui a três dias ela fará aniversário. Aí, eu vi este guardanapo e resolvi escrever, pela última vez, para fechar a coleção dela.
– Coleção? Nossa! Você escreveu muitos?
– Não lembro, mas foram alguns.
– Como você os entrega?
– Este vai pelo correio, como outros que mandei. Já dei pessoalmente, e entreguei na portaria do prédio onde ela mora e assim vai.
– Como você é romântico. Eu gostaria que meu marido tivesse a metade do seu romantismo.
– Engraçado. A prima dela já me disse a mesma coisa.
– É que é difícil encontrar homens assim.
– Será?
– Ô! Coisa rara, em extinção.
– É! Eu sei.
– Não é para ficar convencido – risos.
– Você que está enchendo a minha bola.
– Esta amiga deve ser uma boba para perder alguém como você, assim.
– Não é bem perder. Ela não quer. Escolha de vida.
– Mais boba ainda.
– Acho que ela mesma já me disse isto.
– Vocês tiveram algo intenso?
– Lúcia!
– Risos – Desculpa. Curiosidade feminina de novo.
– É, tivemos sim, quer dizer, acho que sim. Pelo menos da minha parte.
– E você foi feliz?
– As vezes sim, as vezes não.
– Como assim?
– Você hein? Que inquisição.
– Ah! Conta vai. Eu não a conheço. Nem sei o nome dela.
– Risos – É Morgana. Na verdade ela nunca quis assumir. Sempre foi na base do escondidinho sem envolver amigos, parentes e colegas.
– Humm, isto é coisa de mulher comprometida.
– Não sei. Acho que não, se fosse o namorado ficaria sabendo. Não foi tão escondido assim. Acho que ela não queria compromisso.
– Entendi. – Será insegurança?
– Não sei. Nunca consegui entender.
– Olha! Não quero ser mais metida que já fui – risada de ambos – mas acho que ela não gosta de você.
– Já pensei nisto muitas vezes, tentei aceitar isto, até falei para ela.
– E o que ela disse?
– Para eu não por palavras em sua boca.
– Que menina estranha. Ela já foi casada?
– Não! E que eu saiba nunca teve namorado.
– É! Complicada a mocinha.
– Putz! E como?
– Mas você a ama muito.
– Dá para notar?
– Muito. Está no seu jeito. Nos seus olhos. Isto que to te conhecendo hoje. E ela sabe disso?
– Sabe. Teve tempo que duvidava, mas agora acredita. Pelo menos disse “eu sei” na última vez que falei a ela.
– Ai que lindinho. Um homem sensível e apaixonado.
– Vai me zoar agora?
– Não, não! To apaixonada pela tua história. Você é uma pessoa linda, um poeta.
– Se eu sou por que ela não me quer?
– Meu querido, porque ela é uma tonta.
– Não fala assim. Ela só deve estar em conflito com os seus problemas que eu não sei quais são. Pelo jeito, eu seria mais um.
– Você é suspeito – risos – está amando.
– Eu só queira entender por quê.
– É meu amigo. Pelo jeito você não vai entender nunquinha.
– Pior que sei disto.
– E no aniversário dela. Como vai ser?
– Não vai ser.
– Mas você não vai aparecer? De repente uma surpresa.
– Não. Não estamos nos falando e eu ainda estou traumatizado com o último.
– Nossa! O que rolou?
– Isto eu não vou te contar – risos.
– Tudo bem. Já te enchi demais.
– Que nada. Foi divertido. Eu me distraí. Você é muito legal.
– Você que é muito fofo. Fiquei aqui tirando a tua atenção e você não escreveu ainda.
– É que este está muito difícil mesmo.
– Imagino.
– Você é sempre social assim?
– Quer dizer dada? – gargalhada.
– É – risos.
– Sou sim, muito extrovertida. Ainda bem que meu marido não é ciumento. Se não eu estaria ferrada.
– É. Estaria mesmo.
– E aí, já sabe o que escrever?
– Sim.
– E vai me contar?
– Uma coisinha a mais não fará diferença para mim né? – risos.
– Eba! Então fala logo homem de Deus.
– Vou desejar felicidade e dizer que se eu tivesse um pedido, desejaria iniciar tudo de novo para corrigir os erros, perdoar e ser perdoado.
– Que lindo!
– Tomara que ela também ache.
– Vai achar. A não ser que seja insensível.
– É! As vezes acho que ela é durona demais, mas  acho que é só por fora.
– Bom meu querido, preciso ir. Olha, pegue o meu cartão. Adorei conhecer você.
– O prazer foi todo meu.
– Boa sorte no seu caso.
– Não é questão de sorte.
– Você acredita em destino?
– Sou meio cético, mas as vezes acontecem coisas que fazem a gente pensar.
– Como?
– Encontros casuais, coisas que aconteceram para nos aproximar.
– Interessante. Já que é cético o que pensa disto tudo?
– Que a vida nos dá recados, nos mostra caminhos, mas não decide pela gente.
– Bonito.  Bom meu querido preciso ir mesmo, é uma pena. Ganho um abraço?
– Claro.
O encontro casual termina com um grande abraço fraternal e um beijo no rosto. Ela se afasta, olha para trás, atira mais um beijo e sai do restaurante sorrindo. 
Ele, enfim, escreve no último guardanapo. 

26 comentários:

  1. Bom dia Claudio.
    Existe muitas Morgana pelo mundo, as vezes mesmo amando, assumir um compromisso não está nós nossos planos, não por falta de amor, mas muitas vezes pela circunstancia da vida. Uma bela historia, tomará que ele aceite viver esse amor da forma que ela quer, e ela aceite começar do começo, assim vão viver muitos momentos incríveis. Um lindo domingo.
    Abraços.

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  2. Gostei muito, Claudio!
    Minha curiosidade feminina me faz ler ansiosa para ver no que iria dar! xD
    Clóvis e Morgana? Que nomes mais vampirescos! xD
    ...beijinhos***

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  3. Tu nos prendes até o final. Tens esse dom e ficamos querendo saber o que acontecer´[a.; Adorei mais esse! abraços,chica

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  4. Muito bom texto,amigo Claudio!
    As mulheres são sempre muito curiosas mesmo!
    Começar é sempre muito bom, sem pensar em passado, iniciar uma vida vai sempre valer a pena!!!!!!
    Boa semana,amigo!
    http://www.elianedelacerda.com

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  5. Algo no texto me fez chorar.
    belo texto mestre


    http://brendovieira.blogspot.com.br/

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  6. Muitooooooo bom!
    Como sempre né amigo?
    Quando entrar n/restaurante agora, vou sempre lembrar do último guardanapo...
    Bjssssssss amigo

    N/entendi pq quebrou tantos teclados com as minhas indefesas receitinhas kkk

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  7. Perdeu a chance de usar o último guardanapo p/secar kkkk
    Bjsssssssss

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  8. ahhh muito legal toda estória, na vida os relacionamentos vem e vão, há 2 anos atrás eu nem queria papo com meu atual namorado, tentei me livrar de todas as formas e por fim dei o braço a torcer, e que bom... pq é uma pessoa incrível que quase perdi por medo, insegurança, até acredito em destino agora kkk esse texto me fez lembrar eu mesmo. Vc é muito talentoso, adoro seus textos. bjo,até mais.

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  9. amei esse texto, aliás amo todos os seus textos
    obrigada por sempre visitar meu blog, adoro quando você aparece
    bjs


    ** https://www.youtube.com/crisartigosfemininos **

    ** http://crisartigosfemininos.blogspot.com.br/ **

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  10. Tava achando q esse papinho era tática de conquista do Clóvis, rsss... Bem poético. Gostei!

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  11. Vou desejar felicidade e dizer que se eu tivesse um pedido, desejaria iniciar tudo de novo para corrigir os erros, perdoar e ser perdoado. amei essa frase, perfeita..bjs
    www.blogpinkmakeup.com

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  12. Um diálogo onde um mero guardanapo pode fazer toda a diferença.

    Beijinhos

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  13. Siempre hay un ultima y una primera, interesante relato, y curioso. Un Fuetre ABRAZO

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  14. Oi amigo, vim lhe desejar uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!

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  15. Parabéns, mais uma vez você surpreendeu com a história se passando por um guardanapo. bjs

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  16. Eu estamparia uma careta nesse guardanapo, isso sim!
    A estória foi muito linda Cláudio, e a certa altura, até achei que conhecia os personagens, de tão bem que se deram nessa conversa.
    Grande abraço!
    Identidade Aleatória
    O Identidade Aleatória está no facebook!

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  17. E quantas histórias assim não existem pelo mundo afora? O problema é que a maioria nunca consegue as vezes o mais simples suporte que possa ser realmente útil. Às vezes um encontro casual com um estranho na rua serve melhor do que nada.

    thoughts-little-princess.blogspot.com

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  18. Parece que estava juntos deles no bar...adorei. E quem nunca teve encontro casual assim..

    Os seguidores do Café entre amigos elegeram os melhores blogs de 2014, parabéns o seu está entre os vencedores. Convido com muito carinho para vi conferir o post e receber o selo especialmente criado para os eleitos.
    http://www.cafeentreamigos.com/2014/12/seguidores-do-cafe-entre-amigos-elegem.html

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  19. OI CLAUDIO!
    ACHO QUE DEPOIS DO ENCONTRO ELE TEVE INSPIRAÇÃO PARA ESCREVER NO ÚLTIMO GUARDANAPO.
    ACHO QUE PUSESTE A PROVA A CURIOSIDADE FEMININA NESTE DIÁLOGO, FIQUEI CURIOSA E LI NUM FÔLEGO SÓ. RSRSRSR
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  20. Encontros... Adorei a história!!! Escrever o último guardanapo é sempre tão difícil...me vi na pele dele algumas vezes... faz parte!

    Estou adorando seus textos! parabéns!

    Bjos
    JuJu
    asbesteirasquemecontam.blogspot.com.br

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  21. Um encontro casual de encher o coração.
    Adorei.

    Beijos.

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  22. Muito, muito, muito bom, Cláudio!
    Adorei ler! Será que vai ter continuação, hein, hein???
    petalasdeliberdade.blogspot.com

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  23. Boa noite amigo Cláudio!
    Achei que ia rolar algo no final. ..rsrs
    Adoro ler seus textos!
    Tenha uma ótima semana !
    Abraços da Bia!

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  24. Adorei.Já vou ler a continuação pois vi que tem.

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  25. Fiquei ansioso para saber como terminava hahaha!

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