Hermes, um homem de meia idade, bem apresentando e de boa
educação, entra em uma cafeteria tradicional e se direciona para o balcão
quando outro homem, mais jovem, se vira repentinamente com sua xícara de café e
esbarra nele.
– Porra! Não olha por onde anda – fala Jackson.
– Foi você quem virou repentinamente – responde Hermes.
Jackson não admite o erro e inicia uma discussão. Porém,
uma bela moça levanta-se e toma partido de Hermes.
– Deixa
de ser grosso. Foi você que esbarrou nele.
– Ah! Ta
bom. Agora este velhote tem advogada de defesa.
Os
funcionários da loja intervêm e retiram Jackson da cafeteria, que sai
debochando e rindo. Logo depois que ele sai...
– Posso
pagar um café para te agradecer? – diz Hermes.
– Claro –
responde Bartira – sempre é bom conversar com alguém educado.
A
conversa parece bem interessante porque passam alguns minutos e eles trocam
telefones. Ao sair da cafeteria, eles se despedem e cada um toma um sentido da
rua. Ao passar por um pequeno beco Bartira é puxada para dentro.
– Ai que
susto Jackson – disse ela – tá maluco?
– Deixa
de ser fresca. E aí como foi?
– Ele parece
ter ficado interessado, acho que vai ser mole.
– Vai
sim, eu estudei este cara por muito tempo. É viúvo e sem filhos. Leva uma vida
discreta, poucos empregados e apenas dois seguranças na entrada da casa.
Seguiremos o nosso plano e ficaremos milionários. Porém, não poderemos
arriscar. Teremos que evitar o contato físico por enquanto.
– Ai
amor, e eu vou ficar na saudade? Só aquele velhote?
–Te
acalma, mulher. Vai ter que te controlar. Nosso futuro depende do teu desempenho.
Nada de contato por telefone. Só por e-mail. Telefone é perigoso.
Hermes
sai com Bartira algumas vezes até que a pede em casamento e ela aceita. Depois
de pouco tempo do casamento os amantes voltam a se encontrar.
– E aí? Quando
vai ser?
– Calma
Bartira, é preciso planejar. Serás a primeira suspeita se não fizermos direito.
– Não é
você que tem que aguentar aquele velho.
– Vamos
continuar com o plano. Logo logo seremos ricos.
O plano
era matar Hermes para a Bartira herdar toda a fortuna e depois se unir com
Jackson. Porém, o plano precisa ser adiado porque Hermes precisa fazer uma
viagem à África...
–
Querida, preciso viajar a negócios. E desta vez não será uma boa você ir comigo?
– Graças
a Deus – pensa ela – Por que, meu amor?
– Vou
para a África por duas semanas, muitos negócios e reuniões, assim não terei
tempo para você.
– Tudo
bem querido, duas semanas passam logo, mas eu te levo no aeroporto.
Assim que
a aeronave decola, ela compra um telefone e liga para Jackson...
– Tá
louca mulher. Eu disse nada de telefone.
– Não
reparou no número seu lesado – risos – acabei de comprar. Depois eu jogo fora.
– Então,
ele foi mesmo.
– Sim,
vou dar folga para os empregados de dentro de casa. Você entra pelo
porta-malas. Não posso dispensar os seguranças, se não, ele ficará sabendo e
pode desconfiar.
– Fez o
dever de casa direitinho, hein?
– Entrei
nesta para ganhar meu amor, não fiquei aturando aquele velho para nada. Esta
noite vamos nos divertir na cama dele. E você poderá estudar a casa.
–
Perfeito.
Tudo
acontece como planejado. Eles se divertem e Jackson estuda a casa.
– É uma
casa segura – diz ele – sem ajuda de dentro não dá para entrar. Precisaremos
atacar na rua para não dar na vista.
– Não! De
jeito nenhum. Justamente no óbvio que vamos atuar.
– Ta
louca mulher.
– Nada!
Seria tão óbvio o assassino ter ajuda de dentro que a polícia pode não
acreditar.
– Sei
não. Muito arriscado.
– Confia
em mim. No dia que ele chegar, vou dizer que estou com dor de cabeça. Então vou
pedir para chamar uma pizza. O Hermes sempre chama da mesma pizzaria. Você vai
ter que dar um jeito de interceptar o motoboy. Aí fica fácil. Você rende os
dois seguranças e entra na casa. Render os funcionários vai ser mole. A noite
só a governanta e a cozinheira estarão. Apenas elas dormem no emprego. Não
posso dispensá-las de novo. Até mesmo porque é bom que elas estejam em casa.
– E o
velho?
– Vai
estar ocupado – risos.
– E a dor
de cabeça, sua louca? – Gargalhadas
– Tomei
uma aspirina – mais gargalhadas.
– Você
não vale nada.
– Não
esquece as coisas extras. Tem que ser perfeito.
Hermes
retorna e o plano deles está indo de vento em popa. Jackson consegue
interceptar o motoboy e o tranca no porta-malas de um carro roubado. Com a moto
ele vai à casa de Hermes e rende os seguranças e os prende com abraçadeiras
flexíveis de nylon para cabos elétricos. Ao sair da garagem, ele troca de roupa
e coloca um tênis com um número maior e vai até o quarto da governanta. Usando
meia no rosto ele a rende facilmente, deixando a presa. Após, ele troca de
roupa novamente, coloca perfume e faz o mesmo com a cozinheira. Então ele vai
ao quarto do casal e os surpreende na cama e tira na máscara...
– Que
está acontecendo aqui? – diz Hermes – Eu me lembro de você.
– Pois é
velhote. Sua hora chegou. Para deixar de ser burro.
– O que
você quer?
– Seu
dinheiro e sua mulher – Jackson com a arma em punho.
– Eu te
dou dinheiro – Hermes se levanta.
– Fica
parado ai, velhote.
– Se você
vai me matar por que tenho que ficar parado?
– Então
vem babaca.
Hermes
investe contra Jackson, que atira em seu peito e Hermes cai agonizante.
Para
completar o teatro, Bartira se atira no chão e abraça Hermes ensanguentado.
– Pegue
as coisas, não se esqueça de nada. Leve o carro que está na garagem e só tire
as luvas depois que se livrar de tudo.
– Pode
deixar minha gata. Eu vou queimar tudo.
– Quando
Jackson vira as costas, em seu último suspiro Hermes diz:
– Eu sei
de tudo e voltarei – e depois morre.
– Bartira
não entende muito bem, mas espera dez minutos e liga para o socorro e para
polícia.
O socorro
nada pode fazer por Hermes, mas atende Bartira que simula um estado de choque.
A polícia interroga os funcionários que dão a descrição dos supostos bandidos.
Os peritos constataram marcas de três calçados diferentes em alguns pontos da
casa e que Hermes teria ido em direção ao seu executor antes de ser atingido.
Pelo relato dos funcionários e do motoboy encontrado, a polícia conclui que uma
quadrilha teria invadido a casa do milionário, que teria sido morto por reagir.
A reação de Hermes foi confirmada por Bartira no dia seguinte quando se mostrou
mais calma após o sepultamento. Logo, eles deram o caso como latrocínio e
procuram por três criminosos. No inventário ela tem algumas surpresas. Durante
a viagem, Hermes vendeu a empresa e os bens por uma quantia extraordinária e
colocou o dinheiro em uma conta no exterior cujos número e senha não deixou com
ninguém. Ela descobre também que terá que deixar a casa em um mês. Ela se
desespera e liga para o amante...
–
Bartira! Não combinamos que íamos deixar as coisas esfriarem?
– Deu
tudo errado. Deu tudo errado.
– Calma
mulher, o plano foi perfeito. A polícia procura por três suspeitos. As provas
foram destruídas. Eles não têm como pegar a gente.
– Não é
isto. Ele sumiu com o dinheiro. Não temos nada. Nem o carro.
– Como
assim?
Ela
explica...
– Que
filho da puta.
– O que
faremos agora?
– Pegue
tudo que puder; joias, dinheiro, valores, isto deve ser tudo seu e teremos que
planejar outro golpe.
Então,
eles se encontram e vão para um motel na estrada um pouco longe da cidade.
– Que
merda! – diz ela – tanto sacrifício para nada.
– Muito
azar, mas por que ele faria isto?
– Não
sei. Talvez fosse me contar e não demos tempo.
– Bom.
Ganha-se umas e perde-se outras. Teremos que atacar de novo. A nossa
aposentadoria não foi desta vez. Vem cá, vamos tirar o atraso.
– Não sei
como você ainda consegue.
– Com
você eu consigo sempre.
Depois de
algum tempo...
– Nossa!
Você estava igual a ele.
– Igual!
Por que acha isto?
– Você
não é assim. Estava muito diferente. Desculpe, mas parecia o Hermes.
– Talvez
– pausa – porque eu seja ele.
– Para
com isto, Jackson! Que palhaçada é esta?
– Eu sei
de tudo e voltarei! Lembra que eu te disse isto antes de morrer?
– Não
pode ser. Você está de sacanagem comigo.
– Não
querida, ele não poderia ter escutado porque já tinha saído.
– Como?
Como ele poderia estar no seu corpo, Jackson? Não posso acreditar nisto. E pare
de me olhar deste jeito como se fosse o Hermes.
– Eu já
disse que sou o Hermes.
– Isto
não existe.
Ele dá um
sorriso irônico e diz:
– Está
lembrada da viagem que fiz para a África?
– Claro,
ficou duas semanas fora. Quer dizer, ele ficou.
– Sim,
uma semana na África e outra na Europa. Veja as passagens que eu tinha guardado
em um armário do aeroporto antes de ser assassinando.
Ela
confere e apavorada diz:
– Para
com isto Jackson. Como você conseguiu isto?
Ele
continua explicando...
– Pouco
antes de te conhecer eu já tinha ido a África e lá conheci um feiticeiro que me
disse que eu ia morrer a não ser que eu o escutasse. Eu não dei bola, até o
tratei mal, mas ao me afastar ele disse que ao voltar eu receberia uma notícia
ruim. E de fato, descobri um câncer em estado avançado no dia que te conheci.
Não havia mais o que fazer. Os médicos me deram apenas seis meses. Ao te
conhecer eu senti uma força positiva, mas logo descobri o teu amante e
investiguei sobre vocês, mas o que adiantaria eu fazer alguma coisa se ia
morrer mesmo. Então, me lembrei do que o feiticeiro falou e fui até ele. Foi
surpreendente. Ele me disse que poderia fazer um feitiço para eu viver em outro
corpo, mas eu teria que ser assassinado por esta pessoa. A sorte sorriu para
mim. Porém, eu, mesmo no corpo do teu amante, não poderia ser refém do dinheiro
que você herdaria. Minha empresa era muito cobiçada na Europa. Eu já havia recebido
várias ofertas para vender. Aí, procurei um dos investidores e fechei negócio
com a condição de que meus bens pessoais entrassem no negócio. Eles não
entenderam muito bem, mas queriam muito a empresa, logo, toparam. Eu deixei
todo o dinheiro em uma conta da Suíça. Assim, eu só precisaria ser morto. Eu só
não sabia quando, mas tinha que ser logo, pois eu não tinha muito tempo.
Desconfiei que seria na minha volta. E de fato foi. Só achei que teu
namoradinho seria burro de me matar na cama. Como que a polícia veria isto? Eu
não queria ir para a prisão no corpo dele, né? Seria irônico. Por isto, investi
contra ele. Depois foi só esperar a primeira lua cheia. E isto aconteceu há
quase uma hora.
– E
agora? O que vai fazer comigo?
– Nada.
Não posso fazer nada. A polícia não acreditaria, né? Você mal acredita.
– E o que
acontece agora?
– Eu vou
viver de rendas e te procuro de vez em quando para matar a saudade – risos.
– Vou ser
tua escrava para toda vida?
– É! Acho
que vai. E não tente me matar. Eu não gostaria de ter que viver em um corpo de
mulher. Se bem que seria uma experiência interessante – mais risos.
– E eu
vou viver de quê?
– É
problema meu? Não, né? Porém, você tem duas escolhas. Segue a sua vida e se
vira com os teus golpezinhos de merda ou mora em uma fazenda que eu vou comprar
para eu te visitar de vez em quando. Terás o suficiente para viver, nada mais
do que isto e se aprontar eu te coloco para correr.
– Acho
que não tenho escolha.
– É! Acho
que não.
– Maldito
Jackon. Sempre o achei meio burro mesmo.
– É
querida! Parece que nós dois ficamos presos a ele – gargalhadas.
Nossa! o Vodun acreditava que isso acontecia.
ResponderExcluirMas foi mais praticado nos EUA. Fora do continente africano.
A etnia americana, muitos morreram por causa
desse rito.
No Brasil alguns poderosos nesse ritual davam as regras no Brasil colônia.
No fim ela até que se deu bem... Gostei de ler...
Boa continuação de semana.
Amigo que máximo essa historia estou precisando passar mais
ResponderExcluirneste cantinho historia maravilhosa arrasou como sempre
Meu canal: https://www.youtube.com/watch?v=apP6eHn5PlI
Blog:http://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br
Amei esse post,
ResponderExcluirpois foi de grande interesse cultural para mim,
não conhecia bem esses fatos!
Bjos e parabéns!
http://www.elianedelacerda.com
Essa é a diferença do "burro" e do "inteligente", e no meio dos dois, um cara "HIPER INTELIGENTE" que consegue contar uma história que tinha tudo p/ser um drama, e que no final se torna até uma comédia!
ResponderExcluirVc é demaisssssssssss!
Estou p/ir em SAMPA, vou levar um vidro das redondinhas p/vc ok? kkkk
Bjssss amigo e um belo FDS p/vcs
Uma história emocionante, daria um ótimo filme policial, Cláudio abraços.
ResponderExcluirOie Claudio =)
ResponderExcluirGostei do conto. Adoro histórias com humor inteligente, e esse conto tem uma boa dose disso.
Parabéns!
Beijos;***
Ane Reis.
mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
@mydearlibrary
Tenho que dizer que quando comecei a ler essa história não esperava pela reviravolta do final, ficou muito boa mesmo, parabéns!
ResponderExcluiraguardandoocamaleao.blogspot.com
Excelente! Um final completamente inesperado. ADOREI!
ResponderExcluir_________
Obrigada pelos parabéns à minha "CASA".
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Oi amigo, desculpe a ausência, aos poucos estou voltando.
ResponderExcluirTe ofereço dois presentes, fique à vontade para pegá-los se quiser:
http://arionetorres.blogspot.com.br/2016/02/o-jardim-da-vida.html
http://cantinho-dos-baixinhos.blogspot.com.br/2016/02/pinturas-de-criancas-4-
fevereiro.html
Tenha uma excelente semana, abraços e fique com Deus!!
Vim pela curiosidade e fiquei presa na história (muito boa) que escreveu.Parabéns!
ResponderExcluir:-)