sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O sutiã sobre a cama



Carlos Eduardo é um cara muito admirado e bem relacionado. Ele é sério, trabalha, estuda, ajuda seus pais e também sua namorada Luciane. Ela é linda e simpática e eles formam um belo casal. Mas, Cadú, assim chamado pelos amigos, esconde um segredo.  Ele tem uma atração incontrolável pela melhor amiga de Luciane, a Adriane. Carlos Eduardo a conheceu quando acompanhou Luciane em um evento de moda, ocasião em que as duas se reencontraram depois de muito tempo. Elas são amigas de infância e acabaram se afastando pelos motivos que a vida cria sem muita explicação.
Adriane é linda. Muito mais que Luciane. Mas, para Cadú, apesar da atração que sente pela amiga da sua namorada, é Luciane a mulher da sua vida.
Ele sempre tentou evitar um contato mais próximo, percebido pela Luciane.
– Por que tu não gostas da minha amiga?
– Quem disse que não gosto? (Gosto até demais – pensou ele).
– É que tu sempre a evita.
– Impressão tua meu amor. Gosto dela sim (imagina se ela soubesse que tenho sonhos eróticos – pensou novamente).
– Então não vais te importar se ela ficar uma semana comigo na casa de praia dos teus pais.
– Claro que não meu amor. Fiquem à vontade. (Ainda bem que só irei nos fins de semana, assim não sofrerei tortura em vê-la de biquíni o tempo todo na piscina).
Os pais de Cadú preferem ir para o sítio, o que faz com que a casa de praia esteja sempre disponível.
No Sábado pela manhã ...
– Adri – falou Luciane – vais na frente com o Cadú porque tu és maior do que eu. Ficarás mais confortável.
– Não! Imagina se vou separar o belo casal. Já chega eu estar indo de chá de pera.
– Vais na frente e pronto. É que eu costumo dormir. Eu tenho sono de pedra, e aqui atrás, para isto, é mais confortável e seguro.
E de fato na viagem, Luciane caiu em sono profundo e Adriane puxou assunto.
– Minha amiga é uma mulher de sorte por ter um cara assim como tu.
– Obrigado. Mas, ela é incrível.
– Eu sei. Mas, ela só fala só coisas boas de ti. Eu só encontrei pilantra até agora.
– Uma mulher bonita assim não devia ter dificuldades  (Putz escapou).
– Humm tu me achas bonita? Obrigado.
Carlos Eduardo não gostou muito daquele “humm” nem do sorriso que ela deu. Quer dizer, ele adorou mesmo não querendo gostar. Ele sentiu um calafrio que veio do dedo mínimo do pé, correndo pela espinha e chegando até o último fio de cabelo. Aquela atração que sentia e que lhe tirava o sono aumentava e o perfume dela era espetacular. A Janela entreaberta fazia com que o vento deixasse seus cabelos esvoaçantes e ela mexia sensualmente a cabeça para ajeitá-los.
– Que mulher é esta meu Deus? Por que está acontecendo isto comigo? – pensava ele.
A vontade que ele tinha era de parar no primeiro motel na estrada e passar o xaveco baseado naquele “humm” e o sorriso safado que ela tinha dado.  Mas, ai ele lembrou que sua amada estava no banco de trás e acelerou o carro para chegar mais rápido ao destino.
E chegando lá, iniciaram o ritual de bagagens...
– Amor! Enquanto eu ajeito as coisas aqui, mostre o quarto de hóspedes para a Adri.
Na verdade, o quarto é uma suíte e mostrar para aquela Deusa foi uma tortura imensurável para ele. Mas, como poderia dizer não sem chamar a atenção.  Ele pegou a bagagem e a conduziu para seus aposentos. Mas, a verdade é que ele estava com vontade de pegá-la no colo em vez da mala.
Após as coisas ajeitadas é hora da piscina...
Carlos Eduardo tentou não olhar para Adriane, mas foi impossível. Tudo que ele queria era conseguir não olhar para aquela mulher avantajada que parecia estar usando um biquíni infantil. Então ele voltou para dentro casa ...
– Ah amor! Fica aqui com a gente.
– Já volto.
Enquanto Adriana usufruía a piscina intercalando com o banho de sol, Luciane fazia as unhas embaixo do ombrelone. 
Cadú retornou com o jornal. Seria uma ótima distração para que ele não cometesse o pecado de cobiçar a melhor amiga da sua namorada até que ...
– Lu – disse Adriane – Passa protetor em mim?
– Ah! Não dá! Pode estragar as unhas. Amor! Passa protetor nela.
– Mas, Luciana ...
– Ai amor. Deixa de ser retrógado. Não tem nada de mais. E depois eu estou aqui.
Então ele teve que passar. Ao mesmo tempo em que tinha satisfação, suas mãos suavam.  Ele percebeu o sorriso de Adriane, mas fingiu não ver. Ele terminou de passar nas costas e parou.
– Ah! Passa completo – disse Adriane.
Ele olhou para Luciane como quem quer aprovação. Ela, por sua vez, fez sinal de positivo com a cabeça. Então ele sentiu aquelas pernas e aqueles glúteos tão admirados e desejados.
– Luciane é pura demais – pensou ele.
A noite chegou e rolou uma pizza. Os três conversaram amenidades e as moças foram dormir. Carlos Eduardo ficou na sala porque estava passando um filme que ele queria ver muito. Como o sono não veio, ele emendou outro filme. Então percebeu leves passos em direção à sala. O seu quarto fica no lado oposto. Logo, só podia ser da Adriane. Quanto mais ela se aproximava, mais o seu perfume se tornava presente e aquele calafrio aumentava.
– Oi! Não sabia que estavas aqui ainda.  Eu não consigo dormir.
Ele sentado, ficou olhando para aquele mulherão de pé a sua frente, com aquela camisola sensual, curta e semitransparente.
– Eu já estava subindo. A Luciane sempre fica me esperando.
– É legal o jeito que tu a tratas. Eu te admiro muito.
Ela foi até ele e o beijou no rosto, tipo cantinho de boca e deu boa noite. E ele subiu rapidamente fugindo daquela situação que lhe tentava. Na manhã seguinte, Carlos Eduardo ficou na cama até tarde com o objetivo de reduzir o tempo de contato com a tentação. Ele já havia falado que iria embora logo depois do almoço para não pegar o trânsito de retorno. O que ele queria mesmo era se livrar do veemente desejo.
Durante a semana ele teve momentos bem mais tranquilos. Futebol, churrasco e chopinho com os amigos fizeram a semana passar mais rápido. Ele, estava ansioso para voltar para a praia, porém, preocupado com a situação a enfrentar e novamente ficar entre a cruz e a espada. Chegou, então, o dia mais desejado pela grande maioria das pessoas racionais, a sexta-feira. As reuniões que ele tinha a tarde foram canceladas. Com a intenção de fazer uma surpresa para Luciane não avisou que estava saindo mais cedo.
Ele chegou na casa de praia e sentiu um silêncio que só não era total por causa do barulho do chuveiro que ele escutou ao se aproximar do seu quarto.
– A Lu está tomando banho e a maluquinha da Adriane deve estar na piscina. Vou entrar de mansinho. Cada tempo ganho, é um sufoco a menos – pensou ele.
Ao entrar no seu quarto ele percebeu um sutiã que não conhecia em cima da cama e achou que de surpreender passaria a ser surpreendido com roupinhas novas que Luciane poderia ter adquirido. Ele também sentiu um novo perfume de sabonete e sentou na cama para aguardar o banho terminar e curtir aquele aroma delicioso.
– Ela caprichou – pensou ele.
Mas, a surpresa foi grande mesmo. Quem saiu do banho com um perfume irresistível e enrolada em uma toalha minúscula foi a Adriane. O susto foi mútuo.
– Ai! Desculpa – disse ela – Meu chuveiro estragou e a Lu disse que eu poderia tomar banho no de vocês. Só estou à vontade porque achei que chegarias bem mais tarde.
– Saí mais cedo. Mas, e a Lu?
– Ela saiu recém. Foi no centro com uma amiga que passou aqui. Disse que ia demorar, pois só te espera a noite.
Com cabeça embaralhada com a cena inusitada e o perfume daquela mulher, Carlos Eduardo fica parado olhando fixamente para ela que disse:
– Oi! Tudo bem?
– Ah sim! É que tu me pegaste de surpresa. Não sei o que dizer. Tu assim na minha frente, no meu quarto. Isto deve ser teu – disse apontando para o sutiã.
– Sim é. Posso vestir aqui ou posso vestir no meu quarto. Tu escolhes.
Tonto com aquela beleza de cinema ele respondeu sem pensar:
– Que tal não vestir?
– Excelente escolha.
Com esta resposta Cadú esqueceu todos os princípios e agarrou a moça tirando-lhe a toalha e a beijando com todo desejo que estava reprimido há meses.  Ele a pegou no colo e a levou para o quarto onde estava hospedada e tudo aconteceu lá. Se não conseguiu preservar a fidelidade com Luciana pelo menos não fez onde dormiam juntos.
Após o fato consumado, nada aliviava a sua consciência. A Luciana estava para chegar. O que fazer? Contar a ela e perder a mulher da sua vida?
– E agora? – disse ele – Como contar para a Lu?
– Tu estás louco? Não a amas?
– Claro que sim. Ela é a mulher da minha vida. Quero casar com ela. Mas, estou com a consciência pesada.
– Não fique. Eu sei que desperto muito desejo nos homens. E percebi há muito tempo que sentias atração por mim. Eu joguei pesado. Eu tentei, te provoquei e consegui. Mas, não quero te prejudicar. Nem a Luciana. Aconteceu uma única vez e vai ficar assim. Uma amiga vai passar aqui para me pegar hoje mesmo. Daqui a dois dias eu embarco para a Europa e ficarei muito tempo lá. Não estrague a tua vida por um egoísmo meu.
Quando a Luciana voltou, as coisas já estavam contornadas sem vestígios do pecado original. Adriane realmente foi embora naquele dia para depois rumar para a Europa.
Algumas horas depois...
– Cadú! Tu és um safadinho.
– Por quê? – Pergunta ele assustado. Achou que Adriane teria contado.
– Porque eu pedi para Adri te seduzir. E ela fez. E não me contaste nada.
– Mas, amor por que fizeste isto?
– Para ver até onde tu aguentavas aquele mulherão. Aguentando ela, tu aguentas qualquer tentação.
– Estás satisfeita com o resultado agora?
– Ah! Não fiques bravo. Minhas outras amigas vivem dizendo todos os homens são iguais, inclusive tu. Eu até achava que sim.
– Achavas?
– Claro. A Adri me contou que tentou de tudo e tu nem bola. Eu te amo meu amor.
Naquela noite, Carlos Eduardo dormiu como uma criança e aliviado por não contar, pois a sua namorada não era tão inocente quanto pensava. Somente após a confissão de Luciane, entendeu porque a coisa estava tão descarada e ela nem ligava.
O único problema para ele é que nunca esqueceu o perfume, que naquele dia, exalava do banheiro, e o sutiã sobre a cama. 

16 comentários:

  1. Bom texto, envolvente. Acho incrível a transmissão de sotaque dos seus textos. Sou de são paulo mas sou apaixonada por RS e, particularmente, acho que esse sotaque melhora tanto a estética do texto

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  2. Fiquei pensando se eu passaria nesses testes. rs

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  3. Claudio,
    Gostei demais do seu texto e de falas do personagem.
    Me deixou com raiva, e no final me deixou feliz,
    porque essas mulheres querem se esfregar no Homens dos outros kk.
    Me envolveu de verdade rs.
    Ótimo ótimo como sempre.

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  4. Obrigado Rodrigo.
    Retornos como este me incentivam ainda mais.

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  5. Que tenso...
    Histórias como essa geralmente acabam em tragédias (ainda bem que essa foi diferente. Ufa')
    Fiquei com muita raiva dessa Luciana... e nada me tira da cabeça que a Adriane foi pra Itália fazer "o que não devia".

    Ótimo texto. Me prendeu de verdade.

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    1. Pois é Pedro. Estas brincadeiras podem ser excitantes, mas são muito perigosas. Quem provocou foi a Lu. E quem tomou na cabeça foi ela mesma. A Adriane foi desfilar mesmo. Mas, quem sabe ele encontra outro Carlos Eduardo por lá.
      Valeu!

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  6. Adorei o texto, muito bom!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  7. Muito bom.
    Morri de raiva e morri de rir.

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  8. Eii...
    encontrei o texto atraves do link em outro blog e, como ja conhecia o escritor resolvi prestigiar.
    Encantada com a sutileza do texto. Realmente escreves encantadoramente bem, seja qual for o tema.
    meus sinceros parabéns!

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